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    Ex-deputado chileno vê 'profunda irresponsabilidade' na direita do país

    SYLVIA COLOMBO
    EM BUENOS AIRES

    17/09/2015 02h00

    O cineasta e ex-deputado chileno Marco Enríquez-Ominami, 42, já disputou duas vezes uma corrida presidencial, em 2009 e em 2013.

    Apresenta-se como um dos principais líderes da oposição e pretende voltar a concorrer pelo cargo nas eleições de 2017.

    Leia abaixo trechos da entrevista que concedeu à Folha, em que fala sobre a baixa aprovação ao governo da presidente do país, Michelle Bachelet, e dos representantes da direita chilena, onde, para ele, a maioria é "profundamente irresponsável".

    *

    Folha - Por que caiu tanto a aprovação de Michelle Bachelet?
    Marco Enríquez-Ominami - É uma mescla de fatores. Em parte, temos um problema de modelo de desenvolvimento. Esgotou-se um bom momento de altos
    preços das matérias primas. O cobre chileno chegou a representar 25% do orçamento fiscal, até há pouco tempo. Hoje é apenas 1%.

    Essa desaceleração começou no último governo, de Sebastián Piñera (2010-14). Por outro lado, a presidente abraçou bandeiras corretas, mas as reformas
    que seus ministros desenharam foram improvisadas e mal conduzidas. Portanto há dois fatores, a economia e uma má condução de seus ministros.

    Claudio Reyes -17.nov.2013/AFP
    Marco Enríquez-Ominami pouco antes de votar na eleição presidencial chilena de 2013
    Marco Enríquez-Ominami pouco antes de votar na eleição presidencial chilena de 2013

    Quais as principais críticas que você faz às reformas, trabalhista e educacional, encaminhadas por Bachelet?
    Na educação, creio que o problema educacional derruba popularidade de Bachelet no Chile de fundo é que os ministros se apressaram e propuseram dar acesso gratuito aos chilenos, sem entender que a educação deve ser um direito e que essa meta requeria reformas prévias no sistema de pré-escola e escola. Por outro lado, creio que não poderão cumprir a promessa eleitoral com relação à reforma tributária. Está mal orientada, mal conduzida e não financiada.

    Com respeito à nova legislação trabalhista, a presidente abraça uma bandeira correta, é um esforço importante de Bachelet. Mas não trata, talvez, de um problema essencial, a negociação por área, que é essencial para os trabalhadores chilenos.

    A crise econômica e política no Brasil e a tensão eleitoral na Argentina impactam a política e a economia chilenas? Como?
    Impactam muito. A economia chilena tem como principal sócio para as exportações a China, mas para os capitais privados, o Brasil é um enorme sócio.

    Portanto a desaceleração brasileira é um verdadeiro problema para a economia chilena. Mas nosso debate político não leva em conta que deveríamos nos preocupar com o Brasil. E creio que é necessário debatermos os desafios dos brasileiros. Mas o Chile tem governado com uma máxima diplomática: melhor ser bom aluno que melhor companheiro.

    O Chile está preparado para enfrentar essa crise econômica mundial? As medidas desse governo na área são eficientes?
    Creio que Bachelet, com boas intenções para mudar o Chile, não tratou de forma suficiente o crescimento econômico. Creio que ficou devendo, deveria ter trabalhado para criar um clima de confiança. A economia precisa de um Estado protetor e de uma classe política que promova a mudança protegendo a classe média e a classe mais humilde diante da desaceleração econômica.

    Como se posiciona a oposição para a sucessão de Bachelet? Vê uma disputa mais polarizada? Você será candidato?
    Creio que a maioria dos representantes da direita chilena seja profundamente irresponsável.

    Exagera quando diz que o Chile está afundando. Sim, o país está bloqueado, por razões internas e externas, como as desacelerações chinesa e brasileira, e pelos altos preços da energia. Mas também por motivos estruturais e conjunturais.

    Estruturais por seu modelo de desenvolvimento, rentista e de hiperdependência energética. Conjunturais pelo clima de desconfiança entre forças políticas e agentes econômicos.

    Competirei em 2017 para desbloquear o Chile com ao menos quatro propostas: uma nova Constituição para uma institucionalidade que garanta o direito de propriedade e permita o crescimento para todos. Um plano energético concreto. Um plano de infraestrutura que faça do Chile um país desenvolvido. E a construção de uma sociedade de direitos garantidos.

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