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    Conflito político pode levar Espanha a perder Catalunha

    FERNANDA GODOY
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MADRI

    20/09/2015 02h00

    A Espanha chega no próximo domingo (27) ao ápice de um conflito político que pode levá-la a perder a Catalunha, região responsável por mais de 18% do PIB do país.

    Os catalães irão às urnas numa eleição regional que ganhou caráter plebiscitário quando o presidente da Generalitat (governo catalão), Artur Mas, anunciou a intenção de abrir unilateralmente um processo de independência se obtiver maioria absoluta no Parlamento local.

    Lluis Gene/AFP
    O chefe de governo da Catalunha, Artur Mas, ameaça declarar independência da Espanha unilateralmente
    O chefe de governo da Catalunha, Artur Mas, ameaça declarar independência da Espanha unilateralmente

    Os partidos independentistas alcançariam maioria absoluta no Parlamento catalão com 68 ou 69 das 135 cadeiras, segundo pesquisas.

    O governo do premiê Mariano Rajoy (PP) e o rei Felipe 6º estão engajados em uma intensa batalha diplomática para manter a integridade do território espanhol.

    O porta-voz do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, já afirmou que uma Catalunha independente estaria fora da União Europeia. Em visita a Madri, o premiê britânico, David Cameron, disse que a região seria excluída da UE no ato e iria "para o fim da fila" dos pedidos de adesão ao bloco.

    No plebiscito da Escócia em 2014, que acabou com a vitória da permanência no Reino Unido, o risco de exclusão da UE foi fator decisivo. Em visita à Casa Branca na terça (15), o rei obteve do presidente Barack Obama uma declaração em defesa de uma Espanha "forte e unida".

    Do outro lado da trincheira, o secretário de Assuntos Estrangeiros da Catalunha, Roger Albinyana, também foi aos EUA e apresentou o projeto independentista ao Congresso. Seus esforços agora se concentram na Europa.

    Onde fica Catalunha

    "Nosso argumento pela permanência [na UE] tem a ver com a realpolitik do bloco. Muitos exemplos, como o da Grécia, mostram que as instituições europeias buscam soluções para minimizar os problemas e garantir seus interesses", diz Albinyana.

    Com 7,5 milhões de habitantes, a Catalunha abriga 300 mil cidadãos de outros países da UE e quase 6.000 multinacionais, com destaque para alemãs e francesas.

    Apreensivos, empresários catalães pedem revisão constitucional do sistema de financiamento das comunidades (Estados) espanholas, assim como o PSOE (centro-esquerda), oposição a Rajoy.

    O tema estará presente nas eleições gerais de dezembro, mas o premiê não dá sinais de ceder. Seu governo enviou ao Congresso, onde tem maioria absoluta, uma reforma do Tribunal Constitucional para agilizar a aplicação de punições a dirigentes que desrespeitem sentenças judiciais.

    É a preparação do terreno para endurecer em caso de vitória da coligação "Juntos pelo Sim", que reúne a sigla de Mas, de centro-direita, e a esquerda independentista.

    "A ESPANHA NOS ROUBA"

    Há anos os independentistas tentam fazer um plebiscito sobre a separação, mas as iniciativas são barradas pelo Tribunal Constitucional.

    A secessão teria que ser aprovada com uma reforma da Constituição, com posterior referendo do qual participassem todos os espanhóis.

    O mote dos independentistas é "A Espanha nos rouba". Das 17 comunidades, a Catalunha é a segunda em arrecadação de impostos e só a 10ª a receber de volta da União.

    "O sistema de financiamento dos Estados é ruim, mas a Catalunha não pode se sentir discriminada. Ela está na média de financiamento por habitante", diz Ángel de la Fuente, da Fundação de Estudos de Economia Aplicada.

    "A Catalunha paga mais por ser mais rica, não porque é mais catalã, assim como São Paulo paga mais no Brasil. Não há nada anormal ou suspeito na relação fiscal com a Espanha", diz o economista catalão Sevi Rodríguez Mora.

    Ele estimou uma perda de 9% do PIB catalão com a separação; o restante da Espanha sofreria perda de 2%.

    O problema para os catalães é que 50% de seu comércio se dá com outras regiões da Espanha, e outros 25% das exportações se dirigem a países da UE, onde hoje se beneficiam de condições alfandegárias privilegiadas.

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