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    Na véspera de votação, torcida do Barcelona grita "independência!"

    FERNANDA GODOY
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BARCELONA

    26/09/2015 16h11

    Os tambores que marcam o ritmo da torcida do Barcelona embalaram neste sábado (26), no Camp Nou, o grito de guerra "In-inde-independência!" do movimento soberanista, que busca separar a região do resto da Espanha.

    Eleições plebiscitárias que podem decretar o início do processo de independência da Catalunha se realizam neste domingo (27).

    Josep Lago/AFP
    Torcedores do Barcelona empunham "esteladas", bandeiras pró-independência da Catalunha
    Torcedores do Barcelona empunham "esteladas", bandeiras pró-independência da Catalunha

    O Barcelona, time de futebol que é um dos principais símbolos do orgulho catalão, vivia uma tarde difícil, depois de perder Lionel Messi, que deixou o campo aos 9 min do primeiro tempo, com uma lesão no joelho esquerdo que o manterá afastado dos gramados por cerca de dois meses.

    A partida, contra a modesta equipe do Las Palmas, das ilhas Canárias, que terminaria com vitória de 2 a 1 para os catalães, estava morna. Aos 17 minutos, explodiram os primeiros gritos independentistas.

    O Barcelona já foi multado por uma vaia ao hino nacional espanhol no Camp Nou na final da Copa do Rei, em maio.

    Os dirigentes do clube evitaram se manifestar nesta campanha eleitoral, mas a identificação do clube com o catalanismo é inegável. O segundo uniforme do Barcelona nesta temporada leva nas costas as listas amarelas e vermelhas da bandeira da Catalunha.

    "Durante o franquismo, o Barça era um dos estandartes da Catalunha, um dos sinais de identidade do catalanismo. É muito mais do que apenas um clube de futebol", explica o jornalista Francesc Xavier Monfort, em referência à ditadura comandada pelo general Francisco Franco (1939-1975), que reprimiu movimentos separatistas na Catalunha e em outra regiões da Espanha, como o País Basco.

    FORA DA LIGA?

    As urnas estarão abertas a partir das 9h (14h em Brasília) deste domingo (27). Caso os partidos que defendem a secessão consigam maioria absoluta (68 votos) no Parlamento da Catalunha, o governador Artur Mas, da CDC (Convergência Democrática da Catalunha), ameaça abrir unilateralmente o processo de independência.

    Mas, e se a Catalunha chegar a ser um país independente, o que acontecerá com o todo-poderoso Barça, atual campeão da Liga Espanhola e da Liga dos Campeões da Europa? Jogará as próximas temporadas numa minúscula liga catalã de quatro ou cinco clubes? Ou continuará na Liga Espanhola, uma das mais ricas do mundo, ao lado da Premier League inglesa?

    "Acho que haverá um acerto, passadas as eleições", diz Carlos Sanjuan, aposentado. "O Barça e o Real Madrid se necessitam mutuamente, e há muitos interesses em jogo", completa Teresa Clarisso, também aposentada. O casal foi ao jogo vestindo a camiseta da coligação separatista "Juntos pelo Sim".

    O presidente da Liga Espanhola, Javier Tebas, declarou na última segunda (21), que o Barcelona terá que deixar a entidade em caso de independência da Catalunha. O Conselho Superior de Desportes da Espanha também já se manifestou no sentido da exclusão do Barça da Liga.

    Fernanda Godoy/Folhapress
    Cristina Fernández (à esq.) e Laura Alonso, torcedoras do Barcelona que viajaram de Madri para o jogo
    Cristina Fernández (à esq.) e Laura Alonso, torcedoras do Barcelona que viajaram de Madri para o jogo

    Nada disso, no entanto, parecia impressionar os torcedores que encheram o Camp Nou neste sábado.

    "Não perco um minuto de sono. É tudo questão de dinheiro, e a Liga Espanhola perderia muito. Mas, se não nos quiserem, jogaremos a Liga Francesa ou a da Itália", diz o tradutor Juanjo Rodríguez.

    Na prática, essa saída alternativa não será fácil de obter. A Uefa (entidade europeia de futebol) e as federações nacionais não costumam aceitar clubes estrangeiros. Uma exceção é o Monaco, que participa da competição francesa.

    A aposentada Maria Pilar Arenillas disse não acreditar na saída do Barcelona da Liga Espanhola, que o clube já conquistou 23 vezes.

    "Levo o Barça e a independência no coração. Estão nos ameaçando com muitas coisas, mas nada disso vai acontecer."

    As únicas opiniões temerosas, entre as ouvidas pela Folha, foram as de Laura Costa Alonso e Cristina Fernández, duas torcedoras do Barcelona que vivem em Madri e viajaram especialmente para ver o jogo.

    "Temo que o Barcelona desapareceria. Os jogadores que o time tem hoje ganham muito e teriam que ir para outros clubes, para outras ligas que paguem mais", disse Alonso.

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