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    Atirador do Oregon era recluso e muito próximo da mãe, dizem vizinhos

    LIAM STACK
    DO "THE NEW YORK TIMES"

    02/10/2015 15h06

    Chris Harper Mercer, identificado como o autor do ataque a Umpqua Community College, em Roseburg, Oregon, na quinta (1º), era um jovem retraído que, segundo os vizinhos, usava a mesma roupa todos os dias —coturnos, calças verdes do Exército e uma camiseta branca— e muito próximo de sua mãe, que o protegia ferozmente.

    Vizinhos em Winchester, Oregon, e Torrance, Califórnia, onde Mercer, 26, viveu com a mãe, Laurel Harper, lembram-se de um jovem recluso, aparentemente frágil, de cabeça raspada, usando óculos escuros o tempo todo e sempre inclinado a evitar qualquer interação social.

    Reprodução/My Space
    Fotografia de página no My Space identificada sendo do atirador Chris Harper Mercer, 26
    Fotografia de página no My Space identificada sendo do atirador Chris Harper Mercer, 26

    "Ele parecia sempre ansioso", disse Rosario Lucumi, 51, que apanhava o mesmo ônibus que Mercer a caminho do trabalho, em Torrance. Ela acredita que ele usava o ônibus para ir ao El Camino College. "Ele sempre estava com fones de ouvido, sempre ouvindo música".

    "Ele e a mãe eram realmente muito unidos", disse Lucumi, que calcula que Mercer e a mãe, que dividiam um pequeno apartamento de um dormitório em Torrance, fossem moradores da cidade há menos de um ano. "Eles estavam sempre juntos".

    Bryan Clay, 18, diz ter um dia perguntado a Mercer por que ele usava "um uniforme militar" todos os dias.

    "Ele não quis falar sobre aquilo", e mudou de assunto, disse Clay. "Ele não disse coisa alguma sobre si mesmo."

    Derrick McClendon, 42, outro antigo vizinho, disse que Mercer era tão tímido e desajeitado que ocasionalmente ele perguntava ao rapaz se havia algo de errado.

    "Eu perguntava 'cara, você está bem?'", diz McClendon. "Ele respondia com um oi, mas é só. Era um sujeito realmente tímido".

    INTERNET

    Mercer parece ter buscado companheirismo na internet. Uma imagem no site Myspace o mostra com um fuzil na mão. O jovem também expressava profundo interesse pelo Exército Republicano Irlandês (IRA).

    A página trazia vídeos do conflito na Irlanda do Norte com a trilha sonora de "The Men Behind the Wire", canção dos republicanos irlandeses, bem como diversas fotos de homens com capuzes negros. Outra imagem mostrava a primeira página do "An Phoblacht", jornal do partido Sinn Fein, no passado a ala política do IRA.

    Também foi identificada uma imagem de Mercer em um perfil de site de encontros há muito abandonado, registrado em Los Angeles. No perfil, ele se descreve como "introvertido" e como antipático à "religião organizada".

    No mundo offline, a mãe de Mercer buscava protegê-lo contra toda espécie de incômodos locais, dizem antigos vizinhos dos dois em Torrance, de crianças ruidosas a cães latindo e insetos. Houve uma ocasião, contam, em que ela bateu de porta em porta no edifício recolhendo assinaturas para uma petição ao senhorio para que contratasse um serviço de extermínio de baratas, afirmando que as baratas incomodavam seu filho.

    "Ela dizia que seu filho estava enfrentando problemas mentais, e que as baratas realmente o irritavam", disse Julia Winstead, 55. "Dizia que os dois iam se hospedar em um motel. Até aquele momento, eu nem sabia que ela tinha um filho".

    Rosario Espinoza, 33, foi vizinha dos Mercer e se mudou para o apartamento que os dois deixaram quando se transferiram a Torrance dois anos atrás. Ela disse que os dois "ficavam na deles", mas que de vez em quando a mãe de Mercer se queixava de que os filhos pequenos de Espinoza estavam fazendo muito barulho ao brincar e incomodavam seu filho.

    "Meus filhos são crianças normais, e brincam, mas ela realmente se zangava", disse Espinoza. "Era durante o dia. Mas creio que o barulho realmente irritava o filho".

    Outros vizinhos dizem que ela os confrontava sobre os latidos de seus cachorros, quando eles voltavam do trabalho. "Ela esperava que chegassem e batia em suas portas", diz Kim Hermenegildo, 48.

    MUDANÇA

    Espinoza diz que ouviu falar que a mãe de Mercer conseguiu emprego no Oregon, o que levou a família a se mudar para o norte.

    Mercer e a mãe dividiam um apartamento no condomínio Winchester, um edifício de paredes castanhas que estava isolado por fitas de bloqueio policiais, na noite de quinta-feira (1º), e vigiado por guardas que impediam a entrada de repórteres.

    Bronce Hart, vizinha que disse morar no apartamento embaixo do apartamento dos Mercer, descreve um jovem mais assertivo do que relatam seus antigos vizinhos na Califórnia. Longe de evitar interações sociais, ele gritava com ela frequentemente por fumar na sacada de seu apartamento.

    "Ele gritava conosco, comigo e com meu marido", disse Hart, que vive no prédio com o marido e pai. "Não era um cara amistoso. Não queria ter coisa alguma a ver com qualquer pessoa".

    Hart e o pai, Eli Loomas, disseram que as autoridades chegaram ao condomínio e começaram a fazer perguntas sobre Mercer na quinta. Uma mulher, possivelmente a mãe dele, também apareceu, eles afirmam, e parecia perturbada.

    Outro vizinho, um homem de seus 50 anos que preferiu não revelar seu nome, disse que Mercer vivia com a mãe no segundo andar do edifício de três pavimentos. Ele disse que achava que os dois fossem universitários.

    "Chris era um bom garoto, na verdade", disse, acrescentando que ao longo dos anos só havia tido conversas curtas com ele. "Sempre foi educado comigo".

    Quando perguntado se alguma vez havia visto o vizinho portando armas de fogo, ele hesitou: "Prefiro não dizer", respondeu.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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