• Mundo

    Saturday, 18-May-2024 08:42:00 -03

    Deputado da Jordânia relata adesão do filho ao Estado Islâmico

    HAMZA AL-SOUD
    DA ASSOCIATED PRESS

    05/10/2015 11h00

    Um integrante do Parlamento da Jordânia disse que soube por um meio de comunicação ligado ao Estado Islâmico que seu filho realizou um ataque suicida no Iraque, três meses depois de abandonar a faculdade de medicina e se unir ao grupo extremista.

    O caso evidencia o contínuo apelo popular das ideias do EI na região, inclusive na muito pró-ocidental Jordânia, país que é parceiro da campanha militar liderada pelos EUA contra o grupo. Os militantes do EI dominaram amplas partes da Síria e do Iraque, ambos vizinhos da Jordânia.

    "Meu filho tinha tudo, família, dinheiro e o estudo da medicina, mas foi controlado por pensamentos terríveis", disse o legislador, Mazen Dalaeen, à Associated Press. "Ele foi iludido e enganado pelo Estado Islâmico. O Estado Islâmico está em todas as casas através da TV e da internet."

    No domingo, a família fez por última vez o luto tradicional de três dias para Mohammed Dalaeen, de 23 anos. A família é da cidade de Ai, no sul da Jordânia, berço também de um piloto de caça jordaniano capturado pelo EI no final do ano passado e queimado vivo em uma gaiola pelos militantes.

    O legislador disse na tenda de luto que seu filho tinha mudado rapidamente em um curto período e que no início do ano havia participado de uma marcha em solidariedade ao piloto.

    Dalaeen afirmou que soube da morte do seu filho na semana passada, através de um meio de comunicação vinculado ao EI e de um canal de TV na província iraquiana de Anbar. Em um desses lugares, Dabiq, a informação foi que atacantes suicidas dirigiram três carros-bomba a um quartel do Exército iraquiano na periferia de Ramadi, a capital de Anbar, no norte.

    Dalaeen disse que reconheceu o filho em uma das fotos dos supostos atacantes suicidas, postada nos sites do EI, identificado sob o nome de guerra "Abu Baraa, o jordaniano".

    ISOLAMENTO

    O legislador disse que a última vez em que viu Mohammed foi na Ucrânia, em junho, e que ficou com ele e sua esposa ucraniana, convertida ao islã, por uma semana. Mohammed estava no terceiro ano de medicina.

    "Percebi que seu comportamento havia mudado completamente", disse Dalaeen em entrevista concedida por telefone no sábado. "Ele havia se isolado e tinha criado uma longa barba."

    Dalaeen afirmou haver dito ao filho, em uma discussão acalorada, que cortaria os laços com ele se não abandonasse seu apoio aos extremistas. No dia seguinte, Mohammed partiu para a Turquia sem contar ao pai.

    O deputado tentou localizá-lo e chegou a ir à fronteira da Turquia com a Síria, mas não conseguiu encontrá-lo.

    Mohammed depois deu notícias pelo Facebook e disse ao pai que estava na Síria e havia se juntado ao EI. "Ele era muito cruel comigo, como se não fosse meu filho", disse Dalaeen. "Disse que eu era um infiel e que não temia a Deus e que legislo contra o islã no Parlamento. Meus esforços para trazê-lo de volta não funcionaram."

    Em 20 de agosto, Mohammed informou seu pai através do Facebook que aquele seria seu último contato. Escreveu que havia concluído seus estudos islâmicos e entraria na batalha como voluntário para as "operações de martírio", disse Dalaeen.

    Estima-se que 2.000 jordanianos estejam lutando nas fileiras do EI e nas de seus militantes rivais da rede Al Qaeda, a Frente al-Nusra, baseada na Síria, disse Hassan Abu Haniyeh, especialista em grupos extremistas. Ele afirmou que cerca de 350 jordanianos foram mortos em combate nos dois países.

    Essa cifra inclui Omran al-Abadi, filho do membro do Parlamento jordaniano Mohammed al-Abadi.

    Omran, médico que trabalhou no Egito, aderiu à Frente al-Nusra na Síria e foi morto em janeiro em um confronto com o Exército sírio. No domingo, o legislador disse que não realizou a cerimônia de luto tradicional porque não queria avalizar as ações do filho.

    "Quem luta nas fileiras desses extremistas não deve ser chorado, nem mesmo por quem é mais próximo a eles", disse sobre a morte do filho.

    Tradução de DENISE MOTA

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024