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    Análise

    Escalada militar na Síria coloca EUA e Rússia em rota de colisão

    MÁRIO CHIMANOVITCH
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    06/10/2015 12h28

    Poderá o Oriente Médio vir a se transformar no palco de um confronto militar entre superpotências? Analistas mais ortodoxos temem esse desdobramento e apontam que, principalmente no caso da sangrenta guerra da Síria, a conflagração local já está opondo forças que se rivalizam e disputam a hegemonia regional.

    A Rússia, que iniciou no último dia 30 ataques aéreos na Síria, conta com o apoio das milícias do Hizbullah e a participação de tropas regulares do Irã. Todo esse aparato objetiva garantir sustentação ao regime do ditador sírio, Bashar al-Assad, ameaçado pelas forças do Estado Islâmico e pelos grupos de combatentes de oposição financiados pelos Estados Unidos, que lidera uma espécie de liga integrada pelos ingleses, franceses e turcos, entre outros governos.

    No primeiro caso, o que se tem de fato é uma coalizão formal integrada pela Rússia, Irã e Hizbullah, algo que, concordam observadores militares israelenses, tem tudo para incendiar não só a Síria, mas toda a região.

    Israel, que sabe não poder contar com o apoio de Barack Obama, entende-se prudentemente com os russos, a ponto de manter uma coordenação afim de evitar choques desnecessários durante suas operações no espaço aéreo sírio.

    Os observadores jogam sobre Obama a responsabilidade de haver conduzido mal a política norte-americana em relação à crise síria, criando um vácuo que possibilita, como está ocorrendo, a intervenção militar russa.

    A situação evolui a um parâmetro potencialmente explosivo quando Washington acusa Moscou de estar bombardeando não só as posições do Estado Islâmico, mas também as bases e forças dos grupos de oposição a Assad bancados com os recursos norte-americanos.

    ROTA DE COLISÃO

    Se os russos tratam de garantir a sobrevivência do regime de Assad, o Irã, por seu lado, busca consolidar sua hegemonia regional. Já os EUA estão determinados a derrubar Assad —em suma, concorda-se que Obama está em franca rota de colisão com a Rússia no Oriente Médio.

    A presença militar russa na Síria já vem sendo incrementada desde 2012. Moscou tem equipado as Forças Armadas de Assad com armamentos sofisticados, sobretudo mísseis antiaéreos, que tornam vulneráveis as operações da Força Aérea norte-americana naquele espaço.

    Não há dúvida —concordam os analistas israelenses— que Bashar al-Assad é um ditador sanguinário quando se trata de combater os seus oponentes, mas ele é preferível à selvageria desmedida do Estado Islâmico. Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel, detesta Assad, mas reconhece que o Estado Islâmico é uma ameaça geral e é em razão disso, justamente, que negocia com o presidente russo, Vladimir Putin, e aprova o aniquilamento dos fanáticos sunitas do EI.

    MÁRIO CHIMANOVITCH é jornalista e ex-correspondente de jornais brasileiros no Oriente Médio.

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