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    Oriente Médio vive temor de nova intifada

    DANIELA KRESCH
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE JERUSALÉM

    07/10/2015 02h00

    No último sábado (3), o estudante palestino Muhannad Halabi, 19, anunciou em uma rede social: "A terceira intifada está aqui!". Horas após a alusão a uma nova revolta popular em larga escala contra Israel, ele mataria a facadas e tiros dois israelenses e seria morto por policiais.

    A quantidade de ataques a israelenses por palestinos tem crescido em Jerusalém e na Cisjordânia nas últimas três semanas. Há também mais protestos, muitos com pedras e coquetéis molotov.

    Parte dos observadores vê na escalada uma nova intifada, dez anos após o fim da segunda (2000-05), que deixou quase mil mortos do lado israelense e 3.200 do palestino segundo a ONG israelense B'Tselem (na primeira, de 1987 a 1993, 160 israelenses e mil palestinos morreram).

    Para os governos, porém, é cedo para evocar a palavra, que remete a uma rebelião popular generalizada com apoio de líderes palestinos.

    O dominó de incidentes mais recente começou no dia 1º deste mês, quando palestinos mataram dois israelenses em um carro na frente de seus quatro filhos, na Cisjordânia. Dois dias depois, Halabi cometeu os dois assassinatos e outro palestino esfaqueou um israelense em Jerusalém, sendo morto em seguida.

    Desde então, em manifestações na Cisjordânia, dois palestinos morreram (inclusive um menino de 13 anos ) e cerca de 600 foram feridos, segundo a agência palestina Maan. Nesta terça, protestos de árabes-israelenses ocorreram em Jaffa, subúrbio de Tel Aviv, no primeiro distúrbio fora dos territórios palestinos.

    Intifadas: levantes populares dos palestinos contra ocupação israelense

    ESPLANADA

    O detonador da tensão, elevada havia meses, veio no último dia 13, quando jovens palestinos entraram em confronto com policiais israelenses na Cidade Velha de Jerusalém nos distúrbios mais violentos da última década.

    Os policiais invadiram a Esplanada das Mesquitas, onde fica a mesquita de al-Aqsa, terceiro local mais sagrados para o islã, enquanto palestinos jogavam pedras e coquetéis molotov contra as tropas de dentro do templo.

    Os palestinos afirmam que defendiam a esplanada de um suposto plano israelense para violar o status quo no local, onde, desde 1967, só muçulmanos podem rezar.

    Nos últimos meses, aumentou o número de judeus que ensaiam rezas coletivas e reclamam da falta de liberdade de culto no local -para eles, é o monte do Templo, onde ficavam os templos bíblicos de Salomão e Herodes.

    Há quem veja, porém, interesses políticos nos distúrbios. "Alguns têm agenda oculta. Acham que incitar crianças a jogar pedras e matar israelenses é o caminho. Mas Israel deveria evitar que judeus rezassem na esplanada", diz o líder comunitário palestino Ramadan Dabash.

    Violência nos territórios palestinos

    O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, anunciou medidas como a destruição rápida das casas de terroristas, ação agressiva contra manifestantes e o veto temporário à entrada de palestinos na Cidade Velha (suspenso nesta terça, 6).

    O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, que na semana passada anunciou o abandono dos tratados de paz com Israel, tentou acalmar os ânimos: "Todas as instruções a nossas agências de segurança, facções e juventude têm sido de que não queremos uma escalada", afirmou.

    O governo israelense diz se tratar apenas de uma onda de violência. "Nas últimas semanas, há uma crescente turbulência, mas certamente não uma intifada", declarou à Folha o porta-voz da polícia israelense, Micky Rosenfeld.

    Formadores de opinião contestam. "É a terceira intifada", escreveu o editorialista Nahum Barnea no jornal "Yedioth Aharonoth", para quem a violência era esperada após anos sem perspectiva de acordo de paz.

    "Se não usarmos o nome, estaremos deixando que políticos e militares se esquivem da responsabilidade."

    Já para Ido Zelkovitz, pesquisador da Universidade de Haifa e do Instituto Mitvim, é cedo para usar o termo. "As condições estão se formando, mas há tempo para voltar atrás. Se começarem ataques organizados, aí sim poderemos falar de nova intifada."

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