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    Novo embaixador prepara reaproximação de Brasil e Bolívia

    ISABEL FLECK
    DE SÃO PAULO

    07/10/2015 02h00

    A Embaixada do Brasil em La Paz se prepara para uma reaproximação com o governo boliviano, após dois anos sem embaixador no país.

    Raymundo Magno, cujo nome foi aprovado pelo Senado em setembro, assumirá o posto até a primeira quinzena de novembro, e sua tarefa não será das mais fáceis.

    O episódio da fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina, trazido de carro ao Brasil em agosto de 2013 pelo então encarregado de negócios da representação, Eduardo Saboia, azedou mais as relações com o governo de Evo Morales –já estremecidas, em grande parte, pelo asilo concedido ao opositor na representação de La Paz.

    Desde então, o fato de o Brasil não ter embaixador na Bolívia só aumentou a distância entre os vizinhos. La Paz também não indicou nenhum novo nome para a embaixada em Brasília desde a saída de Jerjes Justiniano, em fevereiro deste ano.

    Pedro Ladeira - 17.jul.2015/Folhapress
    Os presidentes Evo Morales e Dilma Rousseff durante a cúpula do Mercosul, em Brasília, em julho
    Os presidentes Evo Morales e Dilma Rousseff durante a cúpula do Mercosul, em Brasília, em julho

    O comércio entre os dois países viu uma queda de 26% em 2015, em comparação com o período entre janeiro e setembro de 2014. Entre 2013 e 2014, a redução fora de 2,5%.

    Nenhum novo projeto foi desenvolvido nos últimos dois anos. As negociações para a renovação do contrato de exportação do gás boliviano para o Brasil, que vence em 2019, ainda não começaram.

    Um relatório apresentado ao Senado em julho pelo atual encarregado de negócios da embaixada, Rui Vasconcellos, diz que nenhuma empresa brasileira participou das 51 concorrências abertas para estrangeiros na Bolívia desde janeiro de 2014.

    O texto expõe dificuldades com a falta de representação. "A embaixada ressentiu-se, em determinados momentos-chave, da falta de interlocução em alto nível que só a experiência de um ministro de primeira classe mandatado para tal pode desenvolver", diz o documento, sobre a ausência de um embaixador.

    O Itamaraty chegou a enviar altos diplomatas para servirem como encarregado de negócios, o mais alto posto na ausência de um embaixador. Mas a constante mudança de interlocutores –foram quatro enviados em dois anos– também causou incômodo ao governo boliviano, segundo a Folha apurou.

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    DEMORA

    O nome de Magno, que foi assessor especial de Dilma Rousseff na Casa Civil em 2006, havia sido indicado por ela em 2013, logo após a remoção do então embaixador Marcel Biato, na sequência da fuga de Pinto Molina.

    No Senado brasileiro, porém, opositores como Aloysio Nunes (PSDB-SP), presidente da CRE (Comissão de Relações Exteriores), seguravam a convocação da sabatina de Magno enquanto a situação de Pinto Molina e de Saboia não era resolvida.

    Em maio deste ano, o Itamaraty divulgou a punição para Saboia –20 dias de suspensão–, e o diplomata foi convidado a trabalhar com Aloysio na CRE. Mas foi só em agosto que o Conare (Comitê Nacional para os Refugiados) concedeu status de refugiado ao senador boliviano, abrindo finalmente espaço para a aprovação de Magno.

    Agora, a expectativa é que Magno trabalhe para tornar a embaixada novamente relevante. Uma das apostas é um projeto antigo, retomado em julho com a assinatura de um memorando de entendimento, da construção de uma hidrelétrica binacional no lado boliviano do rio Madeira.

    O projeto está em fase de estudo, mas, segundo a Folha apurou, já atrai empreiteiras brasileiras. Odebrecht, Camargo Corrêa e OAS ainda mantêm escritórios no país, mas com atividade reduzida.

    A OAS teve contrato de US$ 415 milhões (cerca de R$ 1,6 bilhão, em valores atuais) cancelado em 2013 para a construção de uma estrada após protestos indígenas.

    Por se tratar de um projeto dos dois governos, porém, a hidrelétrica se tornaria uma opção mais segura.

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