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    Obama pede desculpas à Médicos Sem Fronteiras por bombardeio a hospital

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    DE SÃO PAULO
    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    07/10/2015 15h30

    O presidente dos EUA, Barack Obama, pediu desculpas à organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) nesta quarta (7) pelo ataque aéreo que matou 22 pessoas, no sábado (3), em um hospital operado pelo grupo em Kunduz, no Afeganistão.

    A presidente internacional da entidade, Joanne Liu, contudo, afirmou que o pedido de desculpas não será suficiente, pois se trata de um crime de guerra, e a MSF espera que o governo americano consinta com uma investigação independente por uma comissão internacional.

    Entre os mortos do ataque americano ao hospital estavam 12 integrantes da MSF.

    "O pedido de desculpas não muda nada, o que ocorreu é muito grave para relevar com um simples pedido de desculpas" disse à Folha Susana de Deos, diretora-geral do MSF no Brasil.

    Segundo ela, não adianta ter investigações apenas da Otan (aliança militar ocidental), do Pentágono e do Afeganistão, pois elas não serão imparciais.

    "É necessário que a Comissão Internacional Humanitária para a Apuração dos Fatos (CIHAF) conduza a investigação para determinar o que aconteceu em Kunduz."

    A comissão é o único órgão que lida com violações do direito internacional humanitário e foi criada em 1991 com o Protocolo Adicional das Convenções de Genebra. Mas ela nunca foi utilizada.

    No telefonema para a presidente da MSF, Obama não disse se dará consentimento à investigação da CIHAF.

    Para que seja conduzida a investigação, é necessário que um dos 76 países signatários da CIHAF lidere a sua abertura. Depois é preciso ter consentimento dos EUA e do Afeganistão, os alvos da investigação.

    Onde fica Kunduz

    BRASIL

    O Brasil é um dos países signatários e poderia apoiar a investigação, segundo a organização. "Nós enviamos uma carta ao governo brasileiro e aos outros 75 signatários pedindo apoio", diz Susana.

    Obama também ligou para o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, para prestar condolências.

    A proteção de hospitais, um princípio do direito humanitário internacional, só não se aplica nos casos em que o local é usado como base para lançamento de ataques.

    A MSF nega que houvesse combatentes escondidos no hospital. E, mesmo que houvesse, é preciso respeitar a regra da proporção –não há justificativa para um ataque a um hospital cheio de gente para atingir alguns atiradores.

    "Independentemente de ter combatentes lá dentro ou não –e nossos médicos disseram que não tinha– havia 105 pacientes e 80 profissionais de saúde no hospital, é inadmissível um ataque aéreo", diz Susana.

    Segundo a presidente da MSF, "em Kunduz, nossos pacientes morreram queimados em seus leitos; os médicos, enfermeiros e outros profissionais de MSF foram mortos enquanto trabalhavam."

    Assista

    A MSF disse ainda que o Pentágono não avisou que ia bombardear o hospital, uma violação do código de conduta do próprio Pentágono.

    EUA e Afeganistão vêm mudando suas versões para o ocorrido. Primeiro, os EUA disseram que reagiram a ataques contra forças americanas e caracterizaram as mortes como "dano colateral".

    Depois, afirmaram que atenderam a um pedido de apoio do Exército afegão, que disse estar sob ataque de militantes do Taleban no hospital.

    Só na terça (6) o governo americano afirmou que houve um erro e pediu desculpas.

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