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    Estratégia de Putin intriga analistas americanos

    THAIS BILENKY
    DE NOVA YORK

    08/10/2015 02h00

    Pesquisa do instituto russo Levada mostra que um dos pilares da atual aprovação de 84% de Vladimir Putin é o que a população vê como "habilidade de fortalecer a capacidade militar e reformar as Forças Armadas" do país.

    O levantamento é de agosto, antes de os ataques russos à Síria começarem, há uma semana. Apesar da disparada em 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia, desde junho último a popularidade de Putin caiu cinco pontos.

    Nesse período, a economia global se deteriorou. A Rússia sente a queda do preço do petróleo e as sanções impostas por potências ocidentais após a guerra da Ucrânia.

    As semanas que precederam a entrada do país na guerra síria evidenciaram essa desaceleração, com estimativa de retração do PIB de 3,8% no ano, segundo o FMI, e inflação no patamar de 15%.

    Na Assembleia-Geral da ONU, no fim de setembro, Putin usou o palanque para enfrentar o americano Barack Obama, que é contra a sua aliança com o ditador sírio, Bashar al-Assad.

    Os dois se reuniram pela primeira vez em dois anos e, horas depois, a Rússia iniciou ataques aéreos à Síria, dizendo ter terroristas como alvo –declaração que os EUA contestam.

    A atitude do russo incomoda analistas inclinados à coalizão liderada pelos EUA.

    Para Michael O'Hanlon,diretor de pesquisa em política internacional de um dos centros de estudos mais respeitados dos EUA, o instituto Brookings, a estratégia russa trará retaliação.

    "O mundo sunita ficará ainda mais irritado, e o problema vai piorar", afirma, aludindo ao fato de o ditador Assad, beneficiado pelos russos, ser alauíta (o alauísmo é uma minoria xiita, outro ramo do islã).

    O pesquisador diz que a ação de Putin é motivada não pela necessidade de combater o terrorismo, mas por interesse em "poder, prestígio e influência na cena global".

    Steven Pifer, ex-embaixador dos EUA na Ucrânia, defende que seu país não mude a estratégia nem arrefeça os ataques contra o EI na Síria. Mas que busque, sim, estreitar a comunicação com Moscou para evitar acidentes.

    "Putin quer se fortalecer mundialmente, e Assad é um de seus principais aliados; seu enfraquecimento enfraquece a Rússia também. Os ataques não visam combater o Estado Islâmico, mas os opositores de Assad", afirma.

    Militar que atuou no Departamento de Defesa americano, Kevin Ryan afirma que as motivações de Putin são sinceras. "O conflito entre a população islâmica e russos ortodoxos é histórico", disse ele ao jornal da Universidade Harvard, onde é pesquisador.

    Segundo Ryan, os EUA precisam estreitar relações não só com Moscou, mas com países do Oriente Médio, como contraponto à ação russa.

    "Não queremos dividir com o Iraque informações que serão divididas com a Rússia", afirmou. "A menos que seja exatamente essa a intenção."

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