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    Relembre as grandes controvérsias do Nobel da Paz

    DE SÃO PAULO
    DA ASSOCIATED PRESS

    09/10/2015 07h05 - Atualizado às 09h37

    Se queres o Nobel da Paz, prepara-te para a guerra. São raras as vezes em que o prêmio, idealizado pelo industrial sueco Alfred Nobel e entregue por uma comissão norueguesa, não causa alguma discórdia.

    A China, por exemplo, não hesita em repudiar a escolha quando ela recai sobre um dissidente ou crítico ao regime, como dalai-lama e Liu Xiaobo. Até mesmo pessoas que já receberam o prêmio expressam descontentamento, como quando três ex-laureados acusaram em carta aberta a União Europeia, agraciada em 2012, de "claramente não ser uma campeã da paz".

    Muitas vezes, a reputação dos agraciados sofre danos antes ou depois de seus discursos em Oslo.

    O ganhador do prêmio de 2015, o Quarteto de Diálogo Nacional da Tunísia, foi anunciado nesta sexta (9). Confira, a seguir, algumas das decisões mais contenciosas já tomadas na história da premiação:

    *

    2009 - BARACK OBAMA

    Barack Obama havia assumido a Presidência dos EUA há menos de um ano quando a Comissão Norueguesa do Nobel decidiu agraciá-lo. Críticos argumentaram que ele não havia tido tempo de tomar decisões importantes e que seu legado estava longe de sedimentado.

    A decisão foi recebida por muitos como piada —críticos afirmaram, com humor, que o prêmio havia sido concedido a Obama só pelo fato de ele não ser George W. Bush, seu predecessor e artífice da intervenção no Iraque, além de profundamente impopular na Europa.

    O ex-secretário da comissão, Geir Lundestad, admitiu depois, em livro, que ninguém do grupo havia previsto a reação negativa ao prêmio, mesmo entre apoiadores de Obama.

    John McConnico - 10.dez.2009/Reuters
    ORG XMIT: 152201_1.tif O presidente norte-americano, Barck Obama (à dir.), recebe de Thorbjorn Jagland, o prêmio Nobel da Paz, em Oslo (Noruega). *** U.S. President and Nobel Peace Prize laureate Barack Obama holds up his medal and diploma as he poses with Nobel Committee Chairman Thorbjorn Jagland at the Nobel Peace Prize ceremony at City Hall in Oslo December 10, 2009. The United States must uphold moral standards when waging wars that are necessary and justified, Obama said on Thursday as he accepted the Nobel Prize for Peace. REUTERS/John McConnico/Pool (NORWAY POLITICS)
    Barack Obama (à dir.), recebe de o Prêmio Nobel da Paz de Thorbjorn Jagland, em Oslo

    1994 - YASSER ARAFAT, YITZHAK RABIN E SHIMON PERES

    Esperava-se que a láurea concedida ao líder palestino Yasser Arafat e aos israelenses Yitzhak Rabin e Shimon Peres impulsionasse os esforços de paz no Oriente Médio —o que não ocorreu. As negociações entraram em colapso e Rabin foi assassinado no ano seguinte por um judeu ultranacionalista.

    A escolha foi polêmica já de saída, sendo que um dos membros da comissão renunciou por considerar errado entregar o prêmio a Arafat, que ele considerava um terrorista. Muitos defenderam o palestino, argumentando que a organização da qual fazia parte Nelson Mandela, o premiado no ano anterior, não havia renunciado à luta armada contra o Apartheid na África do Sul.

    Já um outro membro da comissão afirmou, após uma ofensiva israelense, que, se pudesse, revogaria o Nobel dado a Peres.

    1973 - HENRY KISSINGER

    O então secretário de Estado dos EUA, juntamente com o líder norte-vietnamita Le Duc Tho, foram agraciados pelos seus esforços em estabelecer um cessar-fogo na Guerra do Vietnã, o qual só seria estabelecido mais de um ano depois entre as partes.

    Le Duc Tho recusou o prêmio. Já Kissinger pediu para que o embaixador dos EUA na Noruega o recebesse em seu nome. Diversos grupos que se opunham à guerra —e culpavam Kissinger pela extensão do engajamento americano no campo de batalha— questionaram o Nobel. Dois membros da comissão renunciaram em protesto à decisão final.

    A discórdia só aumentou com o surgimento de indícios da influência de Kissinger nas ditaduras militares da América Latina nos anos 1970.

    David Hume Kennerly - 29.abr.1975/Reuters
    Guerra do Vietnã: Secretary of State Henry Kissinger gets the latest information on the situation in South Vietnam on the phone in Brent Scowcroft's office April 29 1975. April 30 1995 marks the 20th anniversary of the fall of Saigon to the communists and the end of the Vietnam war. cm/David Hume Kennerly/Courtesy Gerald R.Ford Library REUTERS*** NÃO UTILIZAR SEM ANTES CHECAR CRÉDITO E LEGENDA***
    Henry Kissinger conversa por telefone sobre situação em Saigon um dia antes da queda da cidade

    1945 - CORDELL HULL

    O político norte-americano (1871-1955) foi reconhecido por Oslo pelo seu papel na criação da ONU. No entanto, por receber o prêmio enquanto a extensão do Holocausto ainda era apurada, críticos recordaram seu papel ativo ao despachar de volta à Alemanha um navio com mais de 900 judeus que buscavam asilo nos EUA, em 1939.

    Hull, então secretário de Estado de Franklin D. Roosevelt, fazia parte da bancada democrata sulista que ameaçou retirar o apoio ao presidente nas eleições caso ele autorizasse o navio, o SS St. Louis, atracar na costa americana.

    Rossevelt cedeu ao conselho de Hull e não permitiu o desembarque. Mais de um quarto dos passageiros morreram devido à perseguição nazista antes do fim da Segunda Guerra.

    1935 - CARL VON OSSIETZKY

    Atualmente, seria impensável questionar o mérito de um escritor judeu alemão pacifista (1889-1938) que havia sido detido pelos nazistas ao denunciar o processo secreto de remilitarização de seu país. Na época, contudo, a Comissão do Nobel gerou controvérsia por interferir em assuntos internos da Alemanha.

    A família real norueguesa não compareceu à cerimônia, provavelmente devido à pressão do Parlamento. Adolf Hitler irritou-se profundamente e não apenas recusou a permissão a Ossietzky para receber o prêmio como proibiu qualquer alemão de receber o Nobel durante o Terceiro Reich.

    NUNCA - MOHANDAS GANDHI

    Assim como a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas nunca concedeu um Oscar a Alfred Hitchcock, o militante pacifista mais famoso do século, mahatma Gandhi, jamais recebeu um Nobel da Paz —apesar de ter sido nomeado nada menos que cinco vezes.

    Gandhi morreu assassinado em 1948, aos 78 anos. O Nobel tem como norma nunca ser concedido postumamente.

    A própria Comissão Norueguesa do Nobel admitiu a falha mais de uma vez, como em 1989, durante a cerimônia de entrega da láurea ao dalai-lama. Em 2006 o então secretário da comissão, Geir Lundestad, também reconheceu: "Gandhi poderia ficar sem o Nobel da Paz; a questão é se a Comissão do Nobel pode ficar sem Gandhi".

    Jagadeesh NV - 2.out.2015/Efe
    DEL12 BANGALORE (INDIA) 02/10/2015.- Niños indios de entre 4 y 13 años vestidos como Mahatma Gandhi congregados para batir el récord del mundo para celebrar el aniversario de su nacimiento en Bhopal (India) hoy, 2 de octubre de 2015. Gandhi, conocido como Bapu o el Padre de la Nación, nació el 2 de octubre de 1869 en Porbunder Gujrat. EFE/JAGADEESH NV ORG XMIT: DEL12
    Crianças indianas se fantasiam de Gandhi na comemoração do aniversário do líder pacifista

    Prêmio Nobel 2015

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