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    Em crise, Rússia usa bombardeios na Síria como propaganda estatal

    FERNANDO CANZIAN
    ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

    08/10/2015 17h54

    Em meio a uma crise econômica e à forte campanha positiva patrocinada pela mídia estatal, o governo da Rússia diz que ainda não há prazo para pôr fim aos ataques a posições do Estado Islâmico e de "demais terroristas" na Síria.

    Em entrevista a Folha, Serguei Ryabkov, vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, disse que seu país vem usando bases aéreas e navais do ditador Bashar al-Assad na Síria para os ataques com aviões e misseis no país.

    Fernando Canzian/Folhapress
    Camisetas com a foto do presidente Vladimir Putin em motivos militares estão à venda em Moscou
    Camisetas com a foto do presidente Vladimir Putin em motivos militares estão à venda em Moscou

    "Estamos em contato direto com Damasco e temos melhores condições do que a coalizão liderada pelos EUA de combater as ameaças terroristas e de eliminar núcleos desconhecidos por eles", disse Ryabkov.

    Ele afirma que a Rússia não tem nenhuma intenção de enviar tropas terrestres à Síria ou de patrocinar voluntários contra o Estado Islâmico.

    Ryabkov diz que "o grande erro dos EUA foi declarar que o tempo de Assad à frente da Síria acabou". Sobre a permanência do ditador, afirma: "Nada é definitivo. Vamos deixar que os sírios decidam".

    Os meios de comunicação estatais russos estão permanentemente exaltando a ação militar do pais na TV (especialmente no popular canal 1) e nas rádios.

    Imagens de aviões decolando, de bombas caindo e mísseis sendo lançados de navios são frequentes. Nas ruas, ambulantes já vendem camisetas do presidente Vladimir Putin vestido como piloto de caças.

    Fernando Canzian/Folhapress
    Estampas militares com o presidente russo tomam as ruas de Moscou depois dos bombardeios na Síria
    Estampas militares com o presidente russo tomam as ruas de Moscou depois dos bombardeios na Síria

    CRISE FINANCEIRA

    No cotidiano, porém, a Rússia atravessa uma grave crise econômica provocada pela queda dos preços de petróleo e gás no mercado internacional.

    Em um ano e meio, o valor do rublo caiu pela metade frente ao dólar (de US$ 1/36 rublos para 65). Segundo o FMI, o PIB do pais deve encolher 3,8% neste ano e a inflação atingirá 15,8%.

    Editoria de arte/Folhapress

    Algumas das informações veiculadas pela mídia estatal afirmam que de cada 100 bombas lançadas pela coalizão liderada pelos EUA, 97 caem sobre alvos do governo sírio. E apenas três sobre posições do Estado Islâmico.

    "Tanto o Estado Islâmico quanto o terrorismo estão se expandindo para fora da Síria, e isso esta deixando a Rússia muito vulnerável", afirma Pavel Andreev, diretor-adjunto da Rossiya Segodnya, agencia de noticias fundada pelo governo russo em dezembro de 2013.

    Ele diz que a Rússia também esta "mostrando seus músculos" com os ataques à Síria, já que tem "objetivos estratégicos na região". "Isso mostra que não agimos necessariamente apenas com diplomacia, mas que temos poder".

    Andreev diz que a Rússia recebeu um "pedido pessoal" de Assad para os ataques em seu pais e que a CIA (Central de Inteligência Americana) treinou muitos dos que viraram terroristas na Síria, alem de membros do Estado Islâmico.

    Para o professor brasileiro radicado há 20 anos em Moscou Vicente Barrientos, que integra instituto ligado a Academia de Economia do governo russo, o clima na Rússia tem sido de "demonstrações de festa e orgulho" pelas operações na Síria.

    "Nos últimos dois anos vivemos diariamente coisa parecida por causa da Ucrânia. Agora chegou a vez da Síria. Chega a dar cansaço", diz Barrientos.

    FERNANDO CANZIAN viajou à Rússia a convite do Fórum de Representantes de Mídia dos Brics.

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