• Mundo

    Saturday, 18-May-2024 20:43:51 -03

    Brasil abrigou negociações entre guerrilha ELN e Colômbia, mas recuou

    SAMY ADGHIRNI
    ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

    09/10/2015 17h36 - Atualizado às 21h09

    O governo brasileiro abrigou negociações secretas entre o governo colombiano e o grupo guerrilheiro Exército de Liberação Nacional (ELN) no ano passado, mas recuou devido ao acirramento da campanha presidencial.

    A informação foi revelada à Folha por altas fontes ligadas ao processo de paz entre o governo colombiano e grupos guerrilheiros, que travaram guerra traumática a partir dos anos 1990.

    Bogotá negocia há três anos com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o que já resultou num pré-acordo histórico cujo desfecho está previsto para o primeiro semestre de 2016. Conversas com o ELN, porém, ainda não estão formalizadas.

    Segundo as fontes, a Colômbia aceitou em 2013 mediação brasileira para contato preliminar com o ELN. O Equador também participava.

    Em março de 2014, houve um primeiro encontro secreto em Manaus entre guerrilheiros e negociadores colombianos. Um segundo encontro, em junho daquele ano, se estendeu por semanas.

    Durante a Copa do Mundo no Brasil, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, agradeceu publicamente ao Brasil "por seu papel e ajuda", mas não estava clara a natureza desse apoio.

    O Mundial, porém, também marcou o momento em que o Brasil começou a se distanciar do processo.

    "De repente, ninguém mais no governo brasileiro atendia nossos telefonemas. Deveríamos ter marcado vários outros encontros no Brasil, mas acabamos obrigados a fazer as coisas no Equador", disse uma fonte nas negociações.

    Segundo essa fonte, o Brasil avisou, meses depois, de que encerrava sua participação no diálogo por recomendação de assessores da presidente Dilma. Eles temiam que o tema tivesse alto custo político no meio da agressiva corrida presidencial.

    "Essa atitude do Brasil afetou o andamento do processo", disse a fonte.

    Acompanhando a presidente Dilma Rousseff nesta sexta (9) em Bogotá, Marco Aurélio Garcia, assessor especial do Planalto, confirmou que o Brasil recebeu encontros de delegações, mas negou que o governo tenha recuado. "Conversamos até o ponto em que nossa ajuda não era mais necessária", disse à Folha.

    MORTOS NA GUERRA

    O ELN foi fundado por guerrilheiros marxistas nos anos 1960, com o propósito de combater as injustiças sociais. O grupo tornou-se um dos protagonistas da guerra interna na Colômbia, que deixou mais de 230 mil mortos.

    Com a desmobilização dos paramilitares, milícias antiguerrilha, a partir de 2003, e o enfraquecimento de grupos como Farc e ELN, o conflito vem perdendo intensidade.

    Nesta sexta, a presidente Dilma elogiou Juan Manuel Santos pela "corajosa decisão de implementar um processo de paz com as Farc".

    "O êxito da negociação transcende as fronteiras da Colômbia e da região. É um exemplo para o mundo, onde há impotência para estabelecer acordos de paz", disse Dilma, após reunião com o colega colombiano no palácio presidencial de Bogotá.

    Os dois presidentes anunciaram que, em caso de acordo com as Farc, a delegação colombiana na Olimpíada de 2016 no Rio chegará com uma "tocha olímpica da paz".

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024