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    Candidatos à Presidência na Argentina defendem reavivar diplomacia

    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES
    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES

    11/10/2015 02h45

    A eleição presidencial na Argentina marcará uma mudança na política externa do país vizinho, que nos últimos anos optou pelo isolamento sob o governo kirchnerista.

    Os candidatos que concorrem no próximo dia 25 -tanto o nome da situação, Daniel Scioli, quanto os opositores Mauricio Macri (Mudemos) e Sergio Massa (Unidos para uma Nova Argentina)- prometem reabrir o país ao mundo e recuperar a relação com o principal sócio, o Brasil.

    Enrique Marcarian - 17.dez.2014/Reuters
    Os líderes do Mercosul em dezembro de 2014: Evo, Mujica, Dilma, Cristina, Cartes e Maduro; bloco esfriou sob Kirchner
    Líderes do Mercosul em dez.2014: Evo, Mujica, Dilma, Cristina, Cartes e Maduro; bloco esfriou sob Kirchner

    No segundo mandato de Cristina Kirchner (2011-15) e sob Dilma Rousseff, o Mercosul esfriou. Nos últimos quatro anos (de 2011 a 2014), o intercâmbio comercial entre os dois principais países do bloco encolheu em US$ 11 bilhões, e cada um tratou de buscar aliados no exterior.

    A Argentina aliou-se à China e à Rússia, que trouxeram investimentos e ajuda financeira ao país, afastado do mercado internacional de crédito. Já Dilma, prometendo reativar o crescimento econômico e as exportações, escolheu Washington -e não Buenos Aires, como de costume- para seu primeiro destino internacional deste segundo mandato.

    Ela também apostou em estreitar laços com outros países da América Latina em melhor situação econômica, como o México.

    UNIÃO EUROPEIA

    Ante o estancamento, setores empresariais brasileiros fizeram campanha para o Brasil acelerar as negociações com a União Europeia, deixando para trás o vizinho, ainda resistente ao tema.

    "Quando eu era vice-chanceler, me reunia com meu par brasileiro a cada 60 dias. Isso não existe mais", contou à Folha o ex-vice-chanceler argentino Roberto García Moritán, a serviço da diplomacia do vizinho no mandato de Néstor Kirchner (2003-07).

    "Com Cristina, começou a cair a qualidade da relação. Em 2011, piorou, com a escassez de dólares na Argentina. Depois, foi se degradando cada vez mais", afirmou.

    Em 2013, a situação se agravou quando a mineradora Vale desistiu de megainvestimento para a exploração de potássio em Mendoza.

    O caso virou problema diplomático e, desde então, cada encontro entre Dilma e Cristina foi marcado por uma frieza que contrasta muito com a efusividade da relação de Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner (1950-2010).

    'BOLIVARIANOS'

    Na campanha eleitoral, o favorito Daniel Scioli encontrou-se com lideranças latino-americanas alinhadas a Cristina. Recebeu os ex-presidentes Lula e José Mujica (Uruguai), além do boliviano Evo Morales. Na próxima terça (13), encontra-se com Dilma Rousseff em Brasília.

    O apoio do PT ao candidato de Cristina irritou a oposição, que critica a diplomacia regional do kirchnerismo. "Essa aproximação não é verdadeira. Muita retórica, nenhuma substância. Precisamos de um ciclo novo, de mais ação", diz Diego Guelar, assessor de política externa de Macri.

    Intercâmbio comercial entre Brasil e Argentina - EM US$ MILHÕES

    "Cuidado para não supervalorizar as coisas: a política externa do Brasil não é Lula, assim como a do Uruguai não é Mujica", minimizou Sebastián Velesquen, diplomata a serviço de Sergio Massa.

    Para Velesquen, reaproximar-se do Brasil é algo necessário para a Argentina resgatar a credibilidade externa.

    "Se seus vizinhos não falam bem de você, como os outros podem acreditar? Recompor a confiança internacional começa por restabelecer a credibilidade com o Brasil."

    Tanto Massa quanto Macri assumiram posições críticas ao governo da Venezuela, o que pode gerar ruído com o Brasil, que optou por se manter em silêncio sobre a prisão do opositor Leopoldo López.

    Macri disse que, se eleito, pressionará o Mercosul a se posicionar contra Nicolás Maduro. "Vamos exigir a liberação de Leopoldo López", afirmou o candidato. "Maduro tem que respeitar as liberdades e o papel dos opositores."

    Intercâmbio comercial entre Brasil e Argentina - Em US$ bilhões

    Velesquen também criticou o governo da Venezuela e chama de "aberração" o caso de López. Scioli, por sua vez, mantém silêncio sobre o caso, assumindo a mesma posição de Cristina e do Brasil.

    Assessores do governista dizem que, caso ele seja eleito, 50% da política externa do país passará pelo Brasil.

    "Scioli fez vínculos com o empresariado paulista e está afinado com o governo brasileiro. Ainda não há medidas específicas definidas, mas há vontade política. O Brasil é uma prioridade, e Scioli irá fortalecer essa relação", disse o coordenador da campanha de Scioli, Jorge Telerman.

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