Milhares de estudantes chilenos voltaram às ruas da capital do país, Santiago, nesta quinta-feira (15) para protestar contra a proposta de reforma educacional da presidente Michelle Bachelet.
A marcha –que, segundo seus organizadores, reuniu cerca de 60 mil pessoas– transcorreu em tranquilidade até o final, quando, de acordo com o diário chileno "La Tercera", houve confrontos entre manifestantes encapuzados e forças policiais. A polícia usou gás lacrimogêneo para controlar o tumulto.
No mês de junho, protesto semelhante havia reunido, de acordo com as estimativas de seus líderes, 120 mil pessoas.
Jorge Villegas/Xinhua | ||
Manifestantes fogem de bombas de gás lacrimogêneo atiradas pela polícia durante protesto em Santiago |
A reforma da educação no Chile era uma das principais promessas de campanha da centro-esquerdista Bachelet, eleita em 2013 para seu segundo mandato (não consecutivo) na Presidência do país.
O projeto apresentado ao Congresso, porém, desagradou aos líderes estudantis, que já haviam promovido grandes manifestações no governo anterior, do centro-direitista Sebastián Piñera (2010-2014).
"Pedimos todo o ano uma reforma educacional transformadora", criticou nesta quinta-feira a presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile, Valentina Saavedra.
Como produto das reformas privatizantes da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), que reduziram à metade o aporte público à educação e estimularam o aporte de recursos privados, apenas 30% dos colegiais chilenos estudam hoje de graça nos ensinos fundamental e médio.
No entanto, a universidade é paga por todos, obrigando as famílias a contrair dívidas milionárias para custear os estudos.
ACUSAÇÕES DE IMPROVISO
Em seu primeiro ano de governo (2014), Bachelet conseguiu aprovar a Lei de Inclusão, que começará a vigorar em 2016.
Ela acaba com a seleção de estudantes, a obtenção de lucro em escolas que recebam subvenção estatal e o pagamento adicional feito pelos pais de crianças que frequentam esses colégios –hoje equivalente a 60% da matrícula.
No ensino superior, a presidente antecipou para o ano que vem a implantação da gratuidade para estudantes sem recursos, o que prometera fazer até o final de seu mandato, em 2018.
A medida gerou acusações de improviso por parte de estudantes e reitores de universidades –a poucos meses de colocar a gratuidade em prática, o governo ainda não definiu o montante, as instituições, os alunos beneficiados e os anos de estudo que o benefício vai cobrir.
"Há muita incerteza em tudo. Estou estudando e não sei se no próximo ano vou pagar ou não", disse à agência de notícias AFP Marcela Gómez, estudante de nutrição que protestava ao lado de seus colegas nesta quinta.