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    Canadá pode ter governo liberal após nove anos nas mãos de conservadores

    CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
    ESPECIAL PARA A FOLHA, EM VANCOUVER

    18/10/2015 02h00

    As eleições canadenses desta segunda-feira (19) podem pôr fim a nove anos de governo do ultraconservador Stephen Harper e trazer de volta ao noticiário mundial o sobrenome Trudeau, de Justin, do Partido Liberal.

    As mais recentes pesquisas de intenção de voto apontam a liderança da agremiação chefiada pelo filho de Pierre Elliot Trudeau, que governou de 1968 a 1984 (com um breve intervalo de nove meses em 1979-80), e foi o mais importante líder do Canadá na segunda metade do século 20.

    Com 37% na pesquisa mais recente do instituto Nanos, o mais respeitado do país, os liberais estão 6,3 pontos percentuais à frente dos conservadores liderados por Harper e têm 14,4 pontos sobre os Novos Democratas de Tom Mulcair.

    No entanto, como o sistema eleitoral canadense é distrital e não prevê segundo turno quando um candidato não alcança 50% dos votos, o número absoluto de eleitores de cada partido nem sempre se reflete na composição do Legislativo.

    Chris Wattie/Reuters
    Justin Trudeau durante comício em Calgary (Alberta)
    Justin Trudeau durante comício em Calgary (Alberta)

    Na eleição de 2011, os conservadores ficaram com 54% das cadeiras da Câmara, embora tenham obtido apenas 39% do total dos votos.

    De todo modo, a maioria dos analistas políticos prevê que, se confirmadas as pesquisas, Trudeau poderá formar um governo de minoria. Ele receberia o apoio de Mulcair, que tem como principal objetivo a derrota de Harper.

    Além das pesquisas, há indícios mais concretos de que a oposição possa vencer o pleito. Desde 2008, o Canadá tem permitido ao eleitor votar antes da data da eleição.

    Os números dos que já votaram neste ano são bem superiores aos dos pleitos anteriores. Isso indica abstenção menor, o que se supõe que favoreça Trudeau e Mulcair. Em 2011, a abstenção foi de 37,6%, a terceira maior da história.

    CRÍTICAS AO PREMIÊ

    Harper, 56, comandou uma administração inicialmente popular por ter reduzido drasticamente impostos em todos os níveis (o que significou também cortes em muitos serviços públicos).

    Mas sofreu críticas por tomar decisões que contrariam a tradição do Canadá como nação avançada em políticas sociais, tolerante em relação ao multiculturalismo, alinhada com causas progressistas.

    Ele advoga sentenças mínimas de prisão para condenados, leis menos drásticas de controle de armas, mais intenso combate ao uso de drogas e não se interessa por medidas para atenuar efeitos de mudanças climáticas.

    Sua situação piorou muito desde que os preços do petróleo, um dos principais produtos do Canadá, despencaram. Isso fez com que a economia do país, que havia passado bem pela crise mundial de 2008, se desorganizasse.

    Trudeau, 43, tem crescido nas pesquisas desde que adotou um discurso mais à esquerda, que propõe governar com orçamentos deficitários por três anos para aumentar investimentos públicos em infraestrutura, transportes e habitação, além de ampliar programas sociais.

    Ele diz que vai elevar tributos dos mais ricos, para ajudar a pagar pelos gastos que quer fazer, e cortar impostos da classe média e dos mais pobres. A política segue muito a linha que fez de seu pai um dos mais populares políticos da história do Canadá.

    Mulcair, 60, cujo partido, o PND, é socialista, optou por se direcionar ao centro para cativar o eleitorado de Harper, mas sua decisão parece não estar sendo bem-sucedida. Ele promete orçamentos equilibrados desde o início de sua gestão.

    Em Vancouver, cidade do oeste canadense que tem uma das mais avançadas culturas políticas do país, Harper é claramente minoritário.

    Canadá

    No entanto, o voto local e de toda a província da Colúmbia Britânica, onde fica a cidade, é importante num pleito apertado como este. Por isso, o primeiro-ministro passou parte da semana passada em campanha na região.

    Trudeau deve vencer na maioria dos distritos, segundo as pesquisas. Porém o PND teve grande avanço na votação regional de 2013, e Mulcair está investindo pesadamente na área.

    Na última segunda (12), Dia de Ação de Graças no Canadá, ele participou de diversos eventos em Vancouver.

    Um dos argumentos que Mulcair tem usado é o de que o PND já é o segundo maior partido na Câmara (tem 95 cadeiras, contra 36 dos liberais e 159 dos conservadores).

    Portanto precisa ganhar menos distritos do que os liberais para ultrapassar os conservadores.

    A tese do voto útil é forte no sistema distrital, mas em Vancouver não é apreciada –Trudeau é favorito ali, e seu maior adversário, o Partido Verde, tem só duas cadeiras na Câmara e nenhuma chance de vencer a eleição geral.

    CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA, livre-docente e doutor em comunicação pela USP, é editor da revista "Política Externa".

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