• Mundo

    Tuesday, 07-May-2024 14:13:27 -03

    Maduro pede abertura de processo contra maior empresário da Venezuela

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    19/10/2015 03h36

    O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu na noite deste domingo a abertura de um processo contra Lorenzo Mendoza, maior empresário privado do país, por ter discutido um possível plano de resgate do FMI (Fundo Monetário Internacional) em conversa telefônica com um economista venezuelano radicado nos EUA.

    Na gravação, divulgada na quarta-feira pela TV estatal e aparentemente obtida por meio de um grampo ilegal, Mendoza concorda com sugestão do economista Ricardo Haussman, professor em Harvard e ex-ministro do Planejamento, de que a Venezuela precisaria da ajuda do FMI após o término do atual governo chavista.

    Os dois homens concordam que o valor do pacote para reverter o grave cenário de recessão, desabastecimento generalizado e inflação de três dígitos deveria se situar entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões.
    Falando à TV estatal, Maduro atacou Mendoza, que, ao contrário de Haussman, mora na Venezuela.

    "Olhe o que este aristocrata cabeludo disse: vender ao país ao FMI. O que ele está pensando?", questionou Maduro, numa referência ao conhecido visual de Mendoza, 50, dono da Polar, maior empresa de alimentos e bebidas da Venezuela.

    "É um crime falar em nome da pátrio, um crime sério contemplado pela lei. Ele deve ser processado. Espero que os órgãos da Justiça reajam. Que conversa é essa de falar com o FMI?", insistiu Maduro.

    Mendoza não respondeu ao presidente. Mas o empresário havia reagido à divulgação do áudio, que foi ao ar no programa de TV semanal do presidente da Assembleia Nacional, o todo-poderoso Diosdado Cabello.

    Em mensagem divulgada na imprensa, Mendoza não negou a veracidade da gravação, mas ressaltou que mantem frequentes conversas com economistas para refletir sobre "soluções" e "reformas" diante da "difícil situação do país".

    A divulgação do áudio foi amplamente vista como uma tentativa de o governo se mostrar como alvo de conspirações golpistas por parte do empresariado às vésperas da eleição parlamentar de 6 de dezembro.

    Na retórica do governo venezuelano, o FMI é um órgão submetido aos interesses supostamente inescrupulosos do capitalismo ocidental.

    O chavismo argumenta a seu favor que um dos episódios mais sangrentos da história Venezuela, a revolta popular do Caracazo (1989), foi uma reação a medidas liberais impostas pelo FMI. A repressão policial no Caracazo deixou mais de 3.000 mortos. Esse trauma ajudou a pavimentar o caminho para a ascensão política de Hugo Chávez, um oficial do Exército com ideologia marxista que lançou um fracasso golpe de Estado em 1992 e acabou eleito à Presidência seis anos depois.

    Chávez governou a Venezuela até 2013, quando morreu de câncer. Maduro elegeu-se em seguida.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024