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    Crise econômica faz espanhóis se mudarem para vilas abandonadas

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A CASTILTIERRA

    20/10/2015 02h00

    A crise econômica que deixou multidões de desempregados na Espanha nesta década tem servido de antídoto para dezenas de vilarejos que envelheceram com a migração para núcleos urbanos.

    No passado, esse fluxo esvaziou cerca de 3.000 povoados no país. Hoje, vilarejos à beira do colapso recebem pessoas em busca de um recomeço a um custo menor.

    Embora o deserto demográfico preocupe a Espanha há algum tempo, a atenção a projetos sociais que tentam solucionar a equação é nova.

    A ONG Abraza la Tierra, por exemplo, conecta regiões despovoadas a potenciais povoadores, como Rafael Sánchez, 30, e Ana Romalde, 26, que receberam a reportagem da Folha em Castiltierra, 140 km ao norte de Madri.

    Há um ano, o casal estava desempregado em Sevilha, preso a um gasto mensal de R$ 2.500. Foram à internet, digitaram "povoados em busca de habitantes" e acharam a Abraza la Tierra, que lhes redirecionou para o vilarejo.

    Hoje pagam R$ 630 de aluguel por uma casa de dois andares –na prática, o valor inclui todo o vilarejo, com outras 20 edificações, vazias na maior parte do ano. "Só há javalis e coelhos", diz Sánchez.

    Assim como outras regiões espanholas, Castiltierra foi vítima de um grave êxodo rural em meados do século 20. Alguns de seus moradores voltam no verão ou aos finais de semana, mas a praxe é que Sánchez e a mulher caminhem sozinhos pelas ruelas.

    "Na cidade estávamos acostumados com construções, ambulâncias. Aqui acordamos com o som da escopeta dos caçadores", diz Sánchez, que trabalha como bombeiro nos arredores. Romalde fica em casa e cuida da filha recém-nascida, Leonor.

    Para fazer compras ou ir ao médico, a família dirige 15 minutos até o povoado mais próximo. Mas a creche da região busca Leonor em casa.

    EMPREENDEDORES

    A Abraza la Tierra instalou 1.255 pessoas em vilas despovoadas entre 2007 e 2014. Sem fim lucrativo e com trabalho voluntário, a organização deixou de receber financiamento público em 2013.

    "Repovoar um vilarejo devolve a vida aos moradores idosos", afirma Eva González, que dirige o programa. "Se há mais habitantes, há também mais médicos, escolas. Há mais serviços."
    A ONG busca pessoas de perfil empreendedor, que possam trabalhar à distância, e descarta centenas de candidatos. Muitas vezes os trabalho são temporários e é arriscado mudar-se por eles.

    Mas o repovoamento também se dá de forma espontânea. O jardineiro Nicolás Prieto, 49, mudou-se há 15 anos para a vila de Bujalcayado, após passar por ela de bicicleta. Hoje o povoado tem seis moradores, mas renasce entre as pedras desmoronadas. Uma casa ali vale R$ 200 mil.

    A procura de casas antigas e povoados para comprar por estrangeiros e espanhóis também fomenta imobiliárias especializadas no setor.

    "Há menos impostos, e eles podem cultivar a terra", diz Elvira Fafian, da imobiliária Aldeias Abandonadas. Um pequeno povoado custa no mínimo R$ 250 mil, sem incluir gastos de reforma.

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