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    EUA e Iraque unem forças contra Estado Islâmico em várias frentes

    MICHAEL R. GORDON
    ERIC SCHMITT
    DO "THE NEW YORK TIMES"

    21/10/2015 07h00

    Na luta para recuperar a iniciativa depois de um longo impasse na batalha contra os militantes do Estado Islâmico, o governo iraquiano e a coalizão liderada pelos Estados Unidos estão, pela primeira vez em meses, colocando pressão militar sobre os guerrilheiros em várias frentes, de acordo com autoridades.

    Com a ajuda do aumento do poder aéreo dos EUA, as forças iraquianas estão nos arredores de Ramadi, fazendo pressão com o intuito de cercar a capital da província de Al Anbar, que os militantes capturaram em maio, e deixá-la sem reabastecimento e reforços.

    Ao norte de Bagdá, as forças militares iraquianas e as milícias xiitas apoiadas pelo Irã estão tentando expandir sua base na refinaria de petróleo de Baiji depois de conseguir recuperá-la do Estado Islâmico na sexta-feira.

    E, no nordeste da Síria, os militares norte-americanos disseram, na semana passada, que haviam lançado por paraquedas 50 toneladas de munição para os combatentes árabes sírios.

    A intenção era a de que esses combatentes se unissem a um conjunto maior de forças curdas no avanço em direção a Raqqa, a capital do Estado Islâmico na Síria, e talvez forçassem alguns combatentes do Estado Islâmico a sair do Iraque para defender a cidade.

    "Estamos fazendo o que sempre se tenta fazer para o inimigo, que é forçá-lo a lutar em mais de uma direção ao mesmo tempo", disse o tenente-general Sean B. MacFarland, que no mês passado se tornou o comandante norte-americano dessa operação no Iraque e na Síria.

    Ele já havia servido no Iraque como comandante de brigada, quando trabalhou com as tribos sunitas na província de Al Anbar.

    A campanha que MacFarland herdou não segue o cronograma previsto inicialmente. O Comando Central dos EUA, que supervisiona as operações norte-americanas no Oriente Médio, originalmente esperava que Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, já estivesse nas mãos do governo iraquiano.

    Em vez disso, a coalizão liderada pelos EUA se encontrou tentando dar início a uma contraofensiva contra o Estado Islâmico em uma região em que russos e iranianos estão se afirmando, na vizinha Síria, e as milícias xiitas continuam a ser uma poderosa força política no Iraque.

    Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro do Iraque, Haider al-Abadi, tem lutado para estabelecer sua autoridade.

    Mesmo com os iraquianos na ofensiva, eles enfrentam grandes desafios. Ramadi, por exemplo, é defendida por 600 ou mais militantes que fortificaram suas posições e ainda são capazes de movimentar combatentes de forma sorrateira na cidade no rio Eufrates.

    E, mesmo que os iraquianos sejam bem-sucedidos em expulsar o Estado Islâmico de muitas das suas fortalezas, capturar seus militantes será um desafio.

    Enquanto as tribos iraquianas podem ajudar a proteger alguns vilarejos e cidades, a polícia provincial do Iraque também deve desempenhar um papel importante. Mas o treinamento dessas forças policiais está ainda em suas fases iniciais: até agora, uma pequena equipe dos carabinieri italianos treinou apenas 246 policiais, dos quais cerca de metade são policiais federais, de acordo com autoridades.

    Ahkad Al-Rubaye/AFP
    Curdos comemoram retomada de represa em Mossul, em agosto de 2014
    Curdos comemoram retomada de represa em Mossul, em agosto de 2014

    Mas, depois de um longo período de calma, em parte imposto por um calor abrasador e pelos feriados muçulmanos, os iraquianos e seus parceiros estão tentando colocar os militantes na defensiva e forçá-los a sair de alguns bastiões mantidos por longo tempo, para territórios onde possam ser alvos mais fáceis de ataques aéreos, de acordo com autoridades iraquianas.

    O objetivo, disse em uma entrevista o ministro da Defesa do Iraque, Khaled al-Obeidi, é "ocupar o inimigo em diferentes eixos".

    Segundo descrição de autoridades dos EUA e de seus aliados, a estratégia global é menos um produto de sincronização programada do que o aproveitamento das oportunidades que surgiram nas últimas semanas.

    O primeiro passo para acelerar a ofensiva em Ramadi foi dado no final de agosto, quando Abadi nomeou um novo chefe para o Comando de Operações de Al Anbar, o major-general Ismail Mahalawi, que ele esperava ser mais agressivo do que o seu antecessor, ferido em um ataque de morteiro.

    Cerca de 10 mil soldados iraquianos vêm tentando isolar a cidade e avançam a partir do norte, do oeste, do sul e do sudeste.

    Um dos seus principais objetivos é uma ponte que atravessa o Eufrates a noroeste da cidade, que as forças iraquianas querem controlar a fim de impedir o Estado Islâmico de usar o rio para trazer reforços.

    Pela primeira vez, caças F-16 iraquianos com pilotos treinados no deserto do Arizona se uniram a outros aviões de guerra aliados na realização de ataques aéreos para apoiar as tropas terrestres iraquianas, de acordo com autoridades.

    Enquanto soldados iraquianos avançaram rumo a Ramadi, cerca de 5.000 soldados e policiais nacionais do Iraque, ao lado de cerca de 10 mil combatentes da milícia xiita, estiveram montando uma ofensiva paralela dentro e ao redor da refinaria de Baiji.

    Os militantes ainda estão sendo perseguidos na cidade vizinha de Baiji, onde alguns bairros foram atingidos por artilharia e ataques aéreos, e muitos fios elétricos foram cortados.

    A própria refinaria, uma instalação que mudou de mãos várias vezes durante o combate no decorrer do ano passado, foi tão danificada que provavelmente levará anos até que possa estar recuperada para sua plena utilização, dizem as autoridades.

    Ahmad Al-Rubaye - 25.mai.2015/AFP
    Xiitas iraquianos apoiam o Exército contra o Estado Islâmico perto da refinaria de Baiji, em maio
    Xiitas iraquianos apoiam o Exército contra o Estado Islâmico perto da refinaria de Baiji, em maio

    Mas ainda é considerado um lugar importante, e sua localização é estrategicamente vital: o controle da área e de seus arredores garantiria uma plataforma potencial para qualquer ofensiva iraquiana eventual contra o Estado Islâmico na província de Nínive, ao norte, onde os militantes controlam a maior cidade, Mossul.

    A ofensiva de Baiji é crítica para Abadi, que está enfrentando pressões políticas internas dentro de sua coalizão xiita para mostrar progressos e lida com milícias que têm opinião própria.

    Autoridades dizem que permitir que as milícias desempenhem um papel importante nessa luta ameniza algumas dessas tensões e também afasta a maioria das milícias da ofensiva em Ramadi, onde uma grande presença das forças irregulares pode se tornar algo hostil para a população de maioria sunita ou levar a abusos de ordem sectária.

    A dependência do governo iraquiano das milícias também é, em parte, um reflexo de como os esforços para treinar e equipar as unidades do Exército, que autoridades norte-americanas acreditam que devem conduzir a principal ofensiva contra o Estado Islâmico, ficaram aquém das metas estabelecidas no ano passado.

    O objetivo era treinar 12 brigadas, mas o plano atual, revisto, é de oito, segundo as autoridades: seis brigadas do Exército do Iraque e duas curdas.

    Ainda assim, a participação das milícias é um tema sensível para os Estados Unidos, que deixaram claro que irá conduzir ataques aéreos apenas para apoiar as forças do governo iraquiano.

    Por insistência dos norte-americanos, os serviços de contraterrorismo do Iraque, a Polícia Federal e o Exército do Iraque coordenam a operação de Baiji. Mas os combatentes da milícia xiita claramente saíram beneficiados das semanas de bombardeio dos EUA.

    "Olha, estamos tentando fazer isso corretamente", disse um alto oficial dos EUA em Washington, querendo dizer que o apoio está sendo dado apenas a forças iraquianas, e não às milícias treinadas pelos iranianos, "mas no Iraque isso nunca é tão claro".

    Tradução de DENISE MOTA

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