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    Aspirante a primeira-dama assume papel-chave na campanha de Scioli

    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES

    21/10/2015 02h00

    A agenda de compromissos é frenética também para ela. Karina Rabolini, 48, percorreu nos últimos dois meses as 24 províncias do país em campanha, pedindo votos para o marido, Daniel Scioli, candidato da situação na eleição presidencial argentina. Nesta terça (20), ela desembarcou em Buenos Aires após uma visita a La Pampa, e na quinta participará de um comício nos arredores da capital.

    Ex-modelo e dona de uma marca de óculos e produtos de beleza que leva seu nome, Karina colocou o pé na estrada com seus sapatos de grife e vestidos bem cortados. Na Argentina é assim, as esposas jogam um papel indispensável na política. Sobretudo as mulheres de peronistas, como Scioli.

    "Desde Evita Perón as mulheres dos líderes têm um papel muito importante", afirma o analista Patrício Giusto, da consultoria Diagnóstico Político. "Karina não nasceu na política, mas está aprendendo rapidamente e hoje tem um papel protagônico na campanha do marido, é o segundo nome de Scioli".

    De vestido caramelo, soltinho no corpo, botas até os joelhos e coque no cabelo loiro ao estilo Jackie Kennedy - penteado que adotou durante a campanha –a ex-modelo contou à Folha que essa é a primeira campanha eleitoral da qual participa.

    Vinda uma família de empresários do interior da província de Santa Fé, a eventual primeira-dama da Argentina diz que a única proximidade com a política é ser "a mulher de Daniel [Scioli]", com quem se casou há 24 anos, se separou e voltou no início dos anos 2000.

    "Não me lembro de em casa meus pais falarem de política mais do que seria o normal", diz. "Estou muito mais perto agora, desde que Daniel se tornou governador."

    Há oito anos, tempo em que Scioli comanda a província de Buenos Aires, Karina preside a fundação do banco estatal Província, que fornece bolsas de estudo, organiza ações sociais e incentiva projetos comunitários. Em 2012, geria um orçamento de 8 milhões de pesos (cerca de R$ 2 milhões), segundo a imprensa local.

    Nas províncias, Karina se reúne com lideranças locais, leva mensagens de Scioli, faz discursos públicos e também tira fotos com os fãs-eleitores, que a reconhecem das capas de revistas de moda e comportamento que costuma frequentar.

    Nos últimos dias, virou hit nas redes sociais uma reportagem em que ela mostra como faz o penteado eleitoral. No início da campanha, em um programa de grande audiência no país, mostrou que é exímia dançarina de tango. Sabe tocar piano, fala várias línguas. Há três meses foi a Londres representar o marido em um evento onde estava Bill Clinton.

    Martin Acosta - 9.ago.2015/Reuters
    Daniel Scioli vota ao lado da mulher, Karina Rabolini nas primárias de agosto
    Daniel Scioli vota ao lado da mulher, Karina Rabolini nas primárias de agosto

    "Karina tem uma vantagem sobre outras mulheres da política argentina, como Cristina Kirchner e Chiche Duhalde [mulher do ex-presidente Eduardo Duhalde]. Ela pode se adaptar a diferentes públicos, conversa com empresários, políticos e também com os mais pobres. Tem carisma e potencial para tentar uma carreira política própria".

    A ex-modelo desconversa quando a pergunta se volta para suas aspirações.

    "Não farei nenhuma carreira política. Mas sou consciente de que qualquer coisa que eu faça ou fale é tomado como parte da campanha. Além de me perguntarem sobre os temas da fundação, agora me perguntam também sobre o que penso da política", diz ela.

    Analistas vêm no atual protagonismo de Karina uma janela para que ela tente um posto eletivo nas eleições legislativas de 2017, caso Scioli seja presidente. Se o cenário se confirmar, ela poderia replicar duelo ocorrido em 2005, quando a então primeira-dama Cristina Kirchner enfrentou Chiche Duhalde. A primeira levou a melhor e deu força para Néstor Kirchner declarar independência do antecessor.

    "2017? Que eleição é? Legislativa? Ah, não. Vou acompanhar Daniel como sua mulher, não vou ser política", desdenha Karina.

    Em entrevistas, Scioli costuma dizer que Karina é sua principal conselheira, o que ela desmente com certa humildade.

    "Não participo das decisões políticas, opino como qualquer um. Não tomo nenhuma decisão, nem sobre a gravata. Confio nas decisões de Daniel, embora nem sempre as compartilhe".

    A ex-modelo gosta mesmo é de falar do contato que tem com as pessoas simples, na caravana que fez pelo país. Diz que aprendeu muito sobre a Argentina e que se sentiria compelida a seguir atuando na área social caso chegue à residência oficial de Olivos.

    Foi pela assistência aos mais pobres que Eva Duarte projetou-se para o mundo e se transformou no mito Eva Perón. As semelhanças ficariam apenas nos vestidos e no estilo, sugere ela. Tampouco se compara com Cristina Kirchner, outra primeira-dama argentina que transcendeu o marido.

    "Sinto uma profunda admiração por elas. Outro dia, em Ushuaia, ouvi o seguinte: 'somos gente pobre e temos esperança em vocês'. Imagina a responsabilidade que se sente quando se escuta isso?", diz. "[Como primeira-dama] você está em um lugar em que realmente pode ajudar. Não pode desperdiçar essa oportunidade".

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