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    Para deputada filha de desaparecidos, Cristina Kirchner é 'machista'

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES

    22/10/2015 02h00

    "Ter uma presidente mulher não quer dizer avanço nas políticas de gênero. Cristina é machista, exerce o poder de um ponto de vista masculino", afirmou à Folha a deputada Victoria Donda, 38, em entrevista realizada na segunda-feira (19), no Congresso argentino.

    Filha de montoneros (guerrilheiros de esquerda) desaparecidos na ditadura (1976-83), Donda nasceu na temida Esma (Escola de Mecânica da Armada) e foi entregue para adoção a um dos agentes que participaram do destino fatal de seus pais biológicos.

    Aos 26 anos, por meio de análise genética, descobriu sua verdadeira identidade e participou do processo que levou seu pai adotivo à cadeia, onde está até hoje.

    Waldmann/Clarin
    A deputada Victoria Donda, da Frente Ampla Progressista, dá entrevista ao jornal "Clarín" em setembro
    A deputada Victoria Donda, da Frente Ampla Progressista, dá entrevista ao jornal "Clarín" em setembro

    Apesar da vida marcada pelos efeitos da repressão militar que fez mais de 20 mil vítimas na Argentina, Donda tem um comportamento diferente da maioria dos chamados "netos recuperados".

    Enquanto estes em geral engrossam as fileiras dos que entram na política e se alinham ao kirchnerismo para reivindicar justiça aos repressores dos anos 70, a deputada prefere propor uma agenda para o futuro.

    "Meus pais não morreram para pedir que se julgassem seus assassinos, mas sim para pedir um país diferente. Por isso, prefiro me dedicar aos crimes contra direitos humanos que estão sendo cometidos nos dias de hoje."

    Suas propostas incluem medidas para conter abusos cometidos por mineradoras que contaminam reservas de água, defesa dos direitos indígenas, da população carcerária e da mulher. É uma das figuras mais atuantes na campanha para a incorporação do feminicídio como agravante no Código Penal e pela legalização do aborto.

    "Este governo é liderado por uma mulher, mas não promoveu medidas em defesa da mulher. Até o papa é mais liberal com relação ao aborto que Cristina. Ela não pensa diferente de seus ministros homens", diz.

    Ela fazia referência a Axel Kicillof (Economia), que declarou ironicamente que Donda gostava de aparecer e que, para isso, era melhor que "usasse umas plumas".

    Mais comentários negativos de colegas surgiram quando a deputada resolveu amamentar sua filha de oito meses no Congresso, para chamar atenção para a necessidade de assegurar legalmente o período de amamentação.

    Em relação à sucessão de Cristina, Donda não é otimista. "[O candidato governista Daniel] Scioli se vangloria de ter uma mulher que diz ter sido construída pelo marido. Enquanto [o oposicionista Mauricio] Macri diz que as mulheres gostam de ouvir que têm uma linda bunda."

    Donda, que já integrou a governista Frente para a Vitória antes de romper com o kirchnerismo, tenta a reeleição a deputada pela Frente Ampla Progressista.

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