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    Hillary domina 'primárias invisíveis' e supera Joe Biden

    NATE COHN
    DO "NEW YORK TIMES"

    22/10/2015 07h00

    Apesar de toda a batalha contra os números das pesquisas e da investigação de um e-mail este ano, Hillary Rodham Clinton fez muito bem uma coisa: dissuadir adversários tradicionais, dominando as "primárias invisíveis", a competição nos bastidores pelo apoio da elite que frequentemente decide a nomeação" [que precede a votação real das primárias].

    Na quarta-feira, sua posição dominante nas "primárias invisíveis" rendeu a ela mais uma vitória: o anúncio do vice-presidente Joe Biden de que ficaria de fora da corrida presidencial deixou Hillary como única candidata democrata viável e dominante.

    Isso dá a ela uma oportunidade de unir a coalizão de eleitores não brancos, mais velhos e moderados, que tradicionalmente têm uma vantagem sobre os progressistas brancos que agora apoiam Bernie Sanders.

    Scott Morgan - 7.out.2015/Reuters
    A ex-secretária de Estado e pré-candidata democrata Hillary Clinton durante evento em Iowa neste mês
    A ex-secretária de Estado e pré-candidata democrata Hillary Clinton durante evento em Iowa neste mês

    A decisão de Biden foi tomada por considerações pessoais, como ele disse na quarta (21), e não apenas pelo cálculo frio da construção de uma campanha nacional.

    Mas a realidade era que ele teria desistido pela mesma razão que fez outros candidatos tradicionais e pró-establishment decidirem não concorrer: o apoio de agentes do partido, de doadores e de agentes públicos não estava exatamente ali. O partido já havia decidido, e havia sido por Hillary.

    É por isso que não havia nenhum grande movimento de "projetar" Biden para a corrida, mesmo depois que o FBI começou a investigação dos e-mails de Hillary e mesmo depois que Biden começou a reconsiderar a corrida presidencial.

    Carl Hulse e Jason Horowitz, do "The New York Times", relataram que muitos dos mais prováveis aliados de Biden o estavam desencorajando. O mesmo estava acontecendo com figuras proeminentes da equipe Obama, como David Axelrod. Em relação a Hillary, havia poucas deserções, ou nenhuma.

    O que aconteceu ao longo dos últimos meses é exatamente o que se poderia antecipar no quadro que os cientistas políticos chamam de "Party Decides".

    Como Brendan Nyhan, do Dartmouth College e colaborador do "Times", escreveu em agosto, Biden já estava concorrendo para presidente nas "primárias invisíveis". Como a maioria dos candidatos que fazem uma sondagem, ele não encontrou apoio suficiente para justificar uma entrada na corrida.

    OPINIÕES DE CENTRO

    Com Biden de fora, Hillary está posicionada para consolidar uma combinação chave de apoio da elite com os eleitores moderados. A prova dos ganhos de Hillary poderia começar a aparecer quase que imediatamente, já que ela era a segunda escolha de quase todos os eleitores de Biden em pesquisas de opinião pública ao longo do mês passado.

    Uma coalizão dos eleitores moderados, não brancos e mais velhos representa uma clara maioria do eleitorado das primárias democratas. Hillary assumiu a liderança com 57%, ante 31% de Sanders, em uma média de sete pesquisas de setembro que removeram Biden da equação.

    Da mesma forma, uma análise do "New York Times" do início deste ano sugeria que Hillary teria derrotado Obama, com 62% a 38%, em 2008, se os eleitores negros tivessem votado de forma demograficamente similar aos eleitores não negros, incluindo os hispânicos.

    Sanders pode tranquilamente reivindicar o apoio de uma das alas maiores e mais influentes do partido: a base predominantemente do Norte, progressiva e branca. Isso será suficiente para competir nos principais concursos iniciais de New Hampshire e Iowa e em alguns outros Estados, mas não em Estados mais diversos ou conservadores, como a Carolina do Sul.

    Uma recente pesquisa da CNN lá mostrou Hillary liderando por uma margem de 70 a 20, se Biden ficasse fora da corrida.

    A força de Hillary nas pesquisas é sustentada por quase todos os fatores que preveem a força na primária. Suas opiniões políticas estão bem no meio do Partido Democrata, não deixando muito espaço para Sanders desafiá-la por motivos estritamente ideológicos.

    O apoio das elites do partido concedeu recursos financeiros, organizacionais e públicos substanciais, que vão dar a ela capacidade de se manter competitiva.

    Esses ativos tornam Hillary muito menos vulnerável ao "momentum" do que a maioria dos candidatos. George W. Bush, Bob Dole, George Bush pai, Mitt Romney, Bill Clinton e Ronald Reagan, todos perderam uma ou ambas as primeiras disputas em Iowa e New Hampshire –embora tenham prevalecido com facilidade, graças aos mesmos ativos nos quais Hillary vai se basear neste ano.

    Talvez o alto reconhecimento do nome de Hillary e sua grande e comprovada base de apoio devam torná-la ainda mais resistente.

    Sua capacidade de resiliência se revelou em 2008, quando ela segurou a coligação passando por uma perda em Iowa e por uma longa sequência de derrotas nas primárias depois da Super Terça. Havia, é claro, uma exceção: os eleitores negros, que foram esmagadoramente para Obama depois que ele ganhou as prévias de Iowa.

    Mas os ganhos de Obama entre os eleitores negros parecem mais com a exceção que confirma a regra do que com um caminho que Sanders podia esperar refazer. E, mesmo assim, Hillary perdeu por pouco.

    Hillary, é claro, poderia fraquejar. Talvez haja outra reviravolta no inquérito sobre os e-mails. Mas a saída de Biden faz com que seja mais fácil para ela sobreviver a más notícias. Ele representava uma opção emergencial viável e aceitável se Hillary saísse muito arranhada.

    Sanders não representa uma opção assim para muitos integrantes da elite do partido, que parecem céticas sobre suas chances eleitorais gerais.

    Sem a opção de mudar rapidamente para Biden, agentes do partido estarão mais propensos a apoiar uma Hillary frágil contra Sanders. E Biden ainda poderia ser arrastado para a corrida depois de muitos prazos ultrapassados, se isso for considerado necessário pelas mesmas elites partidárias que o empurraram para fora da corrida.

    Tradução de MARIA PAULA AUTRAN

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