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    Extrema direita ganha mais força na Alemanha com chegada de migrantes

    KATE CONNOLLY
    DO "THE GUARDIAN", EM BERLIM

    23/10/2015 07h00

    Um relatório que vazou para os meios de comunicação alemães afirma que a extrema-direita ganha força com a chegada dos refugiados.

    O receio de que o fervor anti-imigração esteja crescendo na Alemanha ganhou um novo impulso por parte de especialistas em segurança, que alertaram o país para se preparar para um aumento de ataques xenofóbicos, já que um número crescente de manifestantes apela para a violência para expressar sua raiva em relação à crise de refugiados na Europa.

    Um relatório confidencial do Escritório Federal de Investigação Criminal (BKA, na sigla em alemão), que vazou para os meios de comunicação alemães, afirmou que a extrema direita havia se fortalecido com a contínua chegada de refugiados à Alemanha.

    Especialistas disseram acreditar que o que no relatório é descrito como um sentimento de "agitação" desses grupos, em relação à política de asilo do governo, está prestes a se intensificar.

    O documento adverte que particularmente pessoas que pedem asilo, voluntários e políticos estão sob ameaça.

    Enquanto a extrema-direita é geralmente considerada como formada por grupos díspares, que funcionam "de forma muito heterogênea", muitos deles têm encontrado um "consenso ideológico" na crise de refugiados, de acordo com essa avaliação.

    Enquanto isso, aumenta a pressão sobre o governo da chanceler Angela Merkel para conseguir controlar a situação.

    O documento veio à tona quando a polícia do norte da Baviera revelou, nesta quinta-feira (22), que havia desmantelado um grupo de extrema-direita em Bamberg, que tinha planejado realizar, em 31 de outubro, um ataque terrorista contra uma casa de refugiados que moram na cidade.

    Três pessoas, com quilos de explosivos pirotécnicos importados da Europa Oriental e uma variedade de armas, foram presas pela polícia após uma blitz durante a manhã que envolveu 90 policiais; outras 13 foram interrogadas.

    O grupo tinha a intenção de atacar um abrigo para imigrantes à espera de deportação. O ataque seria feito com o uso de explosivos contendo projéteis de aço, o que, de acordo com um porta-voz, tinha a intenção de causar "danos máximos".

    Milhares de refugiados e imigrantes vêm chegando à Alemanha todos os dias desde o verão europeu, e espera-se que o país receba até 1,5 milhão de pessoas em busca de asilo até ao final deste ano.

    A advertência do BKA chega apenas dias depois do atentado, motivado por questões raciais, contra a candidata a prefeita de Colônia Henriette Reker.

    Nicols Armer/AFP
    Armas e bandeiras nazistas apreendidas com grupo de extrema direita em Bamberg
    Armas e bandeiras nazistas apreendidas com grupo de extrema direita em Bamberg

    Ela foi esfaqueada no sábado por um homem de 44 anos que tem um passado de atuação na extrema-direita e disse estar agindo para proteger o país de estrangeiros.

    Reker, que fez do apoio aos refugiados um tema central da sua campanha, foi eleita prefeita no dia seguinte, mas não conseguiu ainda assumir o cargo, porque continua em tratamento no hospital.

    O documento também menciona uma agudização no tom da extrema direita, em comícios do movimento anti-imigração Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente (Pegida, em alemão), onde na segunda-feira à noite um alto-falante emitiu um apelo velado para que os campos de concentração sejam reativados.

    Na semana anterior, alguns ativistas ostentaram uma forca simulada com um laço etiquetado para Merkel.

    De acordo com os integrantes do BKA responsáveis pela administração de abrigos para refugiados, os políticos que apoiam a política de recepção de portas abertas de Merkel e membros da população que estão trabalhando como voluntários –dezenas de milhares em todo o país– são todos considerados "alvos" do que foi chamado de "criminosos motivados pela xenofobia".

    O relatório cita uma onda de incidentes ocasionados por motivos raciais contra residências de refugiados, incluindo registros de ataques incendiários.

    Os analistas do BKA dizem que o número de ataques a casas de refugiados está aumentando, sendo que a maioria deles está sendo realizada em casas já habitadas ou em edifícios em processo de serem convertidos em lugares de acolhida.

    Além de realizar incêndios, em geral os criminosos estão usando armas como catapultas com rolamentos de esferas de aço, pedaços de pau e ácido butírico.

    Nos três primeiros trimestres deste ano, em todo o país houve um total de 461 ataques que teriam sido impulsionados por motivos xenofóbicos, o que já é o dobro da quantidade de ataques cometidos no ano passado inteiro.

    A identidade de quase metade dos autores dos ataques é conhecida pela polícia. Mais de um quarto dos ataques foram realizados por pessoas da vizinhança mais próxima.

    A maioria dos agressores são do sexo masculino, com idades entre 20 e 25 anos, e três quartos deles não tinham nenhum passado na extrema direita. Raramente os ataques são realizados sob influência de bebidas alcoólicas.

    Não há nenhuma evidência de que a violência esteja sendo orquestrada por partidos políticos de extrema direita, segundo o BKA, que acrescentou que, à luz do crescimento do número de refugiados e do aumento de lugares de moradia para eles, "a oportunidade de cometer esses crimes aumentará consideravelmente".

    Enquanto isso, a polícia afirmou que está investigando se poderá apresentar uma acusação por crime de ódio contra o escritor turco-alemão Akif Pirincci, que, em um discurso sobre a crise de refugiados no comício do Pegida em Dresden, na segunda-feira, que atraiu cerca de 15 mil pessoas, afirmou ser "uma pena que os campos de concentração não estejam mais em funcionamento".

    Zhang Fan - 19.out.2015/Xinhua
    Manifestação anti-imigração do Pegida em Dresden, em 19 de outubro
    Manifestação anti-imigração do Pegida em Dresden, em 19 de outubro

    Em um incidente separado, uma pessoa de 31 anos, de Kitzingen, no sul da Alemanha, foi processada e está aguardando uma sentença de prisão depois de defender, em um post no Facebook, que Merkel e seus apoiadores sejam colocados "de pé contra uma parede, submetidos à corte marcial e fuzilados por traição contra o povo alemão".

    O ministro do Interior, Thomas de Maizière, culpou o Pegida por incitar o ódio, dizendo que seus organizadores já haviam se revelado extremistas de direita.

    Na televisão nacional, pediu aos alemães que "mantenham distância de quem está introduzindo esse ódio, esse veneno, no nosso país".

    Em reação ao relatório do BKA, ele disse ao jornal "Passauer Neue Presse": "Nós ainda não podemos falar de terrorismo de direita, mas a ameaça existe, e estamos prestando atenção a isso".

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