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    Após 12 anos no poder, casal Kirchner deixa legado controverso na Argentina

    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES

    24/10/2015 02h20

    Chegando ao final de oito anos de governo e 12 do kirchnerismo, a presidente argentina Cristina Kirchner começou a se despedir do cargo com um vídeo em que lembra alguns feitos de sua gestão.

    O kirchnerismo chegou ao poder em 2003, quando o marido de Cristina, Néstor (1950-2010), se elegeu com 22% dos votos, após o ex-presidente Carlos Menem (1989-99) desistir de ir ao segundo turno contra o antigo aliado.

    Nessa década no poder, os Kirchner tiraram a Argentina do colapso, após a crise de 2001, que levou o país à bancarrota. Seu principal feito foi ter reduzido a pobreza, que no início de seu governo engolia mais da metade da população, para os atuais 28%.

    Mas não sem críticas. A política kirchnerista se notabilizou principalmente pela confrontação permanente, que buscou inimigos nos políticos opositores, no "imperialismo" americano e inglês e nos meios de comunicação.

    Enrique Marcarian - 9.set.2015/Reuters
    Cristina Kirchner e o candidato governista Daniel Scioli
    Cristina Kirchner e o candidato governista Daniel Scioli

    "O kirchnerismo foi um período forte na história contemporânea argentina. Pelos amores e ódios que despertou, não passará despercebido", diz o analista Ricardo Rouvier.

    No setor empresarial, porém, essa política de confrontação e interferência se traduziu em menos investimentos na última fase da gestão Cristina, o que acabou por deprimir o crescimento. Hoje, a economia está estagnada.

    Mas a presidente dobrou a aposta. Neste ano de eleições, turbinou os gastos sociais e levará a Argentina a um deficit fiscal recorde, equivalente a 7% do PIB do país.

    Se gera alto grau de incerteza sobre como o próximo governante lidará com a correção da gastança, por outro lado sua política contribuiu para que a mandatária se despeça com alta popularidade.

    Com mais de 50% de aprovação, a presidente indicou como sucessor o peronista Daniel Scioli, que foi vice de Néstor e hoje governa a província de Buenos Aires.

    A principal discussão dessa eleição, segundo analistas, é se o eleitor deseja a continuidade das atuais políticas ou a mudança. O placar apertado ilustrado pelas pesquisas indica que a população chegará dividida ao pleito.

    Os números mais recentes dão a Scioli 38,3% das intenções de voto, seguido por Mauricio Macri, da coligação Mudemos, com 29,2%, e Sergio Massa, que representa peronistas antikirchneristas (21%).

    Com esse cenário, ninguém se arrisca a dizer se a eleição terminará no primeiro turno ou se haverá uma final.

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    FUTURO DA PRESIDENTE

    Um dos grandes enigmas após o domingo será o futuro da presidente.

    Sem poder concorrer pela terceira vez –tentativa sepultada no Congresso em 2013–, Cristina não tentará se eleger para nenhum cargo nesta eleição.

    Mas as opiniões divergem quando a pergunta é se a mandatária continuará exercendo influência na política.

    Analistas costumam dizer que, na Argentina, a caneta presidencial –capaz de liberar verbas ou influenciar juízes– tem muito poder. Isso esmoreceria a ideia de que Cristina seguirá liderando o peronismo se Scioli vencer.

    Na campanha, o político respondeu várias vezes à pergunta sobre se ele ou Cristina governará o país a partir de 10 de dezembro, caso chegue à Casa Rosada. Em geral, diz que pretende "exercer seus direitos constitucionais".

    Para Rouvier, é prematuro dizer se Cristina tentará voltar ao poder em 2019: "Quatro anos na Argentina são como um século".

    Outros presidentes, como Menem e Eduardo Duhalde (2002-2003), tentaram trilhar o mesmo caminho, mas encontraram como obstáculo a queda de popularidade após a saída do cargo.

    Nas ruas e nas redes sociais, a despedida de Cristina já começou. O vídeo postado pela mandatária na quarta (21) chama-se "De agora em diante, tudo será diferente...".

    "Quando alguém acreditar que este é o princípio do fim, milhões dirão que este é só o fim do princípio, de uma Argentina que nasceu para sempre", diz o locutor, com um fundo musical emotivo.

    Indica que a "chefa" se vai, embora a musiquinha entoada pelos militantes do La Cámpora sugira o contrário, tirando o sono dos que aspiram à cadeira na Casa Rosada.

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