Um dos promotores responsáveis pela detenção e recente condenação do líder opositor Leopoldo López a quase 14 anos de prisão por suposta incitação a protestos violentos fugiu da Venezuela e divulgou na noite desta sexta-feira um vídeo prometendo revelar "toda a verdade" sobre supostas manipulação do caso pelo governo.
A reviravolta, que levou a defesa de López a exigir a anulação imediata da sentença, poderá incendiar a campanha para a eleição parlamentar de 6 de dezembro.
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Em vídeo, promotor Franklin Nieves promete revelar manipulação em caso do opositor Leopoldo López |
"Decidi sair da Venezuela com a minha família em virtude da pressão que estavam exercendo o Executivo e meus superiores hierárquicos para que eu continuasse defendendo provas falsas com as quais se condenou o cidadão Leopoldo López", disse o promotor Franklin Neves em vídeo divulgado pelo site opositor "La Patilla."
Não está claro o paradeiro de Neves, mas sites locais afirmam que ele se encontra nos EUA sob proteção das autoridades locais.
Veja o vídeo abaixo (em espanhol)
Correm versões, não confirmadas, de que ele teria levado consigo boa parte da documentação jurídica do caso López.
"Quem me conhece sabe a angústia que eu vinha passando. Eu não conseguia dormir por causa da dor e da pressão para continuar com uma farsa", disse Neves, na primeira aparição após rumores, veiculados desde quinta-feira, de que teria fugido.
Veículos de mídia governistas chegaram a divulgar que ele estava passando férias com a família na ilha caribenha de Aruba.
Neves previu que o governo do presidente Nicolás Maduro irá fazer acusações falsas para desqualificar sua denúncia e convocou colegas magistrados a "perder o medo" e também se erguerem contra as supostas manipulações.
Um dos advogados de López, Juan Gutierrez, disse no Twitter que o caso "evidencia mais uma vez a ilegalidade da condenação, que é fruto de uma fraude processual".
OPOSITOR RADICAL
Uma das figuras mais radicais da oposição ao chavismo, López foi preso em fevereiro de 2014 sob acusação de incitar estudantes a tomar as ruas para protestar contra o governo e semear o caos.
Os protestos, que estremeceram grandes cidades venezuelanas durante todo o primeiro semestre daquele ano, deixaram o saldo de 43 mortos, entre manifestantes e funcionários do aparato de segurança do Estado.
Em setembro, um tribunal de Caracas acatou recomendação dos promotores, entres eles Franklin Neves, e o condenou a 13 anos e nove meses de prisão pelos crimes de instigação pública (equivalente a incitação à violência), associação para delinquir (formação de quadrilha) e depredação de patrimônio.
Simpatizantes consideram López um preso político, enquanto governistas o enxergam como um agente da extrema-direita golpista a serviço dos interesses norte-americanos.