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    Ascensão de não políticos é sinal de cansaço do eleitorado, diz acadêmico

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES

    25/10/2015 02h00

    Enviado como observador do Centro Carter para as eleições deste domingo (25) na Guatemala, o político e acadêmico mexicano Jorge Castañeda, 62, crê que o favoritismo do comediante Jimmy Morales se explica pelo fato de sua candidatura representar um "voto de protesto".

    O país vive um processo inédito após a renúncia do presidente Otto Pérez Molina, em setembro, acusado de envolvimento em uma rede de corrupção que desviava verbas alfandegárias.

    Jorge Araújo - 13.mai.2014/Folhapress
    O político e acadêmico mexicano Jorge Castañeda, em evento em São Paulo, em maio de 2014
    O político e acadêmico mexicano Jorge Castañeda, em evento em São Paulo, em maio de 2014

    Candidatos apolíticos, diz Castañeda, têm se tornado cada vez mais comuns na América Latina –Mauricio Macri, na Argentina, é outro exemplo. "[É] a ideia de um candidato que não tem vínculos com a política tradicional, de conchavos e compra e venda de favores."

    Leia, abaixo, trechos da entrevista que Castañeda concedeu à Folha, por telefone.

    *

    Folha - Vários países da América Latina vêm assistindo a protestos contra a corrupção. Qual é a particularidade da Guatemala?

    Jorge Castañeda - Foi definitiva a presença de um fator externo. Sem a atuação da Comissão contra a Impunidade na Guatemala [agência de investigação independente, criada pelo governo e pela ONU, em 2007, e composta por cidadãos guatemaltecos e estrangeiros], a investigação do escândalo que causou a renúncia de Otto Pérez Molina não teria sido possível.

    Outra particularidade foi o modo persistente como a população foi às ruas e fez tamanha pressão que o Congresso teve de aprovar a retirada da imunidade de Pérez Molina.

    Uma comissão como essa na Guatemala seria eficiente em outros países da região?

    É um modelo que serve a países cujas instituições são frágeis demais. Pode ser benéfico a Honduras, por exemplo, que vive um processo semelhante, ou Nicarágua e El Salvador.

    Mas não creio que possa ser aplicada em países com instituições como México, Brasil e Argentina, cujos problemas são de outra escala. O ideal era que esse tipo de comissão não fosse necessário em nenhum lugar e que as instituições funcionassem.

    Como o sr. explica o favoritismo do humorista Jimmy Morales, um outsider da política, para a eleição deste domingo?

    É um voto de protesto, de cansaço com relação à política tradicional, à corrupção.

    Candidaturas como a dele não têm sido incomuns na América Latina. A ideia de um candidato que não tem vínculos com a política tradicional, de conchavos e compra e venda de favores.

    Outro exemplo é Mauricio Macri, na Argentina, que se lançou a partir do grito de "que se vayan todos" (fora todo mundo), da crise de 2001, e se vende como um não político, como um empresário ou um gestor.

    O sr. tem a sensação de que a corrupção aumentou ou que as pessoas estão mais sensíveis na América Latina?

    Certamente se tornou mais importante. E em vários países, Brasil, México, Honduras e mesmo o Chile, que tem uma particularidade interessante. Em termos de escala e valor, a corrupção do Chile, comparada aos casos mexicano ou brasileiro, é ridícula.

    Mas os efeitos parecem estar sendo até mais devastadores, o custo político para a presidente Michelle Bachelet é muito alto.

    Ao mesmo tempo, sim, creio que a corrupção em si também aumentou em alguns casos. É só olhar as cifras do caso brasileiro. No México, a corrupção está totalmente incorporada ao sistema.

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