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    Máfia japonesa cancela festa infantil de Halloween por medo da violência

    JUSTIN MCCURRY
    DO "GUARDIAN", EM TÓQUIO

    27/10/2015 07h00

    A maior organização criminosa do Japão cancelou seu evento infantil anual de Halloween, aparentemente por causa da preocupação de que um recente racha na gangue possa desencadear atos de violência e colocar em risco a segurança pública.

    O Yamaguchi-gumi, com 24 mil membros e uma receita estimada de US$ 6 bilhões (cerca de R$ 23,5 bilhões), emitiu um comunicado de cancelamento de seu evento de "doces ou travessuras" programado para o próximo sábado (31) com um pedido de desculpas.

    "A festa do Dia das Bruxas que acontece todos os anos em 31 de outubro será cancelada neste ano devido a várias razões", dizia o comunicado, colocado no portão da sede do Yamaguchi-gumi, na cidade portuária de Kobe, no oeste do Japão.

    Cartaz sobre cancelamento

    "Lamentamos desapontar os pais e as crianças que estavam esperando por isso, mas prometemos realizar a festa no próximo ano. Então, por favor, esperem por ela."

    SURTO DE VIOLÊNCIA

    No mês passado, a polícia alertou para um possível surto de violência depois que 13 das 72 facções do Yamaguchi-gumi saíram do grupo para formar uma nova gangue, em meio a discussões internas que tinham o líder, Shinobu Tsukasa, como centro.

    Tsukasa, 73, também conhecido como Kenichi Shinoda, tornou-se o sexto líder do Yamaguchi-gumi há uma década e vem sendo criticado por aumentar os "pagamentos de fidelidade" mensais e por dar tratamento preferencial a integrantes da Kodo-kai, organização afiliada que ele fundou em 1984 na cidade de Nagoia, no centro do país.

    Reportagens da imprensa japonesa afirmam que a gangue rival, com cerca de 3.000 integrantes, é chefiada por Kunio Inoue, o líder de 67 anos da Yamaken-gumi, e tem como base a ilha Awaji, perto de Kobe.

    Autoridades policiais dizem temer uma repetição da carnificina que aconteceu depois de um racha similar em meados dos anos 1980. Ao longo de três anos, pelo menos 20 criminosos foram mortos, mais de 70 foram feridos e 500 foram presos.

    O cancelamento indica que o Yamaguchi-gumi, agora em seu centésimo ano de existência, está postergando a tentativa de melhorar a imagem enquanto lida com o cisma recente e reavalia sua resposta frente a leis antigangues mais duras e promessas policiais de combater o crime organizado.

    DOCES PARA CRIANÇAS

    Na festa do Dia das Bruxas do ano passado, Tomohiko Suzuki, escritor freelancer especializado em yakuza, postou uma foto no Twitter que mostrava os integrantes da gangue Yamaguchi-gumi distribuindo saquinhos coloridos com doces para crianças locais que vestiam fantasias. A quadrilha realiza outros eventos para a comunidade e foi uma das primeiras a distribuir água e alimentos para os sobreviventes do terremoto de Kobe em janeiro de 1995.

    Os temores de uma repetição da disputa por territórios que aconteceu nos anos 1980 até agora não se concretizaram, mas a polícia intensificou as patrulhas em áreas das gangues, e duas mortes recentes estão sendo associadas ao racha.

    No início deste mês, a polícia prendeu um membro do Yamaguchi-gumi após o tiroteio que resultou na morte de um gangster rival em um resort termal na prefeitura de Nagano. Nesta segunda (26), a polícia disse que um membro sênior do grupo separatista havia morrido em decorrência de um tiroteio em um escritório de Osaka.

    Os observadores da yakuza especularam que os chefes do crime haviam ficado nervosos com a possibilidade de um incidente violento acontecer em um lugar onde crianças e seus pais estariam presentes.

    "O Yamaguchi-gumi se dividiu e mantém relações tensas com o grupo (dissidente)", disse à agência France Presse Atsushi Mizoguchi, escritor freelancer e especialista no submundo japonês. "Se eles chegam a reunir as crianças da vizinhança e acontece um incidente, o chefe seria perseguido por sua responsabilidade."

    O Yamaguchi-gumi foi criado em 1915 por um ex-pescador, Harukichi Yamaguchi, na ilha Awaji. É responsável por quase metade das adesões totais da yakuza no Japão, de acordo com a polícia, e, das 47 províncias japonesas, está ativo em todas, menos em três dessas localidades.

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