A aparência nipônica e o sotaque um pouco carregado quando fala em português podem até causar confusão, mas Bruno Issamu Murai, 26, é brasileiro e diz com entusiasmo que tem muito orgulho das suas origens.
O jovem é desenhista-projetista de peças em 3D para trens da Japan Railways (JR), e trabalha numa empresa que constrói inclusive o famoso trem-bala. "Adoro o Japão, mas gostaria de um dia trabalhar no Brasil e, quem sabe, projetar um trem inteiro para ser usado lá", sonha o rapaz.
O jovem faz parte de uma geração de brasileiros que nasceu ou cresceu no Japão, estudou em escola japonesa, fala o idioma local com desenvoltura e passou a desempenhar papéis mais ativos e importantes em diferentes setores da sociedade japonesa. "O engraçado é que, no começo, muita gente no trabalho não sabia que eu era brasileiro", se diverte.
Arquivo pessoal | ||
Bruno Murai, projetista de peças para trens |
No caso de Bruno, ele foi ao Japão com sete anos de idade. O pai havia sido transferido para abrir novos mercados para uma grande empresa brasileira.
"Estudei desde o começo em escola japonesa, até me formar na faculdade de engenharia mecânica. Mas todo ano vou ao Brasil para visitar os familiares e sinto que lá existe menos pressão no trabalho, por exemplo", diz.
Por isso, o brasileiro quer adquirir mais experiência no Japão e, no futuro, tentar um emprego no país natal. "O mercado ferroviário está se aquecendo e sei que há Estados brasileiros interessados em investir no setor", conta.
Arquivo pessoal | ||
Bruno Murai, que é projetista de peças para trens no Japão |
Fernanda Tachibana, 21, é outra que investiu nos estudos no Japão. Atualmente, a jovem está no último ano do curso de comércio exterior na Universidade Kanto Gakuen e trabalha em um restaurante brasileiro que recebe muitos clientes japoneses.
Ela nasceu no Japão, mas estudou os primeiros anos de escola no Brasil. "Voltei para cá com 11 anos, e meu sonho é ir para outros países", conta.
Arquivo pessoal | ||
Fernanda Tachibana, que estuda comércio exterior |
Para ela, muitos colegas brasileiros ainda estão perdidos em relação ao futuro. "Mas vejo que a próxima geração está muito mais interessada em buscar empregos qualificados", opina.
TENDÊNCIA
Essa é a mesma opinião de Roberto Maxwell. Recentemente, o documentarista e repórter viajou por diversas províncias do Japão em busca de histórias que representassem a diversidade da comunidade brasileira residente no país para produzir o documentário "O Outro Lado do Mundo".
Nessas andanças, ele diz que realmente percebeu um grande número de jovens cada vez mais ambientados nas duas culturas e bilíngues.
"Mas há também uma grande parcela ainda que vive totalmente na comunidade, não fala o japonês e não tem grandes perspectivas futuras em relação a trabalho", diz o brasileiro, que é graduado em geografia e cinema e mestre em ciências sociais pela Universidade de Shizuoka.
Bruno Taniguchi/Arquivo pessoal | ||
Roberto Maxwell, que fez o documentário "O Outro Lado do Mundo" |
"Um terceiro grupo é o de brasileiros que nunca vivenciou a cultura brasileira e hoje se ressente de não ter tido acesso à brasilidade", completa.
A tendência, segundo Maxwell, é ter cada vez mais brasileiros integrados à sociedade japonesa, assim como aconteceu com os descendentes de imigrantes japoneses no Brasil.
"Os jovens estão buscando seu lugar no país, mas temos de lembrar que a população local ainda é muito resistente à cultura de fora."
Yohan Tanaka, 25, é um dos que tenta quebrar esta resistência dos japoneses. O jovem compositor e cantor, que usa o nome artístico de YOHAN, recém-lançou um single, intitulado #PopLife, e tenta mostrar uma arte que é a mistura das influências no Japão com a brasilidade e a experiência como modelo profissional.
"O Japão tem lados positivos e negativos para quem é estrangeiro, mas acima de tudo pode servir de trampolim para quem busca o sucesso profissional, pois ainda é um país de glamour e que desperta mistério", diz o jovem.
Yohan chegou ao Japão com sete anos. Estudou em escola japonesa e, aos 12, voltou para o Brasil, onde concluiu o ensino fundamental.
"Voltei para o Japão e comecei a trabalhar como modelo", conta. Depois de viajar toda a Ásia, fazendo editorias de moda e desfiles, o jovem foi trabalhar como vitrinista e diretor criativo em diversas empresas, como a Jimmy Choo. Agora, o jovem sonha com a carreira de artista e cantor.
HISTÓRIA
O ano de 2015 é especial nas relações entre Brasil e Japão. Além dos 120 anos de amizade entre os dois países, é também o ano em que se completam 25 anos desde que o Japão alterou a lei de imigração, permitindo que descendentes de japoneses até a terceira geração pudessem residir e trabalhar no país.
Desde então, o número de brasileiros no Japão cresceu rapidamente e, em 2007, pico deste movimento conhecido como decasségui, chegou a 330 mil.
Hoje, após a crise econômica mundial de 2008 e o terremoto seguido de tsunami em 2011, a população brasileira no país gira em torno dos 170 mil.
Ainda assim, é a quarta maior comunidade estrangeira no Japão, atrás de chineses, coreanos e filipinos, e a terceira maior comunidade brasileira no exterior, depois dos Estados Unidos e do Paraguai.