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    Brasil e Japão podem fortalecer laços econômicos, diz embaixador japonês

    JULIANO MACHADO
    EDITOR-ADJUNTO DE "MUNDO"

    29/10/2015 02h15

    A visita do príncipe Akishino a dez cidades brasileiras, embora tenha apenas um caráter simbólico pelo fato de a família imperial do Japão não exercer nenhuma função política, é vista pela diplomacia japonesa no Brasil como mais um sinal de fortalecimento das relações bilaterais em 2015, quando se comemoram os 120 anos do tratado de amizade entre os dois países.

    Em entrevista por e-mail à Folha, o embaixador japonês no Brasil, Kunio Umeda, celebra a vinda de um membro da família imperial —o que não ocorria desde 2008— e espera que a ida da presidente Dilma Rousseff ao Japão, prevista para dezembro, reforce a parceria. Na parte comercial, Umeda vê ainda um "um grande espaço para o fortalecimento do relacionamento econômico", apesar da crise vivida pelo Brasil

    Leia abaixo a entrevista.

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    Ministra ministra Kátia Abreu com o embaixador do Japão Sr. Kunio Umeda. (Foto Carlos Silva/mapa) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O embaixador do Japão, Kunio Umeda, com a ministra Katia Abreu em Brasília

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    Folha - Qual é a expectativa do sr. para esta visita dos príncipes Akishino? Houve algum motivo especial para a Casa Imperial escolher o príncipe e a princesa Akishino como representantes da Casa nos festejos dos 120 anos de amizade Brasil-Japão?

    Kunio Umeda - Neste ano de 2015, comemoramos os 120 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre o Japão e o Brasil. Assim sendo, no ensejo deste ano especial, Suas Altezas Imperiais, o príncipe e a princesa Akishino, irão realizar a visita oficial a convite do governo brasileiro.

    A última vez em que um membro da família imperial do Japão visitou oficialmente o Brasil foi há sete anos, em 2008, quando esteve aqui o príncipe herdeiro Naruhito, irmão mais velho do principe Akishino.

    O príncipe Akishino já esteve em visita oficial ao Brasil em 1988, aos 22 anos de idade, por ocasião das comemorações dos 80 anos da imigração japonesa. Ou seja, Sua Alteza Imperial Akishino retorna ao Brasil após 27 anos, desta vez acompanhado da princesa Kiko, que vem ao Brasil pela primeira vez.

    Ao longo deste ano, em todo o Brasil, estão sendo realizados cerca de 450 eventos comemorativos desses 120 anos de amizade entre nossos países. E a visita de Suas Altezas Imperiais será o ponto alto dessa série de celebrações.

    Espero que essa visita seja um fator para um aprofundamento ainda maior da compreensão mútua entre os povos de ambos os países, bem como da amizade nipo-brasileira.

    Como foi escolhido o roteiro da visita de Suas Altezas Imperiais? O príncipe Akishino fez algum pedido para visitar determinada cidade ou local, uma vez que já esteve no Brasil, em 1988?

    Em Brasília, Suas Altezas Imperiais irão realizar uma visita de cortesia à presidente Dilma Rousseff. Participarão de um almoço oferecido pelo governo brasileiro e também estarão presentes em uma solenidade no Congresso Nacional em homenagem aos 120 anos das relações diplomáticas entre Japão e Brasil.

    Além de Brasília, Suas Altezas visitarão outros cinco Estados: São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Pará e Rio de Janeiro. Saliente-se que em São Paulo reside a maior comunidade japonesa do mundo fora do Japão, e o Paraná está celebrando, neste ano de 2015, o centenário da colonização japonesa no Estado.

    Nos Estados por onde o príncipe e a princesa irão passar, estão planejadas visitas a autoridades brasileiras, como governadores, além de encontros com representantes da comunidade nipo-brasileira, dentre outros eventos.

    No Pantanal, também está programada uma visita a uma área de preservação natural. Em uma estada de cerca de duas semanas, Suas Altezas terão a oportunidade de conhecer muitas pessoas, e vão tomar contato com a exuberante natureza brasileira e a rica cultura deste país.

    Como o sr. avalia a relação atual entre Brasil e Japão no campo comercial? O que pode ser melhorado?

    Ao longo dos anos, os dois países vieram promovendo uma relação de confiança mútua através da realização de projetos conjuntos, como o Prodecer (para o desenvolvimento agrícola do Cerrado), a Usiminas (siderurgia), a Cenibra (celulose), a Albras (alumínio) etc.

    Nesta vinda ao Brasil, Suas Altezas também visitarão, em Brasília, o Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados, que está fortemente engajado no desenvolvimento agrícola do Cerrado.

    Atualmente, apesar de cerca de 700 empresas japonesas estarem atuando no Brasil, o comércio bilateral mantém-se em cerca de US$ 13 bilhões, em cifras de 2014. Acho que, se levarmos em consideração o potencial econômico dos dois países, ainda há um grande espaço para o fortalecimento do relacionamento econômico.

    O empresariado japonês tem mostrado interesse em investir no Brasil em áreas como infraestrutura, agricultura, automobilismo, tratamento médico, saúde, meio ambiente, finanças e seguros, dentre outras.

    Atualmente, o Brasil enfrenta grandes dificuldades, e o mundo está preocupado com os rumos do Brasil. Mas, quando converso com lideranças políticas e empresariais do Japão, tenho dito o seguinte a respeito do Brasil: "As instituições fundamentais para a governança, como a democracia, a independência do Poder Judiciário e liberdade de imprensa estão firmemente enraizadas.

    Portanto, estou convicto de que o Brasil vai superar a presente situação adversa e vai avançar vertiginosamente, com vistas à consecução de uma economia e de uma sociedade com menos corrupção e com mais justiça e prosperidade.

    No momento, o Brasil está passando por um histórico período de transição. Portanto, quando forem analisar as possibilidades de investimentos no Brasil, peço-lhes que pensem com uma ótica de médio e longo prazos.

    Este ano tem sido marcado por visitas de autoridades japonesas ao Brasil, e em dezembro está prevista a ida da presidente Dilma Rousseff ao Japão. O que o governo japonês espera da viagem de Dilma, em termos políticos e econômicos?

    Em agosto do ano passado, o primeiro-ministro, Shinzo Abe, visitou o Brasil e, naquela ocasião, juntamente com a presidente Dilma Rousseff, emitiu o documento "Declaração Conjunta de Parceria Estratégica e Global entre o Japão e o Brasil".

    Acredito que a visita da presidente ao Japão tem um significado muito importante para o aperfeiçoamento dessa parceria estratégica. A propósito, esta será a primeira visita oficial de um presidente brasileiro em uma década.

    Também neste ano, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, e o ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, visitaram o Japão.

    O vice-presidente da Câmara dos Conselheiros da Dieta (Senado) do Japão, senador Azuma Koshiishi, esteve no Brasil recentemente. Em setembro, foi realizada a reunião de cúpula do G4 nas Nações Unidas.

    Creio que é importante fortalecer o diálogo de alto nível, entre chefes de governo e ministros, bem como fortalecer largamente o intercambio na área de segurança e defesa.

    Particularmente, nas relações econômicas, é importante, daqui para a frente, darmos um impulso para a expansão do comércio e dos investimentos nas áreas já mencionadas.

    Além disso, para o futuro de ambos os países, penso que seja de suma relevância a cooperação nas áreas de educação e de formação de recursos humanos. Nessa área, quero mencionar quatro iniciativas que estão em curso.

    Em primeiro lugar, através do programa "Ciência sem Fronteiras" mais de 500 brasileiros estudam ou já estudaram no Japão até este momento. Em segundo, através das bolsas concedidas pelo Ministério da Educação do Japão, a cada ano, cerca de 60 estudantes brasileiros de nível de graduação e pós-graduação são aceitos nas universidades japonesas.

    Em terceiro, com o apoio do Ministério da Educação japonês, a partir deste ano fiscal, será iniciado o intercâmbio estudantil entre oito universidades japonesas e nove universidades brasileiras.

    E, em quarto, o primeiro-ministro Abe, em sua visita ao Brasil no ano passado, anunciou a admissão de 900 estagiários brasileiros, em três anos, através dos programas da Jica, a Agência de Cooperação Internacional do Japão.

    Somando-se a essas iniciativas, os dois governos irão discutir um programa de intercâmbio desportivo para jovens, no ensejo das Olimpíadas e Paralimpíadas do Rio de Janeiro e de Tóquio, em 2016 e 2020, respectivamente.

    É preciso salientar também as negociações em curso para a difusão em todo o país do sistema de polícia comunitária "koban", como parte da cooperação na área da segurança pública e da cidadania.

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