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    Presidentes chinês e taiwanês celebram reunião histórica

    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    07/11/2015 08h02 - Atualizado às 16h54

    Wong Maye-E/Associated Press
    Presidentes de Taiwan, Ma Ying-jeou (esq.), e da China, Xi Jinping, trocam aperto de mão
    Presidentes de Taiwan, Ma Ying-jeou (esq.), e da China, Xi Jinping, trocam aperto de mão

    Com um longo aperto de mão, os presidentes da China, Xi Jinping, e de Taiwan, Ma Ying-jeou, marcaram neste sábado (7) o primeiro encontro em 66 anos entre dois ex-inimigos da Guerra Fria (1947-1991). Apesar de nenhum acordo concreto ter sido anunciado, ambos descreveram o momento como um sinal de uma nova fase nas relações.

    Os dois homens sorriram amplamente no mais de um minuto de duração do cumprimento, trocado no salão de um hotel no território neutro da cidade-Estado de Cingapura, no Sudeste Asiático.

    Nenhuma bandeira nacional foi exposta -uma medida necessária para superar a posição chinesa de se recusar a reconhecer a soberania taiwanesa ou a legitimidade formal de seu governo.

    Para evitar problemas de protocolo, os dois não utilizarão a palavra "presidente" para dirigir-se ao outro, optando apenas por "senhor".

    Em breves declarações iniciais antes do início de uma reunião de uma hora a portas fechadas, Xi disse: "A história registrará esse dia".

    Ele também fez referência aos objetivos de longa data chineses de unificação com Taiwan, afirmando: "Somos uma família (...) Nenhuma força pode nos dividir".

    "O povo chinês, de ambos os lados do estreito de Taiwan, tem a capacidade e a sabedoria de resolver os próprios problemas", acrescentou o líder chinês.

    Ma, por sua vez, afirmou que "ambos os lados deveriam respeitar os valores e o modo de vida um do outro". O presidente taiwanês também reconheceu que as relações entre os dois lados estão "no nível mais pacífico e estável que já estiveram".

    DIVISÃO

    Antiga colônia japonesa, Taiwan -historicamente chamada de Formosa, um nome dado por navegadores portugueses- foi entregue à República da China sob os termos da rendição do Japão na 2ª Guerra (1939-1945).

    Mas, quando os comunistas de Mao Tsé-tung ganharam a guerra civil chinesa, em 1949, os nacionalistas derrotados de Chiang Kai-shek transferiram seu governo inteiramente para a ilha.

    A China comunista, porém, ainda reivindica a reunificação com Taiwan -pela força, se necessário-, enquanto muitos cidadãos da ilha democrática cada vez mais preferem simplesmente manter o status de separação que o território esculpiu por mais de seis décadas.

    A ilha cumpriu um papel importante durante a Guerra Fria como um posto avançado da influência ocidental, especialmente dos EUA, que seguem dispostos a defender Taiwan de qualquer agressão chinesa.

    Depois de décadas de desconfiança, as costas do estreito de Taiwan seguem fortemente militarizadas, mas desde que Ma chegou ao poder, em 2008, o clima político melhorou.

    Cada um dos líderes espera selar seu legado como aquele que ajudou a pôr fim a décadas de divisão e de desconfiança.

    Críticos do líderes taiwanês, porém, temem que a reunião com o presidente chinês e contatos similares no futuro possam abrir caminho para um crescimento do controle de Pequim sobre a ilha, aumentando ainda mais seu isolamento internacional.

    Taiwan não é membro da ONU e de outras organizações multinacionais e, nas Olimpíadas, compete como "Taipei Chinesa". A maioria dos países não reconhece a ilha como um país.

    No entanto, em um coletiva concedida no final da reunião a portas fechadas, Ma disse ter discutido com Xi o desejo da população de Taiwan de maior participação na sociedade global.

    Segundo o líder taiwanês, o presidente chinês prometeu avaliar de forma apropriada, e caso a caso, cada movimento da ilha em direção a esse objetivo.

    O dirigente taiwanês relatou que propôs a instalação de um "telefone vermelho" entre os dois lados e afirmou que o colega chinês respondeu de maneira favorável à demanda.

    SEM EFEITO

    De acordo com o analista J. Michael Cole, especializado na política chinesa, o encontro abordou generalidades e não mudará praticamente nada.

    Cole recordou que Ma deixará o poder em breve, já que não pode disputar as eleições de janeiro em Taiwan.

    "É histórico porque é a primeira reunião, mas não chegaria a dizer que é muito importante", afirmou.

    PROTESTOS EM TAIWAN

    Pichi Chuang - 6.nov.2015/Reuters
    tivistas protestam contra a reunião dos presidentes de Taiwan e da China em Taipé, capital da ilha
    tivistas protestam contra a reunião dos presidentes de Taiwan e da China em Taipé, capital da ilha

    A aproximação não dissipou a desconfiança, especialmente do lado taiwanês.

    Na ilha foram registrados protestos no aeroporto de Taipé antes da viagem do presidente Ma. Os manifestantes queimaram fotos dos dois governantes, ao mesmo tempo que chamaram Xi de "ditador chinês" e Ma de "traidor".

    Na sexta-feira (6) à noite, manifestantes que exibiam cartazes com o lema "Independência de Taiwan" tentaram invadir o Parlamento de Taipé.

    A ilha perdeu sua cadeira na ONU em 1971 em benefício da China e apenas 22 pequenos países a reconhecem formalmente, em boa parte latino-americanos e do Caribe, o que provoca um importante ressentimento entre os taiwaneses.

    A oposição taiwanesa acusa o presidente de querer aproveitar a reunião para favorecer o seu partido, Kuomintang, que está mal nas pesquisas para as eleições presidenciais de janeiro.

    De acordo com os analistas, a China teria aceitado o encontro, depois de recusar a proposta por algum tempo, para ajudar o Kuomintang ante a oposição, que tem um discurso mais independentista.

    O encontro também é interpretado como uma tentativa de Pequim de parecer conciliador e desviar a atenção do clima de tensão provocado por seu expansionismo no mar da China Meridional, onde disputa com vários vizinhos a soberania de várias ilhas.

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