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    Candidato a vice de Scioli tenta aparar arestas no peronismo

    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES

    12/11/2015 02h00

    Considerado o "kirchnerista infiltrado" na chapa de Daniel Scioli, candidato da situação à Presidência da Argentina, o secretário de assuntos jurídicos da Casa Rosada, Carlos Zannini, é conhecido pelas poucas palavras e pela fidelidade à presidente Cristina Kirchner.

    No fim de semana, ele falou à Folha em Ituzaingó, a 30 km de Buenos Aires.

    À pergunta sobre se Scioli seria a "Dilma" de Cristina respondeu: "Scioli é Scioli, Cristina é Cristina. A própria Cristina diz: 'Não o comparem a mim'. Esta será uma nova etapa", afirma o candidato a vice-presidente de Scioli.

    "O que [Scioli] vai fazer com a melhor presidente que a Argentina já teve? Excluí-la? Não. Ela poderá aportar sua experiência. Mas, quando dizem isso, estão fazendo campanha para debilitar Scioli. Ninguém pretende dirigir o governo de ninguém."

    Marcos Brindicci - 20.out.2015/Reuters
    O candidato governista Daniel Scioli (dir.) conversa com seu vice, Carlos Zannini, em Buenos Aires
    O candidato governista Daniel Scioli (dir.) conversa com seu vice, Carlos Zannini, em Buenos Aires

    A aparição de Zannini nesta fase da campanha tenta controlar diferenças internas no peronismo. Mas, para ele, a disputa é entre "neoliberais", liderados por Mauricio Macri, e os representantes de "projetos nacionais".

    "Lula tinha isso muito claro. O segundo turno permite que os projetos populares e os neoliberais se expressem de modo claro. Deixemos o povo escolher", disse, sob gritos de "Viva a Pátria!" de eleitores que ouviam a conversa.

    "Não se trata de defender uma candidatura. Todos entendemos que a classe média pode precisar de coisas novas, pode estar em alguma medida insatisfeita. Mas todos temos de entender também que antes de 2001 [ano da crise] também nos esforçávamos e não conseguíamos resultado. O que mudou? A política econômica. Se eliminarmos a política econômica neoliberal, a Argentina tem uma força impressionante."

    DIREITOS SOCIAIS

    Uma eleitora grita que o povo não abrirá mão dos seus direitos. É a deixa para Zannini. "Vamos voltar atrás no casamento igualitário? No direito das mulheres? Há muitas coisas em risco", afirma.

    "Em toda a América Latina, movimentos nacionais e populares como o nosso estão sofrendo pressão do neoliberalismo, que quer voltar. Eles dizem: 'Vamos respeitar as políticas sociais'. Mas já não são políticas sociais, são direitos sociais."

    Zannini chegou à campanha de Scioli pelas mãos de Cristina, embora a versão oficial diga que o presidenciável o convidou.

    Com um homem de sua confiança na chapa, a presidente anunciou apoio a Scioli, que não era o candidato preferido dos kirchneristas.

    Teria origem aí a dupla imagem de Scioli, ora visto como defensor de Cristina, ora visto como líder de uma oposição interna contra o kirchnerismo.

    Diante de uma disputa mais acirrada contra a oposição, Zannini tenta mostrar unidade. Participa de comícios com Scioli e reforça a mensagem de que o candidato representa a continuidade do governo de Cristina.

    "Querem nos fazer votar pela notícia, não pela história. Não querem que vejamos o caminho que trilhamos até aqui, querem que vejamos o problema de ontem, se Cristina olhou para Scioli... é mal intencionada essa visão. Querem mais valor à forma do que ao conteúdo."

    Para ele, é preciso aprofundar o trabalho de Cristina.

    Sobre dificuldades que pode ter caso assuma a Vice-Presidência, Zannini atribui os riscos à crise internacional.

    "Quem terá um governo fácil se temos um mundo onde os preços das commodities caíram 40%? Se temos um mundo que agride os Brics, que trata de lhes transmitir a crise? Para ninguém será fácil. Mas, com a experiência que acumulamos e com as decisões políticas que foram tomadas, estamos em melhores condições do que ninguém para continuar aprofundando esse caminho."

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