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    Acordo de opositor argentino reaviva debate sobre políticas para mulheres

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES
    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES

    13/11/2015 02h00

    O anúncio de acordo entre o candidato conservador Mauricio Macri (Mudemos) e um médico do grupo católico conservador Opus Dei que se opõe a práticas anticoncepcionais reanimou o debate sobre políticas de gênero na Argentina, às vésperas do segundo turno presidencial.

    Presidente da Fundação Conin, prestigiada pelo combate à desnutrição infantil, Abel Albino é autor do livro "Gobernar es Poblar" (governar é povoar), em que defende a ideia de que "a desnutrição infantil é uma doença cultural própria de lugares em que o ato sexual é praticado sob efeitos de uma veemência descontrolada e irracional".

    Se Macri, que lidera as pesquisas, for eleito, Albino será o responsável por expandir no país seu projeto de combate à desnutrição, já implantado em Buenos Aires.

    Juan Mabromata - 3.jun.2015/AFP
    Mulheres protestam em frente ao Congresso argentino na manifestação "Ni una menos"
    Mulheres protestam em frente ao Congresso argentino na manifestação "Ni una menos"

    "Estaríamos correndo o risco de institucionalizar o combate à desnutrição com a ideia de que mulheres devem estar sempre dentro de casa, mantendo os abortos na ilegalidade, um retrocesso ao pior obscurantismo", disse à Folha a deputada Victoria Donda.

    Donda foi uma das líderes da luta para que o feminicídio passasse a ser crime no país. Além dessa lei, em 2009, a gestão de Cristina Kirchner aprovou legislação de proteção a mulheres agredidas e o direito à mudança de sexo.

    O debate sobre o aborto, porém, segue travado no Congresso por oposição pessoal da presidente. Na Argentina, a interrupção da gravidez é permitida só em casos de estupro e má-formação do feto.

    Em suas campanhas, tanto Macri como seu rival, Daniel Scioli, têm se posicionado contra o aborto e evitado abordar temas de gênero.

    "É um retrocesso em relação ao aumento da conscientização social sobre os crimes contra a mulher", afirma a jornalista Patricia Kolesnikov.

    Nos primeiros meses do ano, a campanha "Ni Una Menos" levou centenas de milhares às ruas em Buenos Aires. Segundo dados de ONGs, mais de 200 mulheres morrem vitimadas pela violência doméstica no país todo ano.

    Na época, ativistas pediam também lei para criminalizar os "piropos", cantadas com conotação sexual. Macri se envolveu, então, em outra polêmica ao dizer que "mulheres gostam de ouvir cantadas, mesmo quando lhes dizem que têm uma linda bunda". Depois, advertido por uma filha, ele pediu desculpas.

    "O tema perdeu espaço na campanha porque, para os estrategistas, não é uma preocupação que rende votos. Dizem que devem falar de insegurança, trabalho e corrupção. Políticas de gênero não são prioridade", diz Kolesnicov.

    Ainda assim, ela crê que o "Ni Una Menos" gere mudanças no comportamento da sociedade. "Já não é mais natural que se façam gracinhas machistas, há um incômodo quando isso acontece."

    Já para Selva Almada, autora de "Chicas Muertas", livro-reportagem sobre assassinatos de garotas, os candidatos falam do tema de modo superficial "apenas para trazer a bandeira para o lado deles, mas não está na agenda de nenhum dos dois".

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