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    paris sob ataque

    ANÁLISE

    Terrorismo não tem identidade

    HUSSEIN KALOUT
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    14/11/2015 17h25

    Paris viveu um cenário impiedoso de horror. Sob o impacto de profunda consternação, é complexo manter a temperança e conter a suprema indignação.

    Mas, é necessário analisar com resiliência causa e efeitos desses bárbaros atos e compreender as dimensões de sinais políticos que emanam por trás dessas imperdoáveis ações terroristas do Estado Islâmico (EI).

    Em primeiro lugar, há um problema na forma como se observa e se interpreta a impetração de atos terroristas em domínios de países que compõem as fronteiras do mundo ocidental em justa comparação a atos similares ocorridos em territórios de nações que professam a fé muçulmana.

    Na quinta-feira (12), a capital do Líbano, Beirute, sofreu com o terrorismo do EI.

    Em uma série de explosões, mais de 40 pessoas perderam a vida e o número de feridos ultrapassa as duas centenas.

    Na Turquia, recentemente, a mesma organização ceifou a vida de cerca de cem pessoas que se manifestavam pacificamente nas proximidades da Estação Central de trens de Ancara.

    No Kuwait, não faz tempo, uma explosão culminou na morte de dezenas de inocentes que rezavam numa mesquita na capital do país.

    Essa visão intermitente de olhar para esse mesmo tipo de flagelo sob um espelho de diferentes reflexos é uma das matrizes dos equívocos dos quais incorremos com frequência no Ocidente.

    Um ataque terrorista ocorrido em qualquer cidade europeia ou médio-oriental, deveria ser visto com a mesma gravidade.

    Ao consentir, ainda que inconsistentemente, com o terrorismo no Oriente Médio como algo naturalmente corriqueiro, as democracias do mundo civilizado abrem caminho para que esse mesma chaga adentre e se instale em seu território.

    Em segundo lugar, é necessário defrontar a questão do terrorismo internacional não apenas sob os meros quesitos das motivações ideológicos, mas, outrossim, sob olhar de quem dolosamente patrocina tais atrocidades contra civis indefesos nos mais variados lugares no mundo.

    Nesse sentido, não pode haver dubiedade na correlação entre interesses econômicos e geopolítico, por um lado, e de combate aos terroristas e seus mantenedores, por outro lado.

    É importante realçar que agremiação criminosa como o EI é financiada pelos petrodólares dos mesmo atores que financiam as indústrias bélicas do mundo ocidental, entre as quais, a francesa.

    O terrorismo que assola o mundo ocidental ou médio-oriental emana da mesma matiz islâmica. A ultraortodoxia doutrinária de fendas minoritárias do Islã, como o do salafismo-wahabita, tem sido a corrente de inspiração dos terroristas de Al Qaeda, EI e a Frente Al-Nusra.

    Não obstante, a inércia da diplomacia europeia ao negligenciar a gravidade da realidade síria é parte dessa tragédia. Os chamados "rebeldes" eram ou são, simplesmente, parte da teia do EI.

    O modus operandi de praticar o terror mudou.

    Os ataques não mais necessariamente ocorrem contra símbolos políticos ou econômicos -como os atentados de 11 de setembro nos EUA.

    Contra esse método não há aparato de inteligência que seja capaz de cobrir todas as lacunas. Somente um esforço internacional sério pode limitar suas afluências e salvar a vida de inocentes.

    A impunidade confere aos terroristas a ousadia e a sensação do "poder fazer" contra quaisquer indivíduos em qualquer fronteira.


    HUSSEIN KALOUT é pesquisador da Universidade Harvard

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