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    Acuado, chavismo manobra para tentar vencer eleições venezuelanas

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    15/11/2015 02h04

    O presidente Nicolás Maduro avisou: a eleição parlamentar de 6 de dezembro será a mais difícil já enfrentada pelo chavismo em 16 anos de poder na Venezuela.

    A disputa pelas 167 vagas do Legislativo unicameral começou oficialmente na sexta (13) em um contexto de crise econômica, desabastecimento e ânimos acirrados com a prisão pelos EUA de dois sobrinhos da primeira-dama acusados de narcotráfico.

    Todas as pesquisas indicam vitória da oposição, com vantagem de 20 a 30 pontos percentuais. Maduro tem apenas 22% de apoio, segundo o instituto Datanálisis.

    "Pela primeira vez [desde a chegada ao poder do então presidente Hugo Chávez, em 1999], não há dúvida que o chavismo é minoria", disse Luis Vicente León, do Datanálisis, a uma rádio local.

    Boris Vergara - 4.nov.2015/Xinhua
    Funcionário do Conselho Nacional Eleitoral faz prova com tinta indelével que será usada nas eleições
    Funcionário do Conselho Nacional Eleitoral faz prova com tinta indelével que será usada nas eleições

    Para contornar esse cenário, o governo vem recorrendo a manobras que críticos enxergam como um pacote de trapaças.

    A mais recente parece ser uma tentativa de confundir o eleitor.

    No cartão de voto com as opções de partidos e candidatos, a sigla governista Min-Unidade aparece ao lado da coalizão opositora Mesa da Unidade (MUD), com cores e logotipos parecidos.

    A prioridade da MUD neste início de campanha tem sido alertar simpatizantes a não votar na Min-Unidade por engano.

    O governo também alegou mudanças de volume populacional para redesenhar o mapa das circunscrições de maneira a aumentar a representatividade das áreas chavistas. Nesta jogada, zonas opositoras perderam quatro deputados.

    CANDIDATURAS FREADAS

    Vários opositores foram impedidos de se candidatar sob pretextos como irregularidade na declaração de Imposto de Renda.

    Em junho, a oposição foi pega de surpresa por uma ordem do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) que, 20 dias após o prazo legal para definir as regras da votação, exigiu paridade de gênero nas listas de candidatos. Isso obrigou os antichavistas a reconfigurarem suas listas.

    Alegando combate ao contrabando, Maduro decretou Estado de exceção em zonas fronteiriças com a Colômbia onde predomina o voto opositor. Ao restringir liberdade de expressão e de reunião, limitou a campanha rival.

    Juan Barreto - 9.set.2015/AFP
    Soldado venezuelano vigia ponto de passagem em Paraguachón, na fronteira com a Colômbia
    Soldado venezuelano vigia ponto de passagem em Paraguachón, na fronteira com a Colômbia

    Tanto governo quanto oposição violaram a lei ao começar a campanha antes do prazo legal de 13 de novembro.

    O chavismo, porém, também é acusado por ONGs de usar recursos públicos para fins eleitoreiros.

    Candidato pelo governista PSUV, o ministro dos Transportes, Haiman El Troudi, vem inaugurando obras com farta cobertura da imprensa amplamente cooptada.

    "Os candidatos do governo que menos cometem abuso de recursos públicos são os que entregam computadores e tablets, e os que cometem as maiores irregularidades são os que oferecem casas e inauguram obras", disse à Folha o secretário-geral da MUD, Jesus Torrealba.

    Maduro nega os abusos, mas promete vitória "seja como for". O governo não quis falar com a reportagem.

    Apesar do esforço, é palpável a irritação popular em um país com inflação de três dígitos, contração econômica de 10% (segundo o FMI) e violência de zona de guerra (com 62 assassinatos para cada 100 mil habitantes, o país é o segundo nesse ranking).

    "A prioridade do chavismo é estancar a perda de votos mais do que atrair novos eleitores", diz Oswaldo Ramirez, da ORC Consultores.

    As expectativas de uma vitória opositora, porém, esbarram em dois obstáculos.

    O primeiro é o complexo sistema de contagem, no qual a oposição precisaria vencer com margem mínima de 6% para ter maioria simples.

    O segundo é a histórica dificuldade da oposição de capitalizar a insatisfação do eleitor.

    "Mesmo sendo favoritos no papel, os opositores não entendem as comunidades e carecem de proposta que convença os mais humildes a votar neles", diz o historiador Alejandro Velasco.

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