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    Unasul escolhe nome fora do bloco para chefiar missão na Venezuela

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    16/11/2015 21h28

    Após o veto branco de Caracas ao ex-ministro brasileiro Nelson Jobim, a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) recorreu a uma figura de fora do bloco para chefiar a missão de acompanhamento na eleição parlamentar venezuelana de 6 de dezembro.

    O escolhido é o ex-presidente dominicano Leonel Fernández (2004-2012), líder de centro-esquerda que ficou marcado pelo protagonismo internacional e pela capacidade de manter boas relações tanto com o então presidente Hugo Chávez (1954-2013), da Venezuela, quanto com George W. Bush, dos EUA.

    A indicação de Fernández, confirmada à Folha nesta segunda (16) por fontes ligadas à Unasul, é vista como uma tentativa de encerrar ao menos parcialmente a polêmica deflagrada pela resistência da Venezuela a Jobim, cujo nome tinha respaldo de todos os demais países do bloco.

    Orlando Barría - 20.ago.2015/Efe
    Leonel Fernández, ex-presidente da República Dominicana, que chefiará missão da Unasul em Caracas
    Leonel Fernández, ex-presidente da República Dominicana, que chefiará missão da Unasul em Caracas

    O brasileiro atribuiu a decisão de barrá-lo às exigências de garantias que havia formulado para que a Unasul pudesse fazer uma observação crível, capaz de dirimir temores de fraude por parte de um governo impopular.

    Em apoio a Jobim, o Tribunal Superior Eleitoral se retirou da missão. Desde então, não está claro como o Brasil participaria do processo.

    A indicação de Fernández mostra que a Unasul não conseguiu chegar a consenso sobre uma figura sul-americana para substituir Jobim, segundo o analista Kenneth Ramirez, do centro de estudos Conselho Venezuelano de Relações Internacionais (Covri).

    "Fernández é um político pragmático com ampla experiência de conciliação internacional", diz Ramírez.

    Mas alguns setores da oposição venezuelana questionam a independência de Fernández. "A escolha não me surpreende, já que é uma figura vinculada à esquerda latino-americana e que teve papel vital no triunfo de Chávez em 1998", diz Kiko Bautista, da sigla Voluntad Popular.

    O opositor se refere ao apoio de campanha que Chávez recebeu de Santo Domingo, conforme detalhado no livro "Estratégia e assessoria política" (em tradução livre), do marqueteiro dominicano Rafael Céspedes Morillo, ex-assessor de Fernández.

    "Certamente não será um conservador que servirá ao chavismo para reforçar a ideia de uma Unasul como escudo de proteção contra os EUA", afirma Bautista.

    MANDATO DA MISSÃO

    A definição do chefe da missão também não atenua as preocupações sobre seu alcance. O convênio assinado na semana passada entre Unasul e Venezuela, após semanas de atraso, permitirá aos membros da missão circular pelos centros de votação e falar com opositores.

    Mas, num aspecto que restringe a devida fiscalização, eles não terão status de observadores e deverão se abster de emitir críticas contundentes ao processo.

    O atraso no convênio e a consequente demora na chegada da missão também inviabilizam a avaliação abrangente do ambiente institucional e da equidade de campanha, como queria o TSE.

    SOBRINHOS DA PRIMEIRA-DAMA

    Um dos homens mais poderosos do chavismo, o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, disse nesta segunda-feira que os dois sobrinhos da primeira-dama recém-detidos no Haiti e levados aos EUA sob suspeita de narcotráfico estão "sequestrados" pelo governo americano.

    Cabello afirmou ainda que a operação é uma "armação".

    Os sobrinhos de Cilia Flores, mulher do presidente Nicolás Maduro, são acusados de tentar levar para os EUA um grande carregamento de cocaína.

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