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    paris sob ataque

    Saint-Denis concentra imigrantes e pobreza pós-apogeu industrial

    VINICIUS TORRES FREIRE
    ENVIADO ESPECIAL A PARIS

    19/11/2015 00h58

    A história de Saint-Denis não difere muito do que se passa no subúrbio belga de Molenbeek, ninho de terroristas e combatentes islâmicos onde se organizaram os atentados de Paris, na sexta.

    Talvez seja menos extrema no radicalismo islâmico, no número de mesquitas problemáticas e no alcance da pobreza. Assim como o subúrbio belga fica na periferia imediata de Bruxelas, Saint-Denis fica no limite norte de Paris.

    Kenzo Tribouillard/AFP
    Policiais tentam entrar em igreja em Saint-Denis durante busca a terroristas
    Policiais tentam entrar em igreja em Saint-Denis durante busca a terroristas

    Foi uma grande cidade industrial, de metalurgia e máquinas, empresas que entraram em crise terminal nos anos 70 e 80, como a indústria de Molenbeek.

    Com a crise, o esvaziamento da cidade e da construção de conjuntos habitacionais, migrantes do norte da África começaram a chegar em grandes levas. Muitos se juntaram à massa que perdia emprego. O crime aumentou.

    Saint-Denis elegeu o primeiro prefeito socialista da França, no final do século 19. Ainda hoje, é um bastião comunista, partido do prefeito Didier Paillard, que em 2006 promoveu um plebiscito para dar direito de voto a estrangeiros, desqualificado como ilegal pela Justiça francesa.

    Na cidade fica a antiga sede do jornal comunista "L'Humanité", projetada por Oscar Niemeyer. Além de uma mesquita salafista (fundamentalista) e radical, Saint-Denis abriga a grande catedral gótica que leva o nome da cidade e conserva os túmulos dos reis da França.

    Não longe dali, a cerca de 8 km, começará em 11 dias a Conferência do Clima, COP21.

    Hoje, Paillard era recriminado nas ruas próximas onde ocorreu o ataque da polícia ao "aparelho" terrorista.

    Moradores da região dizem que o prefeito não quer autorizar a instalação de câmeras de segurança e que as ruas de La République e Corbillon são centros de tráfico de drogas –quase na esquina fica o prédio invadido pela polícia.

    Dizem ainda que a polícia não ligava nem para os salafistas nem para os traficantes e seus tiroteios usuais.

    Um adolescente que mora no prédio vizinho ao do confronto desta quarta (18) fazia piadas sobre a polícia, que arriscava provocar com caretas.

    Ismahil Bechar não cansava de repetir a gravação das explosões, que fez em seu celular: "Não tive medo. Logo todo mundo falou que a polícia estava atacando terroristas. Ninguém aqui do bairro é radical como dizem por aí."

    Você está se sentindo mais discriminado após os atentados deste ano (em janeiro, contra o "Charlie Hebdo" e agora), indaga a Folha. "Não mais que o normal. Dizem que a gente não se integra, é piada. Sou como qualquer moleque francês", responde.

    "A gente não é mais integrado porque nossa escola é pior e porque não tem mais emprego. Quando meu avô veio do Marrocos, ele arrumou a vida, foi operário depois vendedor. Agora isso não existe mais".

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