• Mundo

    Sunday, 19-May-2024 10:48:40 -03

    paris sob ataque

    Mulher extremista da França não lia o Alcorão, dizem testemunhas

    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    20/11/2015 13h38 - Atualizado às 18h02 Erramos: esse conteúdo foi alterado

    Hasna Ait Boulahcen, prima do extremista apontado como mentor dos ataques em Paris, passou por uma radical transformação de personalidade no curto período de apenas alguns meses.

    De garota que curtia festas e sempre circulava com um chapéu de caubói, passou a fazer planos de ir à Síria para se juntar ao Estado Islâmico, de acordo com pessoas próximas a ela ouvidas por vários veículos internacionais.

    Hasna Aitboulahcen

    Ela acabou servindo de isca para que seu primo, o belga Abdelhamid Abaaoud, fosse encontrado e morto pelas autoridades durante uma megaoperação na quarta-feira (18).

    Inicialmente, o governo francês disse que Hasna havia morrido ao acionar explosivos que trazia junto ao corpo.

    Nesta sexta-feira (20), porém, a agência de notícias AFP, a TV iTélé e o jornal "Le Figaro" afirmaram que a pessoa que detonou um cinto de explosivos durante a ação policial era na verdade um homem, cujo corpo foi encontrado nesta sexta e ainda não foi identificado.

    Na terça (17), um dia antes do operação policial, a polícia francesa passou a seguir Hasna na esperança de que ela e o primo se encontrassem. O celular dela já vinha sendo rastreado pelas autoridades por causa de um processo relacionado a drogas, o que permitiu segui-la até Saint-Denis, ao norte da capital francesa.

    "Uma vigilância física nos permitiu estabelecer que a mulher e o extremista estavam juntos no prédio da rua Corbillon", disse um agente sob anonimato.

    Um vídeo mostra a conversa entre ela e os policiais durante a operação.

    "Onde está seu namorado, onde está?", grita um policial de elite. Uma voz rouca e estridente responde: "Ele não é meu namorado!". Seguem detonações e, pouco depois, uma explosão.

    Mapa dos locais do atentados em Paris

    MUDANÇA RADICAL

    Há seis meses, a súbita transformação da jovem de 26 anos surpreendeu os moradores de Aulnay-sous-Bois, uma cidade da região metropolitana de Paris.

    Hasna "havia começado a usar o hijab [túnica que cobre parte do corpo, cabelo e deixa o rosto à mostra], (...) mas não procurava estudar a religião; eu nunca a vi abrir um Alcorão", indicou à agência AFP um homem que se apresentou como seu irmão e que pediu anonimato.

    "Ela estava sempre com seu smartphone no Facebook e WhatsApp", contou, acrescentando: "Três semanas atrás, ela partiu para morar com uma amiga em Drancy."

    O mesmo espanto foi sentido em Creutzwald, cidade no leste da França, para onde a jovem ia com frequência visitar seu pai, de 74 anos.

    Lá, ela é lembrada como uma menina festeira, "com seu chapéu e botas de cowboy", que "de vez em quando fumava e bebia nas festas", conta um velho amigo, Jerome.

    Nascida em agosto de 1989 nos arredores de Paris, Hasna teve uma infância difícil, marcada por maus-tratos. Ela foi colocada em um lar adotivo entre 8 e 15 anos.

    "No início, tudo corria bem. Era uma garota como qualquer outra", mas sem qualquer gesto de ternura, lembra sua mãe adotiva.

    Então as coisas se deterioram. A mãe adotiva se lembra do 11 de Setembro de 2001, quando a menina "aplaudia os ataques aos EUA assistindo à TV".

    O pai, um muçulmano praticante que deixou a família para trabalhar, está atualmente no Marrocos.

    Aos poucos, a adolescente passou a fazer apenas o que lhe agradava e tinha gestos estranhos. "Ela sempre envolvia sua cabeça com um pano e dizia que era o diabo à noite".

    Ela deixou a família adotiva de repente, aos 15 anos. O último contato foi em 2008. "Quando ela saiu, eu disse a mim mesma: 'Está perdida", disse a mãe adotiva, que chorou ao ver a imagem de Hasna na televisão.

    "Ao crescer, ela perdeu as referências, multiplicou as fugas, as más companhias", resumiu seu irmão.

    De acordo com uma fonte próxima ao caso, a jovem era fichada na polícia por um caso ligado às drogas.

    Depois de sua súbita radicalização, a jovem "passava seu tempo criticando tudo, ela não aceitava nenhum conselho e mantinha relações questionáveis", lembra o irmão. "Estamos muito tristes por todas as vítimas", afirmou.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024