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    Trajetória e esporte unem Macri e Scioli

    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES
    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES

    22/11/2015 02h00

    Nascidos na política nos anos 1990, com paixão pelo futebol e pela alta sociedade, o opositor Mauricio Macri, 56, e Daniel Scioli, 58, que representa o governo Cristina Kirchner nas urnas, se enfrentam neste domingo (22) pela Presidência argentina.

    Vença quem vencer, os dois representam uma nova geração no topo do poder no país.

    Sem passagem por movimentos de resistência na ditadura militar nem na redemocratização, não são conhecidos por defenderem ideologias e já eram famosos (e ricos) antes da política.

    Filhos de empresários, estudaram em escolas que preparam a elite do país: Scioli na Carlos Pelegrini e Macri na Cardenal Newman. Ingressaram na política depois dos 40.

    19.nov.2015/Efe
    BAS10. HUMAHUACA (ARGENTINA), 19/11/2015.-El candidato a presidente de Argentina por el frente conservador Cambiemos, Mauricio Macri, cierra hoy, jueves 19 de noviembre de 2015, su campaña para la segunda vuelta del domingo con un tono triunfalista, arengando a un cambio político que, aseguró, "ya llegó". "Quiero trabajar todos los días para ayudarlos a que ustedes vivan mejor. Voy a dejar lo que tengo y lo que no tengo para que los argentinos tengan mejores oportunidades", dijo Macri en un acto al pie del monumento a la Independencia en Humahuaca, una pequeña localidad de la provincia de Jujuy, en el extremo noroeste del país. ORG XMIT: BAS10
    Mauricio Macri, do Mudemos, faz último comício em Jujuy

    Scioli tentou criticar o adversário na última semana, declarando-se um trabalhador que enfrenta um menino rico do Barrio Parque, região abastada da capital.

    Segundo o cientista político peronista Júlio Bárbaro, não é bem assim: "Scioli nasceu mais rico".

    O candidato da situação nasceu numa família dona de uma famosa rede de eletrodomésticos; Macri, da coligação Mudemos, é filho de um empresário italiano que veio para a Argentina nos anos 1940 e se tornou um dos mais ricos do país, atuando na construção civil.

    Para Bárbaro, o histórico familiar permite inferir que o próximo presidente abandonará o resgate dos anos 70 feito por Cristina e o radicalismo de esquerda, seja ele quem for. "A esquerda violenta deixa de ter vigência, a não ser como uma recordação."

    Pode-se esperar, portanto, um novo estilo no comando do país vizinho, aposta Javier Zelaznik, professor de ciência política e estudos internacionais da Universidade Torcuato Di Tella.

    "Ambos têm como hábito o diálogo com todos os setores, mas, por outro lado, nenhum projeta a imagem de um líder político, como tinham Carlos Menem, Néstor e Cristina Kirchner", diz. "São mais cautelosos ao falar e dizem pouco em palavras."

    Segundo o acadêmico, ambos são diferentes de Cristina porque admitem falhas em suas gestões (Macri na capital, Scioli na província de Buenos Aires). Outra marca comum é o retorno do poder a dois habitantes de Buenos Aires, após presidentes vindos de Santa Cruz (Kirchner) e La Rioja (Menem).

    "Os Kirchner têm uma visão do mundo olhando desde o interior, distante do centro dinâmico do país."

    AMIGOS

    Foi durante suas férias de 1996 na Sardenha, rodeado de amigos da elite argentina e italiana, que Scioli falou pela primeira vez em se tornar político. A história é contada por Walter Schmidt e Pablo Ibáñez na biografia "Scioli Secreto". Macri fazia parte do grupo e só não ouviu o anúncio porque saíra pouco antes.

    O peronista, porém, contaria a Macri pouco depois sobre seu interesse de trocar a motonáutica pela política.

    O opositor presidia o Boca Juniors e, em 2003, tentaria pela primeira vez ser prefeito da capital Buenos Aires.

    Os biógrafos de Scioli o descrevem como próximo de Macri. O enfrentamento da campanha no segundo turno, entretanto, pode ter afastado os velhos amigos. "Sempre tento encontrar uma forma de perdoar, mas as coisas que disse sabendo que são mentira não são boas para ele", disse Macri na quinta (19).

    Os encontros de Scioli e Macri não param por aí.

    Os dois se depararam com a mesma idade, aos 32 anos, com eventos que mudaram para sempre as suas vidas. Scioli perdeu o braço direito em 1989, durante uma competição de barcos de velocidade. Com a mesma idade, em 1991, Macri foi sequestrado e ficou 12 dias em cativeiro. Foi depois dessas experiências que ambos teriam despertado para a política.

    Tanto Scioli quanto Macri compartilham uma incontida atração pelas câmeras de TV, inscrevendo-se numa tradição argentina informalmente conhecida como "política de la farándula" (política do showbiz).

    São frequentemente convidados a programas de entretenimento, e ambos colecionam hits nas redes sociais.

    Macri fez um cover de "We Will Rock You" que foi exibido pelo programa "Caiga Quien Caiga" aos próprios integrantes do Queen. De Scioli pode-se ver várias de suas corridas de lancha e os bastidores do acidente.

    Eleição na Argentina - Candidatos se enfrentam

    Os dois também tiveram seus casamentos com as belas Juliana Awada (Macri) e Karina Rabolini (Scioli) documentados. Também amigas, as duas compartilharam a estilista Evangelina Bomparola para assinar as roupas que usaram no primeiro debate presidencial de segundo turno da Argentina, dia 15.

    Os dois casais também já contaram a apresentadores famosos, como Susana Gimenez, detalhes sobre como começaram a namorar.

    Mas é no futebol que parece estar a maior afinidade entre ambos. Macri, que foi presidente do Boca Juniors entre 1995 e 2003, continua acompanhando de perto e torcendo pelo time, como há duas semanas, quando comemorou o título da Copa Argentina no estádio.

    Já Scioli joga até hoje, integrando o time de futsal do Villa La Ñata, equipe do clube que ele mesmo criou.

    Ambos jogam praticamente todos os fins de semana. Scioli defende a camiseta laranja de sua equipe nos jogos regulares do campeonato oficial da modalidade. E Macri com os amigos no campo de futebol de sua casa de fins de semana em Los Abrojos.

    Scioli e Macri já se enfrentaram em vários amistosos.

    Para Bárbaro, porém, os dois diferem em como conquistaram poder para tentar alcançar a Casa Rosada.

    "Macri construiu o seu poder, Scioli herdou a força de uma política que não o queria [kirchnerismo]", diz.

    Para Pablo Knopoff, da consultoria Analítica, o vencedor, seja quem for, terá que mostrar liderança tão logo eleito. "Ambos têm pressa e deverão tomar decisões rapidamente para virar a página do kirchnerismo."

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