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    Novo presidente argentino terá de se afirmar rapidamente, diz analista

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES

    22/11/2015 13h16

    Para o analista político Jorge Castro, os argentinos dão um prazo mais curto do que outros países para a legitimidade oferecida a um governante pelas urnas.

    Para ele, tanto Mauricio Macri (Mudemos) como Daniel Scioli (Frente para a Vitória), ao assumirem, terão de provar rapidamente que podem armar sua própria estrutura de poder.

    "O risco é sua autoridade se diluir rapidamente se não mostrarem personalidade nas primeiras atitudes".

    Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista.

    *

    Folha - O que se pode esperar a partir de amanhã, quando soubermos quem será o novo presidente?
    Jorge Castro - A experiência histórica argentina nos explica que temos ciclos de dez anos, mais ou menos. E o que termina hoje, ganhe Macri ou ganhe Scioli, é o ciclo que se iniciou em 2003. Esse fim de ciclo é irreversível, porque está definido pelo colapso do atual sistema político.

    Qual será seu primeiro desafio?
    Consolidar sua estrutura de poder. Pode parecer algo óbvio, mas no caso argentino, há uma peculiaridade. Temos um período mais curto de tolerância dos eleitores. Como temos instituição frágeis, a credibilidade das pessoas com relação àqueles que votaram não dura muito. O voto dá apenas uma legitimidade de curto prazo, que se não for confirmada por atitudes, se perde rapidamente. Na Argentina, a legitimidade obtida pela via democrática se desvanece rapidamente, precisa ser substituída por uma legitimidade que vem do exercício do poder e da personalidade do líder. Portanto a etapa de consolidação de poder é muito importante, porque é preciso atuar rápido.

    Acha que a recuperação econômica pode ser rápida?
    Sim, se forem tomadas as medidas corretas. O problema da Argentina hoje não é econômico, mas sim político. Temos 30% de nossa capacidade agrícola parada. Podemos dar um salto nas exportações quase que de forma imediata.
    Outro erro é achar que não temos dólares porque faltam investimentos do exterior. Não é isso. A Argentina tem US$ 300 bilhões fora do país ou guardados fora do sistema bancário, muitas vezes, em casa mesmo. É o país com maior taxa de poupança particular do mundo. O que há de dólares na Argentina, mas fora do sistema oficial, corresponde a quase 70% do nosso PIB. É preciso trazer de volta à economia legal esse dinheiro.

    A Argentina poderia dar um salto nas exportações, como está dizendo. Mas há uma dificuldade com relação a quem compraria, num momento de desaceleração econômica mundial, não? O Brasil, por exemplo, deixou de comprar vários itens devido à crise.
    Há uma desaceleração na demanda por "commodities", mas especialmente as minerais e o petróleo. Só que a Argentina é um grande exportador de alimentos, e para isso, ao contrário, creio que a demanda só aumenta. No caso do Brasil, deve-se esperar uma normalização do comércio, que veio caindo nos últimos tempos.

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