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    Vaticano começa a julgar jornalistas acusados de vazar documentos

    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    24/11/2015 10h07

    O Vaticano inicia nesta terça-feira (24) o julgamento de cinco pessoas, incluindo dois jornalistas italianos e um padre espanhol, acusadas de divulgar documentos confidenciais que revelam a corrupção na Santa Sé.

    O julgamento acontecerá na sala do tribunal do Vaticano na presença da imprensa e terá poucas audiências.

    Os dois jornalistas, Gianluigi Nuzzi e Emiliano Fittipaldi, autores de livros sobre a corrupção na Cúria Romana, lançados em 5 de novembro, são acusados de divulgação ilícita de documentos confidenciais. Os livros se basearam em documentos, gravações, e-mails, atas de reuniões e fotos subtraídas dos arquivos do Vaticano.

    Os dois livros –"Via Crucis", de Nuzzi, e "Avarizia" (avareza), de Fittipaldi– revelam também a resistência interna contra as reformas propostas pelo papa Francisco.

    Esta é a primeira vez que o Vaticano processa jornalistas. O julgamento foi classificado pela imprensa italiana como uma "nova Inquisição".

    Depois de negar-se na semana passada a comparecer ante a polícia do Vaticano, Nuzzi anunciou na segunda-feira (23) em um comunicado que assistiria à audiência, apesar de o Vaticano não ter leis que garantam a liberdade de imprensa e proteção das fontes.

    Fittipaldi, da revista italiana "L'Espresso", também prometeu participar da audiência, e disse que "vazar documentos é algo constante em toda democracia".

    "Achei que investigariam os acusados de atividades delituosas, não as pessoas que denunciaram os delitos", comentou em uma coletiva de imprensa.

    A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), da qual a Santa Sé é membro, pediu na segunda-feira (23) ao Vaticano que retire as acusações contra os jornalistas, afirmando que eles têm direito de cobrir temas de interesse público e de proteger suas fontes.

    Além dos dois jornalistas, serão julgados o padre espanhol Lucio Ángel Vallejo Balda, 54, a consultora italiana Francesca Immacolata Chaouqui, 34, e um colaborador de Vallejo, Nicola Maio, 37, acusados de "formação de quadrilha" com o objetivo de divulgar notícias e documentos que afetam os interesses da Santa Sé.

    Vallejo é membro da Opus Dei e foi secretário da extinta Comissão de Estudo sobre a Organização das Estruturas Econômicas e Administrativas da Santa Sé (COSEA), de onde provém a maior parte dos documentos vazados. Ele é o único dos acusados que se encontra, desde 2 de novembro, detido em uma cela no Vaticano –Chaouqui chegou a ser presa, mas foi liberada em seguida.

    Umberto Pizzi/AFP
    In this photo taken on January 15, 2014 at the Parioli theatre Monsignor Lucio Angel Vallejo Balda (R) stands next to social media expert Francesca Chaouqui. The Vatican has arrested Vallejo and Chaouqui for allegedly stealing and leaking classified documents in the second such scandal to hit the secretive institution in three years. Monsignor Lucio Angel Vallejo Balda, 54, who served on a special commission set up by Pope Francis to advise him on economic reform within the Vatican, was arrested along with a second member of the commission, Francesca Chaouqui. The arrests were part of a several months-long investigation into the "misappropriation and disclosure of classified documents and information". AFP PHOTO / UMBERTO PIZZI ORG XMIT: ITA14224
    Francesca Chaouqui e o monsenhor Lucio Angel Vallejo Balda, que está preso

    VATILEAKS

    O escândalo de vazamento de dados da Santa Sé, "Vatileaks", foi revelado em 2012, sob o pontificado de Bento 16. Seu mordomo, Paolo Gabriele, foi acusado de roubar documentos do escritório do papa e condenado a 18 meses de prisão, mas foi perdoado pelo pontífice.

    Na época, Nuzzi escreveu um livro que compila as cartas pessoais do pontífice roubadas pelo ex-mordomo. O repórter de TV não foi julgado na ocasião porque o vazamento de informações ainda não era um crime no Vaticano.

    A divulgação de documentos reservados "contra a segurança do Estado" foi introduzida como delito no Código Penal da Santa Sé pelo papa Francisco em julho de 2013. Quem comete este delito está sujeito a uma pena de quatro a oito anos de prisão.

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