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    Presidente eleito argentino põe em evidência nova direita do continente

    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES
    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES

    29/11/2015 02h00

    Fotomontagem
    Da esq. para dir: Mauricio Macri,Aécio Neves, Luis Lacalle Pou, Henrique Capriles e Keiko Fujimori
    Da esq. para dir: Mauricio Macri,Aécio Neves, Luis Lacalle Pou, Henrique Capriles e Keiko Fujimori

    Uma nova geração de políticos de centro-direita vem emergindo como alternativa aos governos de esquerda "nacionais e populares" instalados na última década nos países da América Latina.

    A vitória de Mauricio Macri, na Argentina, coloca em evidência essa nova liderança, que se replica em países como Brasil, Uruguai, Venezuela e Peru.

    Em comum, eles têm como bandeira o pragmatismo. Pouco afeitos aos discursos ideológicos e às categorizações de esquerda versus direita, eles construíram sua identidade no confronto com o discurso do grupo político que está no poder, cujos símbolos maiores são o kirchnerismo, na Argentina, e o chavismo, na Venezuela.

    A 'NOVA DIREITA' LATINO-AMERICANA - Vitória de Macri marca 1ª derrota de governos de esquerda

    Após anos de exuberância econômica, patrocinada pela disparada no preço das matérias-primas, os latino-americanos têm agora que apertar os cintos. O esgotamento desse ciclo, evidenciado pela alta da inflação e do endividamento público, fez emergir uma agenda que promete austeridade e eficiência.

    "A ascensão desses políticos está fazendo com que a esquerda repense a ideia idílica de que havia um bloco na América Latina. A ideia da Pátria Grande está caindo por terra e gerando enorme senso de autocrítica, como se fosse necessário agora refletir por que se está perdendo espaço para esse tipo de político, mais pragmático e menos retórico", diz o estudioso de psicologia social Antonio Pérez García, da Universidade Católica do Uruguai.

    Na Argentina, além da economia, contribuiu o cansaço do eleitorado com a confrontação de tom nacionalista de Cristina Kirchner.

    Macri, 56, venceu entoando um discurso "light", prometendo cordialidade e felicidade. No dia de sua eleição, o opositor repetiu o bordão "os argentinos podem mais" e dançou no palco.

    Essa imagem embrulha o discurso da nova política de centro-direita.

    Superintendente executivo do Instituto FHC, o cientista político Sérgio Fausto vê semelhanças entre Macri e o PSDB brasileiro.

    "Não é um liberalismo radical ou a defesa do Estado mínimo, mas a ideia de que a intervenção estatal cresceu demais e provocou anomalias na economia que impedem o crescimento e geram efeitos indesejáveis em termos distributivos", afirmou.

    OUTRAS LIDERANÇAS

    Filho de um ex-presidente, o conservador uruguaio Luis Lacalle Pou, 42, do Partido Nacional, também se vende como "alternativa jovem".

    Representando a nova direita, ele perdeu a eleição em 2014, mas deu trabalho para Tabaré Vázquez, que só o superou na segunda rodada.

    Assim como Macri, o uruguaio é ativo nas redes sociais e entusiasta do canal direto entre o político e a sociedade, dando menos valor às estruturas partidárias, como os "punteros" na Argentina ou os "coletivos" venezuelanos.

    No país governado por Nicolás Maduro, as duas principais caras desse movimento são o opositor preso Leopoldo López e o governador Henrique Capriles.

    "Embora sejam identificados com a velha direita venezuelana, Leopoldo e Capriles não são filhos da oligarquia do país", diz Fausto.

    No Peru, que em abril vota para presidente, a direitista Keiko Fujimori, 40, lidera as pesquisas eleitorais com o slogan "Tenho a força de ser jovem e de ser mulher".

    Apesar de carregar o legado do ex-ditador Alberto Fujimori, Keiko repaginou a proposta do pai. Condena alguns aspectos de sua gestão, como as esterilizações forçadas.

    Ela se assemelha aos novos representantes da direita latino-americana ao ter um discurso duro contra a corrupção e o narcotráfico.

    Fausto, assim como Macri, rejeita a etiqueta de conservadorismo nessa nova onda. Diferentemente da direita tradicional, argumenta o analista, os novos políticos não têm base em setores religiosos. Mas tampouco têm na pauta legalização da maconha e do aborto ou casamento gay, temas caros à esquerda.

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