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    Antigo reduto chavista, Guarenas vibra em comício da oposição venezuelana

    SAMY ADGHIRNI
    ENVIADO ESPECIAL A GUARENAS (VENEZUELA)

    30/11/2015 02h00

    Na entrada de Guarenas, cidade pobre situada a uma hora de Caracas, uma faixa saúda os visitantes: "Aqui começou a revolução".

    A narrativa chavista descreve a cidade como berço da revolta contra a fome, conhecida como Caracazo, que resultou em 3.000 mortes em 1989 e pavimentou a ascensão do tenente-coronel Hugo Chávez.

    Este bastião histórico do chavismo, porém, tornou-se símbolo da autoconfiança movida a pesquisas favoráveis que eletriza a oposição às vésperas da eleição parlamentar do próximo domingo (6).

    Num ato impensável em votações anteriores, opositores fazem campanha até em Menca De Leonis, bairro onde surgiram os primeiros protestos do Caracazo.

    Neste domingo (29), Adriana D'Elia e Rafael Guzman, candidatos pela aliança opositora MUD (Mesa da Unidade Democrática) circulavam entre moradores do bairro.

    Os ânimos ficaram eufóricos quando Henrique Capriles, governador local (Estado Miranda) e ex-candidato à Presidência, apareceu para respaldar seus dois aliados. Ele jogou basquete com jovens, ouviu reclamações e posou para fotos.

    Nas varandas e janelas de prédios na volta, alguns simpatizantes chavistas penduraram camisetas vermelhas em sinal de rechaço à MUD.

    "Isso é nada comparado com anos atrás. Antes havia tantas bandeiras e camisetas chavistas que a fachada dos prédios ficava coberta de vermelho", diz o mecânico industrial Julian Perez, 48.

    A Folha ouviu de vários moradores o relato de que o candidato chavista Potro Alvarez, ex-astro do beisebol, foi recebido com panelaço ao fazer campanha no mesmo bairro dias atrás.

    O músico Roger Herrera, 38, afirma que a oposição perdeu o medo de se manifestar na zona associada a triunfos eleitorais do chavismo. "Como o governo se dizia maioria, a intimidação funcionava para nos silenciar. Mas hoje a maioria somos nós."

    Como a maioria dos presentes, Herrera culpa o governo pelo cenário de inflação de três dígitos, desabastecimento generalizado e violência onipresente. Autoridades afirmam que a crise é fomentada por empresários golpistas.

    VIOLÊNCIA

    Os seguranças de Capriles e dos candidatos acompanham com ar tenso, já que candidatos opositores vêm sendo hostilizados em ações atribuídas a simpatizantes governistas.

    No ato mais extremo desta campanha, um dirigente do partido opositor Ação Democrática foi morto a tiros num comício. O Brasil se juntou às condenações e exigiu que o governo tome providências para evitar mais violência.

    A oposição também penetra redutos chavistas dentro de Caracas, como a favela de El Valle. Neste sábado (28), às margens de um comício governista no local, a auxiliar de laboratório Yesenia Lara, 25, resmungava que nunca mais votaria pelo chavismo.

    "A escola pública onde meus filhos estudam é péssima, não há remédios nos hospitais e o dinheiro não vale nada", afirmou, cercada por vizinhos de camiseta vermelha.

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