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    Novo terrorismo desafia Human Rights Watch, reconhece vice-diretor

    DANIEL MÉDICI
    DE SÃO PAULO

    02/12/2015 17h10

    Eduardo Knapp/Folhapress
    Sao Paulo, SP, Brasil, 30-11-2015 15h27Entrevista exclusiva para a FOLHA com Iain Levine (Vice Diretor Executivo da Human Rights Watch) na galeria Zipper, nos Jardins, que tera exposicao do fotografo e documentarista Gabriel Chaim, com imagens do conflito na Siria e regiao. Ao fundo, foto de Chaim de crianca curda na cidade de Kobane/Siira. Levine tb fala sobre imagens da exposicao. (Foto Eduardo Knapp/Folhapress.MUNDO). Cod do Fotografo: 0716
    Iain Levine concede entrevista em frente a fotografia de Gabriel Chaim tirada em Kobani

    Como vice-diretor-executivo da Human Right Watch, o inglês Ian Levine, 55, reconhece que a atuação da facção radical Estado Islâmico (EI) é um novo desafio em sua carreira.

    Integrante desde 2003 da ONG, que trabalha para divulgar violações de direitos humanos que governos tentam esconder, o ativista se ressente da milícia radical não apenas divulgar ela mesma suas próprias violações, como se orgulhar destas e usá-las como propaganda.

    Ele acredita que, apesar de não ser uma tática nova, o terrorismo tem usado a internet para se beneficiar dela.

    "Hoje em dia, com as mídias sociais e a tecnologia, parece haver muitos grupos e elementos que não se preocupam com valores humanitários nem com a opinião pública", afirma.

    "É uma preocupação séria, mas para nós é muitíssimo importante não abandonar esses valores."

    Levine conversou com a Folha em passagem pelo Brasil, onde esteve para participar da abertura da exposição "Filhos da Guerra: O Custo Humanitário de um Conflito Ignorado", do fotógrafo Gabriel Chaim. A mostra tem o apoio da Human Rights Watch.

    Eduardo Knapp - 30.nov.2015/Folhapress
    Sao Paulo, SP, Brasil, 30-11-2015 15h26:Entrevista exclusiva para a FOLHA com Iain Levine (Vice Diretor Executivo da Human Rights Watch) na galeria Zipper, nos Jardins, que tera exposicao do fotografo e documentarista Gabriel Chaim, com imagens do conflito na Siria, Kobane, Iraque e regioes. Detalhe das maos de Levine aponta documentos durante entrevista(Foto Eduardo Knapp/Folhapress.MUNDO). Cod do Fotografo: 0716
    Levine mostra documento da Human Rights Watch sobre recepção de refugiados

    "Por exemplo, veja aqui essas fotografias de Aleppo", diz Levine, apontando para as imagens que mostram ruas residenciais inteiras em escombros. "Uma das estratégias do [ditador sírio, Bashar al-]Assad é fazer a vida nos lugares conquistados pelos rebeldes tão miserável quanto possível", afirma, ao comentar os bombardeios do ditador sírio contra sua própria população.

    "Nós as fizemos para mostrar a destruição empreendida pelo governo do Assad. Sabemos que o presidente Assad não se preocupa conosco, mas estamos tentando pressionar o governo da Rússia, que lhe dá apoio", afirma, em português, idioma que aprendeu nos anos de serviço humanitáro em Moçambique e com a mulher, cuja família é brasileira.

    REFÚGIO

    Levine tem um motivo pessoal para acompanhar com atenção o conflito no Oriente Médio e a crise de refugiados na Europa, decorrente desta.

    Seu avô, judeu originário da Lituânia, foi um refugiado que se mudou para o Reino Unido no fim do século 19, fugindo dos pogroms que assolavam a região. A série de manifestações xenofóbicas de governos da União Europeia são um motivo de preocupação.

    "Quando ouço alguma propaganda contra os refugiados sírios e de outros países, eu penso no meu próprio avô, que enfrentou hostilidade semelhante", afirma.

    "O primeiro-ministro da Hungria diz que a Europa é uma região cristã e que não quer muçulmanos. Há líderes que usam palavras como 'hordas' para se referir aos estrangeiros, que são muito pejorativas, e isso cria uma reação na população".

    Para Levine, o temor de xenofobia e do fechamento de fronteiras aumentou desde os atentados em Paris em 13 de novembro —segundo as autoridades, dois terroristas entraram na Europa como refugiados.

    "Ninguém está dizendo que não haja ameaças à segurança, mas o que insistimos é que a segurança da população não implica em restrições para os direitos humanos."

    Eduardo Knapp - 30.nov.2015/Folhapress
    Sao Paulo, SP, Brasil, 30-11-2015 15h05Entrevista exclusiva para a FOLHA com Iain Levine (Vice Diretor Executivo da Human Rights Watch) na galeria Zipper, nos Jardins, que tera exposicao do fotografo e documentarista Gabriel Chaim, com imagens do conflito na Siria, Kobane e regiao. Levine tb comenta sobre imagens da exposicao intitulada; Filhos da Guerra: O Custo Humanitario de um Conflito Ignorado (Foto Eduardo Knapp/Folhapress.MUNDO). Cod do Fotografo: 0716
    Vice-diretor-executivo aponta fotos de Gabriel Chaim na galeria Zipper, em São Paulo

    Para que segurança e direitos humanos convivam, Levine defende uma reformulação de políticas do bloco europeu, em especial a regra que exige que solicitantes de asilo deem entrada ao pedido em nos países de ingresso na zona de livre circulação.

    "A maior parte dos refugiados entram pela Grécia ou pela Itália. É claro que esses países não têm condição de processar a entrada de 800 mil pessoas por ano", diz. "O sistema de asilo dentro da Europa não funciona e tem que ser revisto."

    BRASIL

    Para Levine, a solução da crise de refugiados deve recair não apenas sobre a Europa, mas deve ser assumida como um problema global —e envolver tantos países árabes quanto EUA, Austrália e Brasil.

    "Sabemos que o Brasil tem problemas econômicos neste momento, mas achamos que o país é capaz de dar abrigo para populações que estão fugindo de guerra. Até agora o país recebeu 2.100 refugiados sírios, o que é muito bom, e louvamos o governo por ter permitido isso."

    A relação de Levine com o Brasil fica mais clara quando ele comenta, em tom de desânimo, a conversa que teve com o diplomata Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da Comissão Independente Internacional de Investigação sobre a Síria.

    "Me encontrei com ele em Nova York e nós lamentamos juntos as dificuldades de influenciar todos os grupos combatentes na Síria", disse. "Mas temos que continuar, temos que insistir."

    "Temos que pensar a longo prazo", complementa. "Sou maratonista, penso a longo prazo, sei que direitos humanos não são 100 metros rasos."

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