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    Para chavistas fiéis, crise econômica na Venezuela é campanha da oposição

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    03/12/2015 02h00

    Na manhã de sábado, 28, centenas de venezuelanos lotaram uma praça no centro de Caracas para uma feira de produtos a preço regulado anunciada pela mídia oficial.

    Ao chegarem, nenhum sinal do mercadinho estatal.

    Miguel Gutiérrez/Efe
    Cartaz de militantes chavistas coloca opositores como vendedores do país aos EUA em Caracas
    Cartaz de militantes chavistas coloca opositores como vendedores do país aos EUA em Caracas

    Uns se irritaram com o governo de Nicolás Maduro, a quem acusaram de ser incapaz de cumprir o prometido. Outros culparam a oposição por supostamente plantar a confusão e gerar raiva contra o chavismo às vésperas da eleição parlamentar, dia 6.

    "Opositores são um bando de malditos que querem nos impedir de comer", esbravejou Magali Losada, 59, ecoando a tese governista de que a crise econômica e o desabastecimento são orquestrados por empresários golpistas.

    "Sei como foi a Quarta República [governos que antecederam a eleição de Hugo Chávez, em 1998] e meu maior pavor é que esta gente volte."

    O Ministério da Alimentação admitiu, horas depois, que as feiras não chegaram a todos os lugares onde deveriam e prometeu novo mutirão nos próximos dias.

    Alheia a críticas, Losada é parte do núcleo duro de simpatizantes que continua a apoiar o chavismo, em contraste com o sentimento dominante de insatisfação.

    Todas as pesquisas de intenção de voto preveem maioria opositora no próximo Parlamento. Mas, repetindo padrão histórico, o chavismo ganha força conforme se aproxima o dia do voto.

    Levantamento do instituto Datanálisis divulgado nesta quarta (2) indicou contração abrupta da vantagem opositora: 55,6% dos entrevistados disseram que iriam votar na MUD (Mesa da Unidade Democrática), contra 36,8% a favor do governo. O Datanálisis colocava a MUD 35 pontos na frente no mês passado.

    A pesquisa também mostra que a popularidade de Maduro subiu de 21% em outubro para 32% em novembro. O salto é atribuído pelo instituto, em boa parte, à capacidade da campanha governista de reforçar o vínculo com Chávez, morto em 2013.

    A herança de Chávez surge como mantra em conversas com a parcela mais leal de simpatizantes.

    "Graças a meu comandante, tenho um bom emprego", diz Losada, que trabalha há quatro anos para o Instituto Nacional de Espaços Aquáticos. Paciente de câncer, se diz grata a Chávez por remédios e hospitais gratuitos.

    Margarita Rodríguez, 66, conseguiu emprego na estatal petroleira PDVSA e parece acreditar na ameaça, alardeada por uma mídia quase toda cooptada, de que a oposição acabaria com a ajuda aos mais necessitados.

    "A oposição quer ganhar a Assembleia Nacional para, aos poucos, ir retomando o governo. Se conseguirem, tenho certeza que me tirariam o emprego", diz Rodríguez, que também fora à feira.

    "Ninguém se importava com os idosos até Chávez. Ele nos deu pensões dignas e nos tratou com carinho".

    ANÚNCIO ENGANOSO

    A lealdade chavista era evidente em outro comício na favela El Valle, sul de Caracas.

    Propaganda do evento anunciava a inauguração de uma obra de canalização de esgoto. Mas o único ato foi um breve discurso do chefe da campanha chavista, Jorge Rodríguez, prometendo a inauguração "em breve".

    "O governo faz o que pode, temos que dar um desconto, já que ele está sendo sabotado pela 'guerra econômica'", disse a dona de casa Marlyse Garcia, 44, eufórica com seu boné e camiseta vermelhos.

    O entusiasmo dos mais fiéis, porém, não esconde o desgaste. Marchas e eventos governistas reúnem hoje uma fração de simpatizantes do que havia na época de Chávez, apesar da pressão, amplamente relatada à Folha por participantes, para que todos os servidores e funcionários de estatais se vistam de vermelho e participem.

    "Antes todo mundo aqui era chavista", diz Yesenia Lara, 25, moradora da favela El Valle. "Hoje a comunidade está rachada.

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