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    Venezuela elege parlamentares no maior teste à hegemonia do chavismo

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    06/12/2015 02h00 - Atualizado às 14h06

    A hegemonia que o chavismo mantém sobre as instituições do Estado venezuelano enfrenta neste domingo (6) a ameaça mais contundente em 16 anos no poder.

    O pleito para definir a composição da Assembleia Nacional unicameral é o primeiro confronto eleitoral em que o grande projeto de redistribuição da renda petroleira criado pelo tenente-coronel Hugo Chávez (1954-2013) chega sem ser favorito.

    Os 14,5 mil centros de votação foram abertos às 6h (08h30 de Brasília) para receber cerca de 19,5 milhões de eleitores. A votação está prevista para acabar às 18h (20h30 de Brasília). Segundo o reitor principal do Conselho Nacional Eleitoral, Luis Emilio Rondón, os resultados devem ser divulgados três horas após o fechamento da última mesa de votação.

    A crise econômica, social e política que inferniza o dia a dia dos venezuelanos minou a popularidade do governo e fortaleceu a oposição, reunida na aliança Mesa da Unidade Democrática, MUD.

    Mesmo sem proposta clara e dividida entre radicais e moderados, a MUD liderou com folga as pesquisas de intenção de voto. O instituto Datanálisis, um dos mais respeitados do país, chegou a ver a oposição mais de 30 pontos à frente, embora a margem tenha se reduzido muito nos últimos dias.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O favoritismo opositor é palpável. Mesmo em bairros caracterizados como bastiões chavistas, moradores criticam o presidente Nicolás Maduro e aliados declaram a intenção de votar na oposição.

    Algo impensável há alguns anos, a oposição fez campanha até no coração da 23 de Janeiro, mítica favela considerada o maior símbolo territorial do chavismo e onde o próprio Chávez votava quando presidente (1999-2013).

    "Minha família e eu sempre fomos chavistas, mas desta vez todos vamos votar na mãozinha", diz o mototaxista Alexis Delgado, 24, numa referência ao símbolo da MUD no cartão de voto.

    Como a maior parte dos venezuelanos, ele não acredita na tese do governo de que a inflação devastadora e o desabastecimento generalizado são fruto de uma suposta "guerra econômica" travada por empresários golpistas.

    A culpa, diz Delgado, é do governo, que ele acusa de ser corrupto e incompetente.

    Acanhados, simpatizantes chavistas parecem só se manifestar em ambientes onde se sintam cômodos, como comícios e mercados estatais.

    O favoritismo, porém, esbarra em três realidades.

    A primeira é a histórica tendência de crescimento do chavismo no fim das campanhas. A pesquisa mais recente do Datanálisis mostrou uma queda de 35 para 19 pontos na vantagem opositora e uma disparada de 11 pontos na popularidade de Maduro.

    "À medida em que o voto se aproxima, é natural que parte dos que se dizem insatisfeitos voltem a se inclinar para o chavismo", diz Luis Vidal, da consultoria More.

    A segunda é a vantagem do uso da máquina, dos recursos públicos e do domínio dos meios de comunicação.

    Nesta semana, Maduro inaugurou a casa popular de número 900 mil e prometeu raspar o bigode se não chegar a um milhão. O governo distribui milhares de tablets e centenas de táxis subsídios, além de aumentar pensões.

    O terceiro obstáculo ao favoritismo da MUD é o mapa eleitoral que infla a representatividade de áreas rurais e periféricas. No sistema venezuelano, quem obtém mais votos na eleição parlamentar não ganha necessariamente.

    Estudo do Centro para a Pesquisa Econômica e Política, nos EUA, calcula que o chavismo só precisa de pouco mais de 42% dos votos para conservar o domínio do Parlamento.

    INCÓGNITAS

    Muitos venezuelanos advertem que a reação dos protagonistas ao anúncio dos resultados, previsto para a noite de domingo, é tão importante quanto o voto em si.

    Maduro prometeu resistir com violência a eventual vitória dos adversários. Também especula-se que uma derrota governista poderia jogar luz sobre divisões internas que o chavismo conseguiu controlar até agora.

    A oposição, por sua vez, também tem histórico de reação violenta.

    "Ganharmos seria um desafio tão grande quanto a própria campanha", disse à Folha o ex-candidato à Presidência e governador do Estado de Miranda Henrique Capriles, da MUD. "Precisamos nos manter serenos e evitar provocações e revanchismo."

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