• Mundo

    Sunday, 05-May-2024 19:41:17 -03

    Macri exigiu aos gritos que sua posse fosse na Casa Rosada, diz Cristina

    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES

    06/12/2015 21h59 - Atualizado às 22h14

    A polêmica sobre a cerimônia de posse do presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, ganhou um novo capítulo neste domingo (6), com comentários da atual mandatária, Cristina Kirchner.

    Em 74 mensagens no microblog Twitter em uma hora, ela disse que Macri lhe telefonou aos gritos no sábado (5).

    "Devo confessar que fiquei surpresa com a exaltada, eufemismo de gritos, verborragia do presidente eleito [Macri]. Quando consegui que me deixasse falar [...] tive que lembrá-lo que, além de nossos cargos, que ele era um homem e eu, uma mulher, e que eu não merecia ser tratada daquela forma", escreveu Cristina.

    Eitan Abramovich - 25.nov.2015/AFP
    A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, acena para o público em pronunciamento em novembro
    A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, acena para o público em pronunciamento em novembro

    "Ele continuou gritando e dizendo que não é assim, que eu tenho que esperá-lo na Casa Rosada depois que ele faça o juramento e discurse no Congresso. Bem, aí eu pensei: 'Acabou o amor' e lhe lembrei de três coisas: primeiro, não sou sua acompanhante; segundo, 10 de dezembro não é seu aniversário, mas o dia em que assume como presidente de todos os argentinos; terceira, não penso em continuar tolerando em silêncio, como até agora, os maus tratos pessoais e públicos que me dá."

    Aniversário

    Macri emitiu um comunicado no sábado informando que sua posse será na Casa Rosada e que havia ligado para a presidente para informar-lhe sobre sua decisão. O eleito alega que quer receber a faixa e o bastão presidenciais na Casa Rosada, como ocorreu com os ex-presidentes Raúl Alfonsín (1983-89), Carlos Menem (1989-99) e Fernando de la Rúa (1999-2001).

    Néstor e Cristina Kirchner foram empossados no Congresso, ritual que os kirchneristas insistem em manter na posse de Macri. O impasse está atrasando a organização da cerimônia e confundindo delegações estrangeiras sobre onde será a transmissão de mandato. Até o momento, só foram distribuídos convites para o juramento, no Congresso.

    O governo diz que será servido um almoço na chancelaria, que fica no Palácio San Martín, já os macristas dizem que o presidente eleito receberá os chefes de Estado convidados na Casa Rosada.

    Em seus comentários nas redes sociais, Cristina afirma que a Constituição argentina informa que o presidente eleito recebe oficialmente o cargo no momento em que faz o juramento diante dos parlamentares.

    Neste momento, argumenta Cristina, ela pretende entregar os atributos para que o sucessor assuma a Presidência. Já Macri quer recuperar a tradição de posse que existia até a chegada do kirchnerismo ao poder.

    Macristas argumentam que a posse de Néstor Kirchner no Congresso, em 2003, ocorreu de maneira excepcional, pois o país vivia um período político conturbado.

    Cinco políticos passaram pela Presidência da Argentina no fim de 2001 e Eduardo Duhalde assumiu o governo após um acordo entre congressistas para superar o colapso econômico de então.

    Cristina manteve a cerimônia do marido, segundo os macristas, sem motivo evidente. Em seus comentários no Twitter, Cristina afirma que Macri teria se referido ao evento como "sua cerimônia" e contou que um de seus aliados, o deputado Federico Pinedo, teria dito que a cerimônia na Casa Rosada ajudaria a dar autoridade ao presidente eleito.

    "Imagem de autoridades? Mas se o acabam de elegê-lo com 51% dos votos... está bem, 49% não o votaram, mas a democracia é assim, se ganha ou se perde por um voto", escreveu Cristina, lembrando que o marido assumiu a presidência com 22% dos votos, após a desistência de Carlos Menem de concorrer no segundo turno.

    "A autoridade não se conquista em uma cerimônia de transmissão de mandato e muito menos gritando-se a uma mulher ao telefone", postou a presidente.

    PASSAGEM

    O bate-boca sugere que Cristina não deverá entregar a faixa a Macri, caso o eleito insista no evento na Casa Rosada. Em entrevista à apresentadora Mirtha Legrand, neste sábado (5) à noite, Macri disse que, em caso de ausência de Cristina, poderia receber a faixa e o bastão presidenciais das mãos do presidente da Suprema Corte, Ricardo Lorenzetti.

    Pelo Twitter, Cristina demonstrou desacordo. "Além do disposto na Constituição Nacional, o ato de transmissão de mandato, por simples compreensão de texto, exige a presença de duas pessoas: a que entrega o mandato e a que a recebe", escreveu ela. "Não se trata de uma cerimônia de ninguém em especial, mas sim de um ato institucional".

    A presidente disse ainda que tem pressa para terminar o evento, pois pretende voar no mesmo dia para Río Gallegos, capital da província de Santa Cruz, de onde vieram os kirchner e onde assumirá como governadora sua cunhada, Alicia Kirchner.

    "O voo regular das Aerolíneas Argentinas para Río Gallegos não vai me esperar", escreveu Cristina, fazendo referência ao fato de que deixará de usar o avião presidencial Tango 01. "Quero estar no juramento de Alicia Kirchner como governadora, já que ela atrasou sua posse para as 20h para eu pudesse participar."

    Cristina disse que, como "um gesto de cordialidade", tinha mandado plantar flores amarelas nos canteiros da residência oficial de Olivos. "Amarelo é a cor favorita do presidente eleito", disse Cristina, num comentário que soou um tanto sarcástico.

    Flores

    Macri usa o amarelo para identificar lixeiras, bicicletas, placas e outros investimentos de sua gestão na capital Buenos Aires, o que é criticado por seus opositores. Com o comentário, Cristina postou uma foto do canteiro de flores de Olivos.

    "Ficaram muito lindas e em algumas semanas vão parecer ainda melhores, quando floresçam com todo seu esplendor", escreveu a presidente.

    RESPOSTA

    Os comentários da presidente na rede social tiveram repercussão imediata. A vice-presidente de Macri, Gabriela Michetti, defendeu o político também pelo Twitter.

    "Dá pena ter que responder os tuítes da senhora presidente porque é triste que ela falte à verdade", escreveu Michetti. "Mauricio Macri não é um homem que falte ao respeito com ninguém. É uma pessoa muito educada, a quem nunca escutamos subir o tom de voz".

    A vice-presidente, que também é cadeirante, reafirmou que a cerimônia será na Casa Rosada e que se Cristina não aparecer, a faixa e o bastão presidenciais serão entregues pelo presidente da Suprema Corte.

    "É lamentável que tenhamos esse problema quando existem tantas coisas importantes com as quais temos que nos ocupar no país".

    Edição impressa
    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024