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    Juíza que condenou opositor à prisão será defensora-geral na Venezuela

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    10/12/2015 21h48

    Às vésperas de ceder lugar para a oposição, a Assembleia Nacional venezuelana chavista escolheu nesta quinta-feira (10) a juíza que condenou o opositor Leopoldo López a quase 14 anos de prisão como nova defensora-geral da República.

    A nomeação de Susana Barreiras para esta função, semelhante à do defensor-público-geral federal no Brasil, soa como desafio aos planos da oposição de votar uma lei de anistia para López e para dezenas de outros antichavistas tão logo assuma o plenário, em 5 de janeiro.

    Barreiras foi aprovada por unanimidade pela bancada governista, que possui maioria simples no Parlamento unicameral. A juíza ficará no cargo por sete anos.

    A oposição, que assumirá com maioria de dois terços graças à vitória arrasadora na eleição de domingo, votou contra a nomeação.

    Miguel Gutierrez/Efe
    CAR102. CARACAS (VENEZUELA), 10/12/2015.- Un grupo de seguidores del gobierno nacional muestra pancartas en las inmediaciones de la Asamblea Nacional (AN) hoy, jueves 10 de diciembre de 2015, en Caracas (Venezuela). El presidente de la AN, Diosdado Cabello, reelegido diputado para el próximo período legislativo, que tendrá mayoría opositora a partir del 5 de enero, aseguró en la sesión parlamentaria convocada hoy que la mayoría oficialista, que aún domina el Parlamento venezolano, no caerá en "chantaje" y aprobaran las leyes "que sean necesarias" para "proteger" al pueblo. EFE/MIGUEL GUTIERREZ ORG XMIT: CAR102
    Manifestantes fazem ato em apoio ao governo de Nicolás Maduro em frente à Assembleia

    "Isto é uma ofensa. Esta doutora é profundamente questionada em matéria ética e moral", disse o deputado Hermes Garcia, numa referência às irregularidades no processo contra López.

    Um dos principais promotores do caso fugiu para os EUA em outubro e disse que López foi sentenciado com provas forjadas e que a acusação de incitação à violência nos protestos de 2014 teve motivação política.

    A escolha de Barreiros, dificilmente reversível, é mais um elemento na rota de colisão entre as agendas opositora e governista que estremece um Estado até então sob hegemonia chavista.

    Para libertar López e outros presos, a oposição só precisa de uma lei comum, aprovável por maioria simples, como diz a Constituição.

    VETO À LEI DE ANISTIA

    Mas a lei aprovada poderá ser vetada pelo presidente Nicolás Maduro, que já deixou claro que esta é a sua intenção.

    Maduro pode alegar que López e os demais cometeram crimes contra a humanidade e que não podem ser anistiados. Falta, porém, consenso sobre o que define os crimes.

    A Corte Penal Internacional, por exemplo, fala em "ataque generalizado e sistemático contra uma população civil".

    Em caso de veto presidencial, o projeto voltaria ao Parlamento, onde poderia ser ajustado e reenviado a Maduro, que seria obrigado a sancioná-lo.

    Ou seja, a lei prevê, em tese, um mecanismo que permite ao Legislativo se sobrepor ao presidente.

    Restaria, no entanto, uma outra carta na manga do governo: submeter a lei ao Tribunal Superior de Justiça (TSJ) sob pretexto de inconstitucionalidade.

    Embora o TSJ já esteja sob domínio chavista, o governo manobra há meses para reforçar seu controle sobre o órgão. A aposentadoria de 12 dos 32 magistrados da corte foi antecipada sem uma justificativa clara, abrindo caminho para a nomeação dos substitutos.

    O governo insiste em que a troca é parte das atribuições da atual legislatura e diz que não cairá "na chantagem".

    Juristas opositores, porém, falam em "fraude constitucional", já que as aposentadorias antecipadas e o processo seletivo para as substituições ocorre de forma arbitrária e sem condições de respeito aos prazos legais.

    A oposição poderá usar a prerrogativa, garantida pela "supermaioria", de destituir magistrados do STJ.

    "Há tantos vícios de forma que a oposição alegará nulidade absoluta", disse à Folha o jurista Gerardo Fernández.

    Maduro prometeu resistir à agenda opositora "do jeito que for."

    HUMAN RIGHTS WATCH

    Em Washington (EUA), a ONG Human Rights Watch (HRW) emitiu nota em que diz que os presidentes latino-americanos deveriam exigir que os deputados que estão deixando os mandatos na Venezuela "renunciem à intenção de sufocar o Tribunal Supremo de Justiça" para beneficiar o governo de Nicolás Maduro.

    "A Venezuela pode começar a reverter mais de uma década de autoritarismo restabelecendo a independência do Tribunal Supremo", afirmou José Miguel Vivanco, diretor executivo para as Américas da HRW.

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