• Mundo

    Wednesday, 24-Apr-2024 18:12:04 -03

    Israelenses reagem com irritação a veto do Brasil a novo embaixador

    DANIELA KRESCH
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE TEL AVIV

    19/12/2015 02h38

    Diplomatas e políticos israelenses reagiram com irritação nesta sexta-feira (18) às indicações, publicadas pela Folha e pelo site Times of Israel, de que o governo brasileiro não tem intenção de aceitar a nomeação do embaixador designado por Israel.

    O indicado, o argentino naturalizado israelense Dani Dayan, é ex-líder do Conselho Yesha, que representa 500 mil colonos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.

    Um diplomata israelense acusou o Brasil de boicotar Israel, afirmando ao canal 2 da TV local que se trata de atitude "horrenda".

    Há temor de que o impasse abra um precedente e que outros países se recusem a receber diplomatas israelenses que morem em colônias.

    À Folha um dos principais envolvidos na nomeação, que pediu para não ser identificado, disse que Israel não vai abrir mão da indicação, mesmo que o posto fique vago por muito tempo. "Israel vai insistir. Se o impasse continuar, não haverá embaixador em Brasília", disse.

    Rina Castelnuovo - 24.mai.2012/"The New York Times"
    Dani Dayan, the head of Israel's settler movement, visits the Eli Jewish settlement in the West Bank, May 24, 2012. Dayan has devoted the past five years to expanding the Jewish presence in those and other disputed historic places across the West Bank as chairman of the Yesha Council. (Rina Castelnuovo/The New York Times) ORG XMIT: XNYT94 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Dani Dayan, indicado por Israel para ser o novo embaixador no Brasil

    "Netanyahu e líderes do Ministério do Exterior terão que intervir no assunto e enviar mensagens claras ao governo do Brasil."

    A nomeação foi em agosto, e a Chancelaria israelense iria esperar só até o fim deste mês para pedir esclarecimento formal de Brasília.

    Dayan foi indicado pessoalmente pelo premiê israelense, Binyamin Netanyahu (que acumula o Ministério do Exterior). Mas, até agora, não recebeu o "agrément" (aceitação oficial) do Itamaraty.

    O embaixador anterior, o druso-israelense Reda Mansour, voltou a Israel na quinta-feira (17). Ficou no Brasil um ano e três meses, abrindo mão do cargo a pedido de sua mulher, que não se acostumou com Brasília.

    'FUGA' DE DILMA

    Para a mídia israelense, o impasse está levando Israel e Brasil a uma crise diplomática sem precedentes.

    Há duas semanas, Netanyahu confidenciou a um grupo de parlamentares brasileiros em visita a Israel que a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, "fugiu" dele durante a conferência da ONU sobre o clima (COP21), em Paris, para não falar no assunto.

    Segundo presentes ao encontro relataram à Folha, Netanyahu disse ter conversado com líderes árabes e com os presidentes François Hollande (França), Barack Obama (EUA) e Vladimir Putin (Rússia) –mas não com Dilma.

    A rejeição da nomeação seria uma mensagem de que o Brasil não aceita um colono israelense atuando como embaixador no país, sob perigo de parecer dar algum tipo de aval aos assentamentos.

    Fora isso, o Brasil ficou irritado com o fato de que a nomeação de Dayan foi anunciada primeiro por meio do Twitter de Netanyahu, e não diretamente ao Itamaraty.

    PLANO B

    Nos bastidores da diplomacia israelense, há quem já comece a pensar em opções para o caso de Dani Dayan não receber o "agrément".

    Uma alternativa seria indicar Dayan à embaixada em Buenos Aires e sugerir para o cargo em Brasília o indicado para a capital argentina, o brasileiro Ilan Sztulman.

    Outros acreditam que Israel precisa esperar o resultado de processos políticos no Brasil, como o eventual impeachment da presidente.

    A crise diplomática também está no radar de empresários que promovem negócios entre os dois países.

    "Duvido que a questão influencie no comércio", diz Roy Rosenblatt-Nir, presidente da Câmara Israel-Brasil. "Mas pode haver problema com os contatos de segurança entre os dois países."

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024