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    Disputa pelo Poder Legislativo na Venezuela expõe divisão da oposição

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    21/12/2015 02h00

    Duas semanas após a esmagadora vitória na eleição parlamentar, a oposição da Venezuela ainda não alcançou acordo sobre quem assumirá a presidência da Assembleia Nacional na legislatura que assume em 5 de janeiro para um mandato de cinco anos.

    A escolha era prevista para os dias seguintes ao triunfo, mas vem sendo postergada devido a tensas divergências na Mesa da Unidade Democrática (MUD), a coalizão opositora que, muitas vezes, não faz jus à união do nome.

    Fontes envolvidas nas discussões esperam definir até terça o nome de quem poderá ser incumbido de conduzir um processo para tentar encurtar, pela via constitucional, o mandato do impopular presidente Nicolás Maduro.

    Até agora, porém, o único consenso é sobre a rotatividade do cargo –um presidente por ano. O favorito para começar o rodízio é o deputado Julio Borges, cacique do Primeiro Justiça (PJ), partido de centro-esquerda liderado pelo governador do Estado de Miranda e ex-candidato à Presidência Henrique Capriles.

    O PJ obteve o maior número de cadeiras (33 das 112 arrematadas pela MUD) e, por isso, acha natural ser contemplado com a presidência.

    Oposição na Venezuela

    O partido também alega que a magnitude da vitória e a alta participação (74%) consagram a estratégia de Capriles, contrário aos protestos de rua.

    "Ganhou a política que propusemos", afirmou ao jornal "El Pais", numa alfinetada aos partidários das manifestações de 2014, nas quais morreram 43 pessoas.

    O maior rival de Borges na disputa é Henry Ramos Allup, líder da Ação Democrática (AD). Atuante na política desde os anos 1980, é visto pelo PJ como símbolo do passado. "Ramos Allup não pode ser o rosto da renovação que prometemos", diz uma fonte ligada a Borges e Capriles.

    Em resposta, Ramos Allup disse que Capriles se preocupa com a "própria campanha", alusão à pretensão declarada do governador de disputar de novo a Presidência.

    Ramos Allup agradou a muitos opositores ao celebrar a vitória opositora com retórica inflamada antichavista. Tem apoio da sigla direitista Vontade Popular (VP) cujo líder, Leopoldo López, está preso sob acusação de ter instigado as manifestações de 2014. O VP, porém, se diz fora da disputa por enquanto.

    "Em algum momento teremos a presidência da Assembleia, mas hoje nossa prioridade é obter alguma das comissões mais importantes, como a de Energia", diz Freddy Guevara, deputado do VP.

    Correm por fora da briga pela presidência Enrique Márquez e Delsa Solórzano, menos conhecidos, mas cujo partido, Um Novo Tempo, obteve expressivas 21 cadeiras.

    AGENDAS DESTOANTES

    Partidos da MUD também travam conflito de agendas.

    Enquanto Capriles considera contraproducente iniciar a nova legislatura com declarações de guerra, Ramos Allup exige a renúncia de Maduro. Em declarações ao "El Nacional" feitas desde a prisão, López disse que a prioridade da oposição deve ser a rápida interrupção da Presidência de Maduro.

    Para isso, uma possibilidade é convocar um referendo revogatório, algo que se torna possível em março, quando se encerra a primeira metade do mandato presidencial iniciado em 2013.

    A MUD também pode abreviar a Presidência por emenda constitucional submetida a referendo popular.

    No plano econômico, o PJ defende posições mais sensíveis às preocupações dos pobres, enquanto o VP tem discurso mais pró-mercado.

    Para o analista Oswaldo Ramirez, a MUD está na "maior encruzilhada de sua história".

    A coalizão, diz ele, precisa assegurar que a "exitosa aliança eleitoral se consolide como aliança política para fazer frente a um governo muito agressivo."

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