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    Belém espera redução de 20% dos turistas no Natal

    DANIELA KRESCH
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BELÉM (CISJORDÂNIA)

    24/12/2015 02h00

    A movimentação é grande na praça da Manjedoura, iluminada por uma árvore de Natal de 15 metros de altura. Mas, entre os transeuntes, são poucos os turistas à vista no local e na Igreja da Natividade às vésperas do 25 de dezembro em Belém, cidade onde, segundo a tradição cristã, Jesus nasceu.

    Guias turísticos, comerciantes, jornalistas e grupos de jovens palestinos locais são mais visíveis, corroborando o temor da prefeitura de que, neste ano, o Natal será menos festivo.

    A expectativa é de queda da ordem de 20% em relação a dezembro de 2014 na visitação de peregrinos cristãos.

    Daniela Kresch/Folhapress
    NATAL EM BELEM 2015 - Arvore de Natal na Praca da Manjedoura, em Belem, na Cisjordânia. Foto: Daniela Kresch/Folhapress ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Árvore de Natal na praça da Manjedoura, em Belém

    Se, ano passado, visitaram a cidade cerca de 80 mil pessoas no último mês do ano, em 2015 o número deve ficar em torno de 65 mil, o que significa menos estadias em hotéis, refeições e suvenires vendidos na cidade que vive do turismo religioso.

    Para a prefeita, Vera Baboun, os peregrinos foram afugentados pelo mais recente ciclo de violência entre israelenses e palestinos.

    "Quase não vemos turistas. Belém está vazia. A ocupação dos hotéis na noite de 24 de dezembro, nossa noite mais forte do ano, não vai superar os 40%", diz Baboun.

    ALERTA

    Entre janeiro e novembro, 798 mil turistas visitaram Belém, cerca de 20% a menos do que o mesmo período de 2014 (1 milhão).

    No começo de dezembro, os EUA divulgaram um alerta para que visitantes a Israel e aos territórios palestinos tenham cuidado, reflexo do pânico causado pelos ataques terroristas em Paris e pela queda do avião russo no Egito, possivelmente abatido por uma bomba da facção terrorista Estado Islâmico.

    A onda de violência, que nesta quarta deixou mais quatro mortos —dois israelenses e dois palestinos que cometiam agressões— começou em 13 de setembro.

    Desde então, 24 pessoas morreram e 250 ficaram feridas em cerca de 150 ataques palestinos com facas, armas de fogo e atropelamentos em Israel e na Cisjordânia.

    Do lado palestino, 119 pessoas morreram, 77 delas enquanto cometiam ataques a israelenses. Cerca de 3.000 palestinos ficaram feridos.

    Abalada, a prefeita decidiu diminuir o tom das comemorações natalinas deste ano.

    As ruas estão menos enfeitadas. Não houve apresentações musicais diárias e nem show de fogos de artifício.

    "Como podemos demonstrar alegria quando somamos tantos mártires, muitos deles crianças? Vivemos num estado de anomalia que o mundo todo encara como normal", diz Baboun.

    A cristã palestina Mariam Qassis, 23, que trabalha em uma agência de turismo em Belém, percebeu a queda na visitação de peregrinos. Muitos grupos foram cancelados. Às vezes, eu desligo a televisão para não ver o noticiário sobre mortos e feridos."

    Para enfatizar o clima de comoção, um grupo de palestinos decidiu erigir uma "Árvore de Natal da Resistência" na praça da Manjedoura: uma oliveira com garrafas de gás lacrimogêneo usadas por soldados israelenses ao reprimir protestos e fotos de palestinos mortos ou detidos.

    "Espiritualmente, o Natal é sempre o mesmo. Mas, politicamente, a situação está horrível. Não estamos comemorando muito porque muitos palestinos morreram. Temos que compartilhar não só a alegria, mas também a tristeza", diz a comerciante Mary Giacaman, 52, dona de uma das maiores lojas de souvenir de Belém.

    Alheio à tensão, o turista nigeriano Elijah Idemudia, 37, não sente medo. Acompanhado por conterrâneos, ele se sente seguro em Belém. "Não percebi violência. Está tudo normal, tudo ótimo. É um privilégio estar aqui."

    A situação é mais dramática porque em 2014 o conflito de 50 dias entre Israel e o grupo radical islâmico Hamas já reduzira a visitação em dezembro em 17%. Mas é melhor do que em 2002, no auge da Segunda Intifada (levante palestino contra Israel), quando o número de visitantes foi tão baixo que nem foi registrado por estatísticas.

    A situação começou a melhorar em 2009 e, em 2013, 115 mil turistas visitaram Belém em dezembro, um recorde.

    Dos 35 mil habitantes da cidade, 78% são muçulmanos e 22%, cristãos.

    O desemprego é de 27%.

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